ENTREVISTAS
Last Days of April
Do Prince para a Suécia
· 25 Mai 2004 · 08:00 ·
Os suecos Last Days of April estiveram em Portugal no passado mês de Abril, para um concerto na Galeria Zé dos Bois (reportagem do concerto em aqui). O Bodyspace aproveitou a oportunidade para privar com Karl Larsson, o vocalista/guitarrista mentor do projecto, que na altura tinha acabado de chegar a Portugal.
Estão juntos há já 8 anos. Como é que evoluíram como banda? Tocavam todos em bandas diferentes antes?

Sim. Tocávamos, tocámos em muitas bandas diferentes, inventadas, inventávamos bandas todas as semanas e tocávamos todos os estilos possíveis.

Algum metal?

Sim, metal ou punk rock.

O metal sueco é muito...

Sim, mas não estávamos muito nisso, não era nada sério, tínhamos uma sala de ensaio livre nessa altura e andávamos por lá, porque crescemos numa cidade pequena e não havia mais nada para fazer, por isso só tocávamos e brincávamos e depois... sim... começámos os Last Days of April e continuámos.

A Suécia parece um bom sítio para as bandas existirem. Tens os Abba, os Ace Of Base, os Europe, bandas como essas... mas também tens os Refused (e os The (International) Noise Conspiracy), Randy, Logh e The Cardigans algures no meio, que se tornam algo grandes na cena underground... o vosso vídeo, acho que era o "All will break", passou várias vezes na TV Cabo aqui em Portugal...

A sério?

Sim. Como é a cena musical na Suécia, o que achas que faz com isto seja possível? Todas estas boas bandas existirem?

Não sei, perguntaram isso mesmo agora. É muito difícil dizer porque não somos treinados para ser bons músicos ou uma coisa assim. Só penso que muita gente está de qualquer forma ligada à música, há muitas bandas diferentes e por isso a competição torna-se mais renhida e toda a gente quer ter a melhor banda, por isso tens de ser bom.

Huh...também há muito garage rock, esta cena toda revivalista na Suécia. Consideram-se parte disso?

Não, sempre nos mantivémos um bocado fora daquilo que estava na moda na Suécia, nunca fizemos parte disso, não posso dizer que fazemos parte dessa cena do revivalismo do garage rock, a nossa música é música rock.

Sim, mas algumas pessoas põem-vos nessa cena, não sei porquê. A Suécia não parece ser um país muito solarengo...

Não... há sol, mas não é quente, é frio...

A vossa música parece solarenga às vezes...

Sim, o nosso novo álbum é muito solarengo.

Porque é que achas que isso acontece? É de propósito?

Gravámo-lo no Verão, isso pode ajudar, mas as canções foram escritas durante um período de tempo mais alargado, por isso não devia soar assim tão solarengo, mas algumas canções soam...

Vocês estavam na Bad Taste e depois mudaram-se para a Deep Elm para alguns discos...

Não, nós estivemos sempre na Bad Taste, mas depois a Deep Elm lançou as nossas coisas nos EUA, mas a Bad Taste sempre foi a nossa casa. E depois exportam para diferentes editoras por todo o mundo.

Mas houve um álbum que só foi lançado na Deep Elm.

Sim, foi lançado pela Deep Elm nos EUA e depois pela Bad Taste cá na Europa.

Como foi trabalhar com o Mathias Oldén [mal pronunciado] dos Logh? Não sei pronunciar o nome dele...

Sim, isso foi bom...

Eu vi-os ao vivo no ano passado e eles são mesmo bons, vocês são amigos deles?

Somos muito bons amigos, eu gosto da banda, gosto da música deles e também gosto deles como músicos, e por isso foi muito fixe. Tanto o Mathias Oldén como o Mathias Friberg trabalharam no disco e ajudaram muito.

Como é que lidam com o facto serem uma banda sueca que canta em inglês? São muito criticados?

Não... quase todas as bandas cantam em inglês, penso que há para aí uma ou duas que não, e são essas têm mais sucesso que as que cantam em inglês. Mas mesmo assim, as bandas com que cresceste cantam todas em inglês, por isso acabas por cantar em inglês.

Incomoda-te que chamem à tua música "emo", ou algo assim?

Não, não me chateia, porque eu não vejo a nossa banda como uma banda emo, porque também não sei o que essa palavra quer dizer. Mas não tenho problemas com isso, as pessoas podem chamar-lhe o que quiserem...

Como é que arranjaram o vosso nome?

Eu sempre fui um grande fã do Prince, gosto muito dele, e ele tem uma canção no disco de 199... 1986 Parade "Sometimes it snows in April". Queríamos algo que soasse como essa canção, e precisávamos dum nome, tínhamos um mau nome e íamos lançar o nosso primeiro 7", por isso mudámos de nome para Last Days of April.

No vosso site, o vosso novo disco é descrito como sendo muito diferente dos anteriores, que soavam mais crus... este é mais trabalhado.

Não acho que seja muito diferente, acho que é uma progressão natural, que é mais álbum do que... digamos... o Ascend to the Stars. Esse era mais uma colecção de canções e produções, e o If You Lose It é mais como um álbum. Queríamos fazer isso desta vez.

Quando olhas para trás, estás arrependido de alguma coisa que tenham feito nos discos anteriores?

Não, não estou arrependido de coisas, acho que algumas coisas não estão assim tão boas, mas não me arrependo...

Gravarias essas coisas de novo?

Não, não... quero dizer, as gravações são as canções agora, é como as canções estão, só estaria a perder tempo.

Como é que a banda funciona? Escreves as canções sozinho e depois levas aos outros para trabalhá-las com eles?

Sim, eu é que escrevo o material na banda, eu escrevo as canções, e depois levo-as ao baterista para ele fazer as baterias, é como funciona agora.

Mas ao vivo, são só dois?

Não, somos cinco, temos alguns amigos, hoje vamos ser cinco.

Como é que vai ser o concerto hoje à noite?

Vai ser excelente, tenho a certeza de que vai ser excelente [risos].

Tens definido o que vais tocar?

Sim, como não somos uma banda, e nem todos estão na banda desde que começou, só podemos ensaiar uma certa quantidade de canções, por isso temos umas treze canções...

Como é que desenvolveste a tua sensibilidade pop?

Não sei, ouvindo muita música... sim, tendo bom gosto [risos]...

Quem são os teus escritores de canções favoritos, os teus heróis?

Gosto do Evan Dando...

Dos Lemonheads...

Sim...e também gosto do J. Mascis dos Dinosaur Jr., acho que ele é o melhor guitarrista do mundo, gosto bastante das canções deles... também gosto de uma rapariga chamada Rebecca Gates, dos Spinanes...

Os Spinanes...sim, já ouvi falar...

Sim, eram da Sub Pop.

Pois, acho que foi por isso que ouvi falar deles...

Bem, já não existem, mas devias ouvi-los, são das minhas bandas preferidas...

Tu tocas muito ao vivo, preferes tocar ao vivo ou preferes estar em estúdio?

Gosto muito dos dois, o estúdio é sempre onde crias, e tens a oportunidade de decidir como é que as canções soam, por isso gosto muito do estúdio. Mas também é divertido estar em tournée, tocar em frente às pessoas que gostam disso, portanto são os dois iguais. Talvez seja mais divertido ainda andar na estrada.

Conhecer novos sítios...

Sim, sim... é a minha primeira vez em Portugal, por isso...

O que é que tens achado de Portugal até agora?

Ainda não vi muito... estou na cidade há três horas, mas do que vi gosto muito.

Já ouviste alguma música portuguesa?

Só um miúdo com um acordeão que estava a tocar na rua, e tinha um cão sentado nele, com uma caneca na boca.

Não ouviste mais nada?

Foi a única música portuguesa que ouvi...

Nunca ouviste nada na Suécia?

Não.

Nem fado?

Não.

Aqui ao pé, pelo Bairro Alto, podes ouvir muito fado... guitarra portuguesa, é um estilo de música muito triste e tal...

A sério? Oh, talvez vá ouvir...
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
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