ENTREVISTAS
Kyp Malone
O homem e a barba
· 29 Jul 2007 · 08:00 ·
© Francisco Nogueira
Kyp Malone é um dos vocalistas e um dos guitarristas dos TV On The Radio. Não que haja muitos, mas há mais um vocalista e mais um guitarrista, sendo ele o único que concentra nele próprio ambas as tarefas. Esteve em Portugal para um concerto no Super Bock Super Rock e uma semana de férias, “sumo de lorange” (para ser lido com sotaque inglês) e passeios por Belém e pelo Adamastor, onde foi entrevistado pelo Bodyspace. Acabou por dar um concerto no Lounge numa quinta-feira muito movimentada.
Kyp Malone comprou uma guitarra portuguesa. Ia a passear pelo Chiado a ouvir Carlos Paredes, de quem comprou dois discos, com os seus headphones. "Vim a ouvir um disco dele para aqui e estava mesmo envolvido na música e era tão, tão bonita, estava a tentar ouvir e entrar naquilo e um gajo com uma puta de uma flautinha, um hippie qualquer, a pedir na rua, não parava de tocar e estragou aquilo. Apeteceu-me dar-lhe um murro na cara. Não dou murros na cara. Pareceu-me que ele estava lá todos os dias, mas se ele está lá assim há tanto tempo podia pelo menos gastar uma hora por dia a praticar aquilo."

O barbudo homem de 34 anos juntou-se aos TV On The Radio em 2003, depois do lançamento de Young Liars, o primeiro EP da banda de Brooklyn. Tal como Jim O’Rourke, que foi fã dos Sonic Youth durante décadas antes se juntar a eles (depois acabou por sair, mas mesmo assim), Malone diz que era fã da banda antes de se juntar a ela. “O Young Liars foi um disco quase perfeito e acho que descarrilei a banda, mas acho que estamos a voltar ao caminho certo que começou aí. Foi um disco óptimo, é estranho fazer parte de uma banda que fez um dos meus discos favoritos.” Várias mudanças ocorreram na banda desde que Malone entrou. Ganharam um baterista e um baixista novos. “Não soávamos muito bem sem bateria, tocámos concertos e não estava a funcionar. O Jaleel Bunton estava lá quando gravámos o Desperate Youth, Blood Thirsty Babes, estávamos a decidir se ele devia juntar-se a nós ou não.” Para além disto, ganharam também Gerard Smith, baixista, que não tocou no Super Bock Super Rock. “Só têm acontecido coisas boas desde que eles entraram, não sei como é que o novo disco vai ser, só espero que soe diferente dos outros três, e sei que irá soar.”

David Andrew Sitek, o único membro branco da banda, é o produtor dos discos. É ele a mente por detrás das camadas e camadas densas de sons que os TV On The Radio têm em disco, para além de tocar guitarra ao vivo. Não que seja o único responsável pelo som que eles têm, é apenas o catalizador de tudo. As canções são da autoria ou de Kyp Malone ou de Tunde Adebimpe, o outro vocalista, e são as vozes deles em combinação com as produções de Sitek que tornam tudo tão único. É por isso que, ao vivo, as canções soam diferente. “Seria por um lado aborrecido fazer tudo da mesma forma, e por outro não acho que sejamos músicos suficientemente bons para tocarmos como nos discos, mas principalmente é aborrecido. Numa situação de estúdio há tantas faixas disponíveis para gravar, nós usamo-las todas, mas fazer isso sempre ao vivo com apenas cinco pessoas é impossível”, diz Kyp. Em palco, “costumamos ser só cinco, mas se temos a chance de ter amigos a tocar metais, temos.” Para além disto, há uma colaboração regular com a Antibalas Afrobeat Orchestra: “Os Antibalas são óptimos, ajudaram-nos imenso musicalmente, dão tanto esforço e amor à música, acho que devíamos fazer qualquer coisa grande juntos, gravar algo com Antibalas e TV On The Radio, acho que o vamos fazer, não sei quando.”

Quanto à divisão entre os concertos a solo e os concertos com a banda, Malone diz: “Não preciso de preferir nenhum. Estou contente por ter ambos. Toco cada vez menos a solo por todo o lado. Estou contente por ter tido oportunidade de tocar, é mais desafiante tocar para estranhos, em Nova Iorque toco maioritariamente para amigos. Quantas vezes é que podes convidar gente para te ir ver? A maior motivação para gravar um disco é provavelmente ser capaz de ir em digressão e tocar em sítios diferentes.” O disco a solo está para breve. “Vou gravar o meu disco quando voltar a casa, mas não sei quando sairá. A burocracia à volta disso é estranha, gostava de lançá-lo noutra coisa que não a Interscope, provavelmente vou lançar online, mas ainda estou preso à idade da pedra, quero um produto. Não ouço música no computador, posso ouvir no IPod quando estou, mas gosto de ouvir discos. Sempre quis ter a minha música em suporte físico. Não gosto de ouvir música num telemóvel.”

É fácil, com a sua imensa barba e a música que faz, chamar-lhe “uma espécie de Bonnie ‘Prince’ Billy negro”, mas também faz algum sentido. Não que não tenha uma voz singular e instantaneamente reconhecível, é só que não há assim tanta gente sozinha em palco com uma guitarra que soe assim. Em cima do palco improvisado do Lounge, onde tocou a solo na noite anterior para uma quantidade impressionante de gente se se tiver em conta que o concerto foi marcado menos de 24 horas antes, Malone referiu-se aos lisboetas como fumadores inveterados que não param de fumar. Assegurou toda a gente de que o tempo do fumo em bares iria acabar, advertindo para aproveitarem bem. Na semana de férias que Malone passou em Lisboa, ficou doente devido ao fumo dos bares, o que não acontece em Nova Iorque. “Não consegui aguentar o fumo e afectou-me.” Quanto à proibição em Nova Iorque “há alguns bares que deixam de se importar a partir de certas horas, mas a maior parte deles não. Já dura há tanto tempo que as pessoas não o fazem, toda a gente aceita. Acho que daqui a uns anos, quando houver uma proibição dessas em Portugal, ninguém imaginará voltar ao que é hoje, será realmente bom quando chegares a casa e as tuas calças não cheirarem a vómito de cinzeiro.”

“É uma questão de saúde pública, faz sentido, ninguém nasce com um cigarro na boca. O dinheiro que se gasta em cuidados médicos para quem fuma, cancro e doenças do coração é incrível para algo que não tem de acontecer.” Quanto ao argumento de que também se ganha muito dinheiro com os impostos pagos pelas tabaqueiras, diz que “A escravidão também rendeu imenso. Como a venda de crack na América e heroína à volta do mundo. É uma justificação louca. E faz muito dinheiro, por isso é que deixam estar.” Esta conversa leva a uma conversa sobre as mentiras dos políticos e a forma como Ronald Reagan foi instrumental no aparecimento do crack nos guetos norte-americanos, bem como a maneira como a História é sempre apagada da memória colectiva. “Podemos falar de História de várias formas, podemos pô-la em canções e em filmes, podemos publicá-la em livros e artigos, mas depois não é suposto lembrarmo-nos de como tudo se passou porque há tanta mentira e tantos enganos. Portanto podemos dizer isto tudo, mas a ideia popular será sempre a de que os guetos são delinquentes e cheios de drogas porque os negros são naturalmente assim, por muito que mostremos a História verdadeira. É absurdo.”

“O Reagan ajudou na venda e no desenvolvimento do crack como uma arma política, para manter as pessoas sob controlo e para lhes tirar dinheiro e depois pegou no dinheiro e pô-lo em guerras secretas que não conseguia financiar de outra forma. É brilhante como um mau do James Bond.” Fala muito sobre isto, “percebo como a partir da natureza da preguiça humano a escravidão aconteceu, acho que é uma característica humano ser preguiçoso e não querer levantar pesos, mas quando isso é desmascarado e sabe-se que é corrupto, porque é que não param? Não param, continuam a usar as mesmas ideias que foram usadas como justificação originalmente. Racismo, agarram-se a isso. Obviamente que não é tudo uma decisão consciente, tem a ver com aprender comportamentos e atitudes. Não tento sempre pôr isto na música”, porque “é uma forma redutora de ver o mundo, há muito mais para experimentar e não quero que isto dite toda a minha experiência, mas vivendo na América, onde a raça é uma questão importante, não posso fingir que não penso nisso, por isso às vezes sai pela música.”

É estranho que, cinquenta anos passados desde o começo do rock’n’roll, exista uma banda como os TV On The Radio que é vista como anomalia: apenas um dos seus membros fixos é branco, ou seja, é uma banda de rock de negros. “O Jimi Hendrix era negro, o Howlin’ Wolf e o John Lee Hooker também. O Jerry Lee Lewis queria ser negro. Acredito que as pessoas são mais espertas que isso, ou quero acreditar. Mas nada está contextualizado com nenhuma ideia de história cultural.” Mais uma vez entra em jogo a memória curta do público. “Não é difícil voltar atrás. Não nasci no tempo em que o rock’n’roll estava a acontecer, mas havia máquinas e filmar e microfones a funcionar. Há provas por todo o lado de como aquilo aconteceu. Podemos ver as bandas britânicas a virarem-se para os blues, a começar a tocar temas que eram evidentemente populares no meio dos blues e tentarem soar como as pessoas que as tocavam. Não que haja mal nenhum nisso, de todo, eu adoro os Rolling Stones, acho que são uma banda magnífica.” Mas faz-lhe confusão que se tenha sequer de falar sobre ser um negro a fazer rock’n’roll.

© Francisco Nogueira

“O que é música rock? É um termo muito abrangente. Sinto que toco música. Sei que não estou a rappar, mas é mais porque sei que não consigo fazê-lo. Mas se conseguisse e achasse que entrava bem na canção e adicionasse algo a ela, rapparia.” Hoje em dia, Kyp Malone já não liga ao hip-hop. “Não há nada que me excite. Não estou a prestar muita atenção, por isso não digo que não há nenhum bom hip-hop por aí, só que já não quero saber. Quando era miúdo adorava-o. A primeira vez que ouvi os Run DMC, o LL Cool J ou o Kurtis Blow passei-me.” Estes dois primeiros nomes, pedras basilares da era em que a Def Jam, editora de Rick Rubin e Russell Simmons, era rainha do hip-hop, estão intrinsecamente associados à estética de produção de Rubin: batidas altas e guitarras distorcidas vindas do rock’n’roll. “Sim, havia muito rock neles. Mas adorava mesmo as coisas que não tinham, como o Doug E. Fresh ou o Schoolly D. Quando era novo costumava gravar em cassete o programa de hip-hop da estação de r&b de Pittsburgh, uma hora por semana passavam rap. Fazia compilações a partir disso, cortava tudo e partilhava com os miúdos na escola. Depois ia para casa da minha avó em Nova Jérsia e ela apanhava todas as rádios nova-iorquinas porque é mesmo do outro lado do rio. Ouvia a WBLS, o Mr. Magic Rap Attack e gravava todos aqueles programas e levava-os de volta a Pittsburgh e ficava todo excitado por mostrá-los.” O discurso dele é semelhante ao olhar nostálgico de rappers com a mesma idade, que vão desde o Notorious B.I.G. de “Juicy” até ao Nas de Hip-Hop is Dead, gente que cresceu com o mítico programa de rádio.

“O que é que é mais rock’n’roll que os Public Enemy? Aquilo é uma banda, o Hank Shocklee é um músico.”, diz, referindo-se ao líder da unidade de produção do grupo, a Bomb Squad. “Não digo que não haja produtores de hip-hop hoje em dia que são músicos, não sei, já não me dizem nada. As últimas coisas que me disseram alguma coisa e às quais eu prestava atenção foi talvez um pouco de Dead Prez e Mos Def.” Adiciona que as rimas de Mos Def são belíssimas, que o tocam bastante e que este tem uma voz única e singular no rap e na poesia.

De repente, sai a pergunta: “Porque é que os miúdos e as bandas rock em Portugal não cantam em português?” Segue-se uma discussão muito batida, sobre ser difícil soar bem em Portugal, mas “também é preciso esforçar-se muito para soar bem em inglês”, sobre não haver muitos modelos, “mas há tanta música brasileira óptima” e “vocês têm uma das mais ricas heranças poéticas de qualquer nação do mundo.” É que Kyp Malone passou algum do tempo em Portugal a ver concertos de bandas portuguesas. Apanhou os X-Wife antes da banda dele no SBSR, um tipo qualquer a tocar música brasileira num bar, Rodrigo Leão com Beth Gibbons dos Portishead em Belém (resume a colaboração de ambos com um bocejo) e treze bandas portuguesas experimentais na Av. da Liberdade pouco depois da entrevista. Ficou triste por ter falhado os Tinariwen no dia em que tocou no SBSR, não sabia do concerto e é uma das suas bandas favoritas, nunca os viu ao vivo, mas acha que são bastante cativantes só de ouvi-los em disco. “Quero ir ao Mali”, confessa. Gosta muito do Ali Farka Touré, que tocou no mesmo festival que os Tinariwen naquele que foi um dos seus últimos concertos. Resumidamente, em termos de concertos, “Tento ir ver o máximo de coisas possível, quer conheça quer não.” Mas mesmo aquilo de que não gosta serve algum propósito. “Toda gente pode ter opiniões e tudo, mas música é música e fico contente quando as pessoas a fazem. Fico contente por o gajo e a Beth Gibbons a estarem a fazer, não acho que seja mau para o mundo, acho que é bom para o mundo. Ninguém gosta de tudo.”

Quanto ao resto da música, comprou um disco de Madredeus porque ouviu numa loja onde estava, diz que é muito bonito, apesar de não concordar com alguns arranjos e soluções que fazem, para além dos dois discos de Carlos Paredes. Mas ouve muita música em português, como a música brasileira. “Há tanta música brasileira boa, é um óptimo sítio para música.” Melómano confesso, diz que ouve normalmente bluegrass e country. “Eu e a minha filha pequena ouvimos June Carter Cash, uma compilação que tem canções desde que ela era pequena até à altura em que era uma mulher velha.” Gosta de Willie Nelson, da Incredible String Band e dos Current 93. Para além disto, comprou na FNAC um disco da 4AD em promoção chamado Le Mystère dês Voix Bulgares, do Bulgarian State Television Female Vocal Choir o segundo volume, que diz ter ouvido em muitas bandas-sonoras diferentes. “Tocam música tradicional com arranjos originais”, diz. Também gosta de ouvir um disco de um coro, os Sacred Harp Singers of the South, chamado I Belong to This Band. “É de igrejas do sul, do início e meados do século passado, grupos corais enormes, mas não muito organizados, nem todos eram bons cantores, é um bocado estranho e bonito, são canções religiosas.” Menciona-se uma história, talvez mito urbano, que Paul Simon quis fazer um disco com grupos corais do Alentejo, mas estes eram demasiado desorganizados e não sabiam ler música. Malone faz um ar estranho quando se menciona o nome dele. “É ir à volta do mundo e roubar e roubar. Quer dizer, eu acabei de comprar uma guitarra portuguesa, mas quando a tocar vou tocá-la de uma forma pouco usual. Mas os Simon & Garfunkel eram óptimos. O Paul Simon é um escritor de canções incrível.”

“Quando era mais novo ouvia bastante John Coltrane, Pharaoh Sanders, Albert Ayler e Sun Ra, todas aquelas coisas free e Charles Mingus e ando a voltar a elas. Podia comprar discos de jazz para sempre e ainda não conseguir ouvir tudo o que foi gravado antes de ter nascido. Acho que isso é algo que me atrai no jazz e na música antiga, é impossível ouvi-la toda. Também ouço muitas coisas da Revenant.” A Revenant, a editora que lançou discos de John Fahey, o fingerpicker americano, é mote para uma discussão sobre como se pronuncia o apelido do músico. Nem os americanos sabem pronunciá-lo, mas diz que o seu amigo Marc Orleans, ex-membro dos Sunburned Hand of the Man, e com quem partilhava uma banda chamada Falling in Love With My Friend Marc Orleans, pronuncia “Fáhi”, com o “h” aspirado. Segue-se um namedropping intenso de amigos, desde os Storm & Stress, onde tocava Ian Williamson, dos Don Caballero e dos Battles (cujo Tyondai Braxton, segundo Malone, “é um fenómeno e é incrível a solo”). “Ouço o meu amigo Miles Benjamin Anthony Robinson, um óptimo escritor de canções. Estou a tentar trazê-lo à Europa para tocar. É óptimo. Alguém me mostrou o novo disco dos Liars, é bestial. O Drum’s Not Dead é um disco óptimo. São fenomenais. São óptimas pessoas.” Gosta de Sonic Youth, apesar de não prestar atenção ao que têm feito, mas quando era mais novo ouviu “o EVOL, o Sister e o Goo como se estivessem a sair de moda.”

Segue-se ainda mais namedropping de amigos. Fala dos Widower, dos Miles Robinson and the Black Boys, dos Dragons of Zynth, os Jealous Girlfriends (“acho que são muito bons, a vocalista toca a solo sob o nome Raven Mayhem e tem uma óptima voz”), Stars Like Fleas ou Oh Sees. Estes últimos parecem ser-lhe muito queridos. “São do meu amigo John Dwyer, já teve muitas bandas, como os Pink and Brown, os Coachwhips, que eram uma das melhores bandas ao vivo de sempre, acho eu, estavam sempre em digressão e a gravar, estavam numa editora chamada Narnac, nova-iorquina, é garage-rock muito barulhento, os Oh Sees são mais limpos, mas é rock’n’roll, mas antes era mais baixinho, os Coachwhips eram altos, mas agora desapareceram e os Oh Sees estão a ficar mais altos; ele é uma grande mente musical, custa-me que as pessoas não conheçam melhor as coisas dele, ele também tinha uma banda chamada Zeigenbock Kopf, era uma banda como os Throbbing Gristle e os This Heat misturados mas mais dançável e ele fingia que era alemão, que era um alemão que se vestia de cabedal, e era incrível. Incrível como conceito e os concertos eram óptimos, eles davam tudo ao vivo e usavam bigodes falsos.” Shannon Funchess, vocalista convidada dos !!!, actuou no Coliseu dos Recreios com esta banda na noite em que Malone actuou no Lounge. Um portento de palco, apareceu no Lounge para dar umas palmadas no traseiro de Kyp Malone enquanto este tocava, depois de uns abraços. “A Shannon cantou no Young Liars, mas cantou com imensa gente ao vivo. É incrível. Também cantou connosco.”

Gosta de encontrar os amigos de Nova Iorque noutro países, mas, em várias entrevistas, disse não se sentir à vontade quando o interpelam na rua. “Gosto de pessoas e gosto de conhecer pessoas”, diz, adicionando que em Portugal “há uma cultura de hospitalidade diferente.” Foi reconhecido algumas vezes aqui, “o meu emprego é estar em palco e tirarem-me fotografias e é suposto que, se me reconheceram, está tudo a correr bem.” Contudo, “eu não quero falar dos TV On The Radio a toda a hora, de todo. Há muito mais a acontecer no mundo do que isso. Adoro, adoro tocar com essa banda, adoro, tem sido uma experiência incrível, mas não quero falar sobre isso a toda a puta da hora. Não quero falar sobre música a toda a hora, adoro música, mas gostava de saber o que é que se passa nas cabeças das pessoas. Em Nova Iorque, se estiver num bar e as pessoas querem dizer olá e se gostam ou não do que ando a faço, não gosto de ficar encurralado por um tipo que só me quer falar da banda dele, de todo, e às vezes aquilo de que não gostava e continuo a não gostar é estar com amigos e tentar estar com eles e estranhos interrompem-nos e fingem que eles não estão lá. Antes sentia-me obrigado a falar logo com essas pessoas. É tão rude.” Sente-se à vontade para falar dos TV On The Radio “numa entrevista, mas num bar, se estou a falar com uma rapariga, vir um tipo falar comigo sobre a minha banda, a massacrar-me, já é suficientemente difícil falar com uma rapariga sem um idiota vir chatear-me.” E aqui fica a esperança de que este idiota não lhe tenha estragado nenhuma conversa.
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net

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