Valérie: Eu comecei a banda como um projecto a solo depois do fim da minha primeira banda, L.B. Page. Depois continuei sozinha. O primeiro single, gravado em quatro pistas, foi lançado em 1998. O Markus já estava envolvido. Depois convidámos o Christoph e o Florian.
Ouvi
o vosso novo álbum, Faking The Books e acho que basicamente
é como os dois anteriores, mas com guitarras. O que é que tentaram
fazer desta vez?
Markus:
Para este disco, tentámos variar a instrumentação nas diferentes
canções, e também fugimos à base electrónica
da nossa música. Então trabalhámos muito com guitarras,
piano, cordas, baixo e bateria real, mas também tentámos usá-los
como instrumentos electrónicos, cortando, samplando-os e processando-os.
Eu acho que uma coisa especial nos Lali Puna é a combinação
de abstracção e proximidade, e neste disco tentámos ultrapassar
os limites dos diferentes elementos, dar mais elementos de banda ao vivo, mas
continuando com os elementos electrónicos abstractos.
O
que é que quer dizer "Faking The Books"?
Valérie:
"Faking The Books" é uma expressão usada num contexto
muito político: refere-se a "faking history books" [falsificando
os livros de história] ou "faking the votes" [falsificando
os votos] - tem a ver directamente com o que tem acontecido nos EUA nos últimos
anos. Mas a letra do tema em si tem um ponto de vista mais geral, fala do poder
político, da perda de integridade e credibilidade das pessoas. É
uma canção muito cínica.
Mudou
alguma coisa nos Lali Puna entre 2001, o lançamento de Scary World
Theory, e 2004, o lançamento de Faking The Books?
Markus:
Sim, temos um novo membro, Christian Heiss, que toca teclados e electrónica,
e que veio dos Flo Zimmer, agora está mais concentrado nas outras bandas
dele, os Iso 68 e os Jersey. E tocámos muito ao vivo.
Como
é que é o vosso processo de criação de canções?
Como é que as canções e as letras são escritas?
O que é que os outros membros dos Lali Puna trazem para o estúdio
e para o palco?
Markus:
Eu e a Valérie compomos as canções, sozinhos e juntos,
no computador em casa, e depois trazemo-las para o estúdio, onde nós
e os outros, o Christoph e o Christian, e o nosso produtor Mario Thaler, pensamos
nos arranjos. Depois começamos a gravar, toda a gente procura maneiras
de contribuir, e depois, espera-se, a canção ganha uma forma de
que gostamos. Varia sempre de canção para canção.
Também fizemos algumas canções que soavam bem no computador
em casa, mas não funcionaram em estúdio.
Vão
fazer uma tournée depois do lançamento de Faking The Books?
Vão tocar em Portugal?
Vamos
tocar muito por aí, mas ainda não há nenhuns concertos
agendados para Portugal. É triste, algumas das nossas melhores experiências
em tournée até agora foram em Portugal. O Porto foi inacreditável.
Valérie,
viveste em Portugal durante uns anos. Desenvolveste algumas actividades relacionadas
com música? Isso afectou a música que fazes agora? Qual é
a tua relação com Portugal?
Valérie:
Aprendi a tocar piano nesses anos. Mas nunca toquei numa banda ou em algo parecido.
Não sei se há alguma influência musical directa. Mas o tempo
que passei em Portugal foi muito importante para mim: quero dizer, foi a minha
infância, vivi lá dos oito aos dezoito anos. Saía muito
aí: Frágil, Kremlin, Três Pastorinhos. Isso foi importante,
eu gostava muito da atmosfera do Bairro Alto. Tentei orientar-me numa maneira
mais alternativa. Ainda me lembro que um amigo meu fez um concerto com os Pop
Dell'Arte - foi um sítio estranho para tal banda tocar e toda a gente
menos ele, eu e uns amigos saiu da sala...
Porque
é que já não cantas em português?
Valérie:
Tenho que admitir que estou a perder a língua. Já voltei à
Alemanha há onze anos e há pouca gente portuguesa cá em
Munique. Eu não acompanho o desenvolvimento da língua cá
na Alemanha. E penso que seria algo estranho ter português medieval no
disco.
Ouves
música portuguesa? Se sim, de que é que gostas?
Valérie:
Eu era uma grande fã dos Madredeus dos primeiros discos. Mas depois do
filme do Wim Wenders [Lisbon Story], acho que ficaram muito comerciais.
Se calhar é injusto, não sei. Lembro-me de ter visto a Teresa
Salgueiro no Frágil uma noite e ficámos todos como "Wow,
ela está ali!" Conheci o Rafael Toral, ele deu um concerto
cá. E quando estive em Portugal há alguns anos fiquei muito surpresa
por encontrar uma boa cena de música electrónica aí. E
estive num concerto de Mouse On Mars onde estavam a tocar bandas como os Supernova
(que alguém me disse que já não existiam).
O
que é que andas a ouvir/ler/ver hoje em dia?
Valérie:
Acabei de comprar o novo álbum dos F.S.K., uma banda alemã muito
boa e importante, têm muita história. Acabei de ler uma biografia
dos Sex Pistols escrita pelo John Savage. O último grande filme: Lost
In Translation (tenho visto outros mas não foram tão bons).
Quais
são as vossas maiores referências musicais?
Valérie:
Os Lali Puna têm influências de muitas coisas, dos Young Marble
Giants, os My Bloody Valentine, a Laurie Anderson ou os Stereolab aos Kraftwerk,
dos Mouse On Mars e Aphex Twin aos Team Dresch, às Le Tigre e depois
aos songwriters como os Smog, o Bonnie Prince Billy e o Johnny Cash.
O
que é que pensam da pirataria cibernáutica, dos álbuns
aparecerem na internet antes de saírem?
Valérie:
Nas entrevistas costumava dizer que isto não afecta os Lali Puna, visto
sermos uma pequena banda independente, mas depois um amigo meu que vive em Berlim
veio ter comigo e disse: "Hey, eu gosto imenso do vosso novo álbum,
acabei de tirá-lo da internet" Também recebi e-mails
de fãs. Fiquei um pouco chocada, mas continuo a pensar que pequenas bandas
como nós não vão sofrer assim tanto, porque as pessoas
têm uma relação mais chegada com a banda. Por mim não
vejo mal as pessoas fazerem download da nossa música em países
aos quais esta não chega ou onde as pessoas não têm dinheiro
para comprá-la. Mas há mal se pessoas que têm dinheiro não
gastam mais em música. A música perde assim valor para elas.
O
que é que o futuro reserva para os Lali Puna?
Markus:
Vai haver muitos concertos, primeiro. E depois vai haver um vinil de 12 polegadas
com a canção "Micronomic", duas canções
inéditas e remixes do Alias e do Boom Bip. E um vídeo do Luis
Briceno.
rodrigo.nogueira@bodyspace.net