Fiquei fascinada com a guitarra eléctrica e com a quantidade de sons diferentes que se consegue produzir através dos diferentes pedais e do amplificador. Gostei da forma como conseguia mudar a textura da canção.
Quando
era adolescente, quais eram os discos que sempre evitou que ganhassem pó,
ou por outras palavras, quais são as suas maiores influências?
Ouvi
muita música dos anos 60 e 70. Escritores de canções como
Simon & Garfunkel, Carole King, e gostei sempre dos Beatles. As melodias
deles conseguiram sempre apanhar-me. Os meus irmãos tinham sempre Pink
Floyd e Led Zeppelin a tocar pela casa, por isso lembro-me de os ouvir bastante,
também.
Deixou
de ensinar para se dedicar à música. Era o único caminho
que podia seguir? Foi uma decisão difícil?
Deixar
o ensino foi uma decisão muito difícil de tomar. Gostava muito
da minha área, o Inglês, e dos alunos que ensinava. Só que
não sou muito boa a fazer duas coisas ao mesmo tempo. Tanto ensinar como
escrever pareciam requerer um coração inteiro só para si.
Por isso, decidi perseguir a minha escrita de canções e ser tutora
em part-time. Parece-me que foi uma mediação feliz.
O
seu álbum de estreia foi lançado há mais de dez anos atrás.
Quais são as memórias que guarda desses tempos?
O
processo de gravação era tão novo e excitante. Só
o facto de ser possível ouvir as canções gravadas tanto
tempo após as ter tocado, sozinha no meu apartamento, era uma delícia
para mim. Ouvi-las completas com os outros membros da banda era igualmente especial.
Trabalhei com muitos músicos inspirados e criativos.
Close
Your Eyes é uma reedição do seu album de estreia mas
com algumas mudanças. O que é que aconteceu durante o lançamento
desses dois discos?
Assinei
contrato com uma editora chamada Ichiban Records, que já não existe.
Eles decidiram reeditar o meu primeiro CD.
Depois
de Mercy, passou seis anos com a sua família. Como é
que foi voltar a escrever canções? Isso influenciou a maneira
como as suas canções são escritas agora?
Muitas
das canções de Ordinary Days foram escritas antes ou
durante esse período de seis anos. Porque queria começar uma família
e estava ansiosa por essa experiência, acho que isso fez com que as minhas
canções saíssem de um base mais feliz, mais segura.
As
letras das suas canções são intimistas e nostálgicas.
São, de certa forma, um reflexo da sua infância?
A
maior parte das minhas canções surgem dessa mesma perspectiva
da infância. Era, e ainda sou, uma pessoa sossegada. Escrever canções
e cantá-las parece ser a melhor forma de exteriorizar as ideias e sentimentos
que guardo dentro de mim, especialmente aqueles que derivam da minha infância.
É uma forma de fazer sentido a partir de qualquer sentimento de desordem
para mim mesma. Além disso, as memórias de infância são
coisas poderosas.
Ordinary
Day foi produzido pelo Mark Kozelek, que também toca e canta consigo.
Como é que isso aconteceu?
Conheci
o Mark quando ele actuou na minha cidade. Depois disso, mantivémo-nos
em contacto, e perguntei-lhe se estaria interessado em produzir o meu próximo
disco. Fiquei surpreendida pelo facto de ele ter ficado tão receptivo
à ideia e fiquei, obviamente, excitada com a ideia. A partir daí,
começamos a gravar em São Francisco e depois viemos até
Baltimore onde acabamos o disco.
Como
é que foi trabalhar com Mark Kozelek?
Foi
uma das melhores experiências musicais que alguma vez tive. Ele era bastante
agradável e era muito fácil trabalhar com ele. O Mark tem um dom
muito especial – um vocabulário musical profundo e emocional.
As
letras do seu último trabalho são, muitas das vezes, alegres e
optimistas. O que é que mudou desde Mercy?
Havia
canções de álbuns anteriores, que eu não queria
apresentar mais em público. Apercebi-me que eram aquelas mais negativas
ou repletas de culpa. Simplesmente não estava orgulhosa com elas e queria
escrever a partir de uma perspectiva mais esperançosa, mesmo que o tema
fosse triste. Queria escrever canções que reflectissem como eu
me sentia em qualquer dia normal, em vez de um pequeno momento no tempo. Esse
tipo de canções, para mim, são, de alguma forma, mais honestas.
Partilhou
o mesmo palco com Ben Harper, Lloyd Cole, entre outros. Como é que se
sente ao transformar as suas canções em confissões ao vivo?
Ser
uma pessoa reservada por um lado, e ao mesmo tempo expôr a sua alma pode
ser uma coisa complicada quando se actua ao vivo. Sinto uma necessidade de me
desligar dessas confissões, mas tenho de lutar contra essa necessidade
premente que existe dentro de mim ou a actuação pode sofrer com
isso. Quando actuo, sinto que tenho de me abrir emocionalmente para que as canções
se consigam traduzir a um nível mais profundo com a audiência.
Existem
planos para gravar novo álbum? O que é que podemos esperar de
si?
Por
enquanto, estou na fase de escrita das canções. Se sair alguma
coisa coesa, começo a gravar. Tenho também muitas canções
que o Mark e eu gravámos com uma banda completa. A certa altura, gostaria
de lançar um EP com algumas canções retiradas dessas sessões.
Parece
ter todos os seus sonhos concretizados. Falta ainda alguma coisa?
Não
sei. Tento apenas levar as coisas dia-a-dia e esperar pelo melhor.
O
que é que aconteceu a Mrs. Foster?
Twnho
uma ideia do que lhe aconteceu, mas tenho receio de criar falsas aparências
na interpretação de algumas pessoas.
Dá
realmente assim tanta importância aos pequenos detalhes, às pequenas
coisas dos “dias vulgares”?
Os
melhores dias são os dias quando eu consigo, quando eu posso acalmar,
e não me deixo apanhar pelas coisas que realmente não são
tão importantes a longo termo. Às vezes, apesar de tudo, é
mais fácil dito do que feito.
andregomes@bodyspace.net