ENTREVISTAS
Matt and Kim
Brooklyn, o Planeta
· 31 Mar 2008 · 08:00 ·
Como em tantas outras ocasiões na história da música (muitas com memorável sucesso), a celebração faz-se a dois. Faz-se em duo e com a mesma intensidade que noutras bandas com estruturas mais alargadas - ou maior. Matt and Kim. Simplesmente. É assim, desta forma auto-biográfica, que assina um duo formado por uma baterista e um teclista; por duas vozes que por vezes cantam em uníssono, em disco ou num qualquer palco - que até pode ser, estar ou existir no meio da plateia, de forma celebratória e integradora. São de Brooklyn e provavelmente - não, não é por aí - não poderiam ser de um qualquer outro local do mundo. Este é o caso de uma banda que respira o ar da cidade em que vive. Em entrevista directa e transparente, Matt e Kim explicam essas e outras questões essenciais para a sobrevivência deste projecto.
Como eram as vossas vidas antes da música? E depois?

Kim – Não acho que as nossas vidas sejam tão diferentes excepto pelo facto de não termos mais empregos diários. Ah, e viajamos muito!

Matt – Não sei do que é que a Kim está a falar; as nossas vidas são totalmente diferentes apenas pelos motives de que ela falou, não trabalhar mais das 9 às 5, sermos capazes de acordar e trabalhar em algo em que realmente acreditas. E passamos tanto tempo na estrada como em casa, por isso diria que é muito diferente.

Há quanto tempo estão a tocar juntos? Como é que nasceu o duo Matt and Kim?

Kim – Temos vindo a tocar nos últimos 2 anos e mio. Andávamos a trabalhar juntos em filmes e outros projectos artísticos e o Matt andava a escrever umas cenas fabulosas a solo mas não andava a fazer nada com elas. Apercebemo-nos que já que trabalhávamos tão bem juntos noutras coisas deveríamos tentar a música.

Matt – Eu provavelmente apenas comecei a tocar teclados porque encontrei um fabuloso na garagem do meu vizinho há muito tempo, e era tão cool que eu achei que teria de aprender a tocá-lo. E a Kim nunca tinha tocado bateria antes de Matt And Kim; ela sempre quis tocar e isto deu-lhe um motivo para o fazer.

Sei que gravaram primeiro uma demo com 5 canções e depois o vosso disco de estreia. Como é que foi para vocês gravar o disco?

Kim – Foi muito difícil fazer o albume homónimo porque estávamos num estúdio com tempo restrito. Sinto um pouco dos concertos em algumas canções. Basicamente tínhamos 10 dias para gravar tudo e misturar. Estávamos a gravar na costa oeste enquanto estávamos em digressão. Também tínhamos concertos para fazer de noite depois de gravarmos todo o dia. Foi muito complicado e acho que a partir de agora vamos fazer tudo por nós próprios.

Matt – Sim, eu diria o mesmo, tempo muito restrito e estamos a planear gravar o nosso próximo disco no nosso local de ensaios e no nosso apartamento como fizemos com a nossa demo… somos uma banda lo-fi, e passamos muito tempo em estúdio a fazer com que a gravação soe “mal” de certa forma… menos instrumentos isolados… não sei…

Os jornalistas na Europa têm a tendência a escrever artigos onde elogiam a imensa criatividade musical em Brooklyn. Qual é a vossa visão pessoal? Estes são bons tempos para viver em Brooklyn?

Matt – Há tantas bandas e tantos sítios onde tocar neste momento; sinto que se está a dar a hipótese a toda a gente. Mas também é complicado… tens de alugar um espaço para ensaiar por uma quantia grande de dinheiro… e tens de ter uma carrinha, o que pode ser complicado aqui (seguros caros, dificuldades em estacionar) mas parece que a maior parte das pessoas com quem ando estão em bandas e isso é muito inspirador.


É verdade que as bandas se ajudam umas às outras? É verdade que é muito fácil tocar em Brooklyn?

Kim – Estamos a apoiar-nos a nós mesmos. Existem muitos concertos a acontecer em Brooklyn. Todd P é um agente de concertos aqui e eu acho que ele ajudou muito a cena. Antes de ele se mudar para aqui não havia muitos concertos e agora podes ver um concerto quase todos os dias. www.toddpnyc.com é como podes descobrir acerca de concertos aqui.

Matt – Eu acho que na verdade é muito difícil apoiares-te a ti próprio aqui; tal como eu disse, pode ser muito caro estar numa banda aqui, e as rendas aqui são das mais caras dos Estados Unidos. A Kim e eu vivemos de forma barata, comemos feijões todas as noites e partilhamos um telemóvel e um quarto.

Na vossa opinião, quais são os segredos maiores da música em Brooklyn?

Kim - Japanther, Parts & Labor, Meneguar, The Deathset, Dynamite Arrows... apenas para dizer alguns.

Kim, disses-te recentemente numa entrevista que estavam a apagar o efeito D.I.Y. porque tinham arranjado um agente para concertos. Estão com medo de perder a inocência e a magia da coisa?

Kim – Pá, nós agora temos um agente de concertos e isso faz com que a minha vida seja muito mais fácil. Começava a ser demasiado. Eu estava a agendar concertos enquanto estava a dar concertos. Estamos com ele há alguns meses e ele é óptimo. Ele deixa-nos ainda marcar concertos em cidades onde temos contactos. Não acho que nos tenha afectado em nada, excepto fazer com que a minha vida seja mais calma. É verdade que ele nos convence a fazer coisas que provavelmente não faríamos antes... Como dar um concerto no Bowery Ballroom mas acho que é óptimo ter outra opinião e ponto de vista.

Matt – Ainda damos concertos em casas, ainda dormimos em sofas e na carrinha, ainda fazemos muitas das coisas que sempre fizemos.

Por aquilo que leio as pessoas dizem que vocês e a vossa música são muito felizes? Concordam com esta visão?

Kim – Nós somos felizes e escrevemos música que nós gostaríamos de ouvir. Não gosto de ouvir música lenta e depressiva.

Matt – Nós tentamos ser honestos… E eu espero que a maior parte das bandas também o sejam. E geralmente somos pessoas felizes, por isso a música que é feliz sai. Mas a maior parte das nossas não são sobre rainúnculos amarelos e gelados, a maior parte das nossas canções são sobre decidir o que fazer com a tua vida… mas de uma forma positiva.

Estão a apostar bastante em vídeos para as vossas canções. Quem é que têm envolvido nestes vídeos e como é que foi fazê-los?

Kim – Temos vídeos para a “5K” e para a “Yeah yea”. O vídeo para o “5K” foi dirigido pelo nosso amigo Colin e o vídeo para a “Yeah yea” foi dirigido pelo nosso amigo Nick e pelo Matt. Arranjamos a ideia para o vídeo da “Yeah yea” depois de darmos um concerto em Houston e os nossos fantásticos amigos bêbedos começaram a dar-nos pizza enquanto estávamos a tocar. Depois começaram a atirar-nos pizza. Tivemos de tentar fazer um esforço para continuar o espectáculo. Foram tempos fantásticos. Apercebemo-nos depois que precisávamos de um vídeo com uma luta de comida. Demoramos 3 minutos a gravar mas horas a limpar tudo. Foi tão nojento…

Matt – Não tínhamos orçamentos para fazer os vídeos mas aconteceram apenas porque tivemos amigos que foram suficientemente fantásticos para nos ajudar. Eu tenho um background de cinema e por isso envolvo-me muito em filmes e vídeo por isso queríamos fazer vídeos nem que fosse apenas pela diversão. Foi óptimo eles terem ido para a televisão.

Que tipo de música é que ouvem hoje em dia?

Kim – Ouvimos muito hip hop do top 40.

Matt – Sim, o ano quente de 97, e muito pop punk também, mas maioritariamente hip hop. Eu sinto que com o hip hop podes ser muito experimental mas ao mesmo tempo muito acessível. Como os Beatles eram nos anos 60.


Pelas fotografias que vi os vossos concertos são experiências muito físicas e intensas. Como os concertos dos Lightning Bolt. Como é que sentem os vossos próprios concertos?

Kim – Pá, ser comparado a um concerto de Lightning Bolt... Isso é muito bom. Gusto muito de estar a tocar e de ver pessoas totalmente doidas. Eu acho que quando gosto mesmo de uma banda é isso que faço. Também sinto que tocamos melhor quando as pessoas estão doidas. Mantém a nossa energia em cima.

Matt – Sim definitivamente quando o público está a gostar… Nós gostamos mais. Sinto que os nossos espectáculos neste momento são mesmo aquilo de que a banda se trata.

Por aquilo que sei vocês andam constantemente em digressão. Como é que é para vocês essa vida?

Kim – Gostamos muito de tocar ao vivo e a única forma de dar um concerto todos as noites é andar em digressão. Acho que é por isso que andamos tanto em digressão. Andar em digressão tem sido óptimo para nós. Temos tido espectáculos fabulosos pelos Estados Unidos fora. Eu nunca tinha viajado antes da banda e por isso, só por si, isso já é uma experiência.

Matt – Muitas pessoas dizem que é complicado e stressante, mas para a Kim e para mim é uma das poucas Alturas em que podemos relaxar… Quando estamos em casa estamos ocupados com todos o tipo de coisas mas quando estamos na estrada é apenas estarmos na carrinha e tentar chegar ao próximo local.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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