ENTREVISTAS
Holger
São Paulo Underground
· 11 Fev 2009 · 20:44 ·
São mais uma das bandas a sair de São Paulo nos últimos tempos. Chamam-se Holger e são uma espécie de supergrupo formado por membros de outras experiências, de outras aventuras. Uma metamorfose. A folk (de forma mais intermitente) e a pop estão no centro das atenções dos Holger, é daí que partem e é daí que retiram inspiração para as suas canções. Continua a ser tudo espontâneo, como no inicio, como com as experiências com That’s All Folks. Hoje as influências são bandas como os I'm from Barcelona, os Pavement e os Broken Social Scene mas amanhã até já podem ser outras. Holger é uma entidade em constante evolução que começa agora a mostrar mais seriamente os seus dentes em São Paulo e no Brasil. A conversa com Pedro Longhi permite vislumbrar melhor a génese desta nova existência no panorama musical independente do Brasil.
Os Holger nasceram a partir de um projecto musical chamado That's All Folks, um colectivo com influências folk, country, indiepop e neofolk. O que é que nos podem contar acerca da forma de funcionamento desse projecto?

O That’s All Folks era, na verdade, um encontro de amigos para tocar e beber vinho. Eram pequenas celebrações em que ligávamos um microfone num Laptop e gravávamos músicas espontâneas. Tudo era feito na hora, o instrumental, as letras, tudo. Alguém pegava o violão e começava a tocar, outro pegava a melódica e acompanhava, alguém começava a cantar e outro acompanhava nas palmas. Claro que o vinho ajudava a nos fazer crer que as músicas estavam acontecendo e passávamos a madrugada compondo. Confesso que gosto muito de algumas faixas que fizemos com That’s All Folks, mas na verdade fazíamos pelo puro prazer de estar entre os melhores amigos e tocar.

E depois veio a ideia de transformar esse projecto numa banda verdadeira. Com que objectivo partiram para a formação dos Holger?

Aconteceu quase que sem querer. Foi um passo natural, despretensioso. Acho que todos tínhamos vontade de investir numa banda nova, já que as nossas da época estavam estagnadas, quando alguém teve a ideia de transformar algumas das melhores músicas dos That’s All Folks em banda. E lá fomos nós.

Depois as influências tornaram-se outras. Apontam directamente o tweepop dos I'm from Barcelona, o rock alternativo do Pavement e o indie rock dos Broken Social Scene. Trabalharam desde sempre com ideias muito definidas daquilo que queriam que os Holger fossem em termos estilísticos?


Na verdade não. Não temos uma definição para o som da banda. Todos no Holger são amantes da música e procuram ouvir de tudo. Essas influências citadas sempre estiveram presentes, até na fase dos That’s All Folks. Todos nós temos vontade de explorar diversos tipos de caminhos para as nossas composições e é isso que vamos fazer nos futuros trabalhos, explorar e diferenciar cada vez mais a nossa música.

Com esta nova formação deram nova roupagem a algumas das melhores faixas gravadas com o projecto That's All Folks, além de compor músicas inéditas. Foi fácil aproximarem-se do material antigo em termos de coerência estilística, tendo em conta a diferença de ambas as formações?

No começo nós até tentamos aproximar os dois projectos, mas com o tempo acabamos a seguir pelo lado contrário. Acabamos por desconstruir essas faixas. Acho que esse processo de desconstrução e o confirmação da guitarra no lugar da guitarra acústica foram os responsáveis pela sonoridade que assumimos e que está presente no nosso EP.

O que é que nos podem contar acerca do vosso EP de estreia? Quais foram as etapas principais deste lançamento?

Esse disco é uma compilação das músicas que compusemos ao longo de quase dois anos. Sempre tivemos vontade de gravar essas canções, tanto que antes do The Green Valley começar a ser feito nós gravamos uma demo com a maioria das faixas que estão no EP. Mas sempre quisemos gravar num estúdio que pudesse suprir nossas vontades a respeito de qualidade de gravação. Foi quando fomos convidados para gravar na Sala 222, estúdio de Sérgio Ugeda e Eduardo Ramos, que assinam a produção do The Green Valley. Na primeira reunião da banda com eles lá no estúdio ficou evidente que as ideias deles batiam com os nossos planos. A partir daí gravávamos num final de semana, em longas jornadas que começavam às duas da tarde e acabavam lá pelas três da manhã. Os dois produtores foram muito importantes para a sonoridade do disco, eles sabiam perfeitamente onde criticar e onde opinar. Depois das gravações veio a mixagem e pequenas discussões sobre como deveríamos polir o trabalho, coisas que acontecem sempre, já que todos no processo tinham esse EP como um filho. Para finalizar, mandamos o disco para o Alan Douches masterizar no West West Side Music, estúdio de renome de Nova Iorque. Ficamos muito felizes com o resultado final e estamos prestes a lançar o The Green Valley em vinil!

Esta é uma boa época na música independente brasileira para os Holger existirem? Que retrato fazem neste momento?

Eu diria que sim. É uma época muito melhor do que há alguns anos atrás, mas ainda falta muito para que a cena independente brasileira chegue a um ideal. A profissionalização deste mercado está no começo por aqui e ano após ano vem a crescer devagar. Hoje existem festivais em quase todos os estados do país, existem associações, colectivos, programas de TV e sites para apoio dessa cena, além do público que aos poucos se vai interessando por bandas desse circuito. Mas é preciso correr atrás, é preciso acabar com o pensamento de “artista” que existe por aqui, quem quer viver de glamour está na cena e na época errada!


Presumo que toquem em São Paulo com alguma frequência. E no resto do país. É fácil marcar uma digressão por outras partes do Brasil?

Uma boa oportunidade de tocar pelo país é o circuito de festivais independentes, mas dá para correr por fora também. Muitas bandas juntam-se para uma tournée, como num intercâmbio musical em que vais para a cidade da banda e depois trazes a banda para a tua. Fora das capitais ainda é bem difícil de marcar concertos, mas como disse anteriormente, se tu correres atrás consegues.

Parece que a maior parte das bandas independentes brasileiras nascem em São Paulo. No rio de Janeiro, por exemplo, não existem condições para o nascimento de projectos deste género?

A cena independente cresceu muito fora de São Paulo, temos excelentes bandas vindas de todos os estados brasileiros. Eu poderia apontar pelo menos duas bandas boas vindo de cada região. Acontece que muita banda decide mudar-se para São Paulo em busca de uma visibilidade maior, o que nem sempre funciona. Além disso, a grande maioria das bandas de fora da cidade querem muito tocar aqui, o que gera uma fama de que tudo na cena acontece em São Paulo, quando os maiores festivais independentes acontecem bem longe daqui. Só para exemplificar, já que citaste o Rio de Janeiro, tem uma banda de lá chamada Pelvs que é incrível.

O que é que querem neste momento que o futuro traga aos Holger? Ou preferem não fazer grandes planos?

Queremos continuar a levar a banda como ela é, um hobby entre melhores amigos. Temos as nossas vidas fora dos Holger, trabalho, faculdade, etc., e não queremos abandoná-las para a tal vida de “artista”, mas planos existem sempre. Em Março vamos para o South by Southwest, festival que acontece em Austin, Texas, e isso é o que tem dominado as nossas mentes. Queremos lançar músicas novas até o meio do ano, um EP ou um disco, ainda não sabemos, começamos a trabalhar em novas canções agora. Além disso, queremos tocar o máximo possível pelo Brasil, passando por todas as capitais e festivais. E espalhar o amor sempre!
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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