ENTREVISTAS
Isan
Desenhos a lápis
· 20 Fev 2007 · 08:00 ·
Antony Ryan e Robin Saville têm vindo a lançar música como Isan desde 1996. Vivem em locais distintos e trabalham à distância mas a similaridade das suas escolhas e gostos e a forma como pensam a música revelam-se em cada criação da dupla. Quer seja em disco, quer seja ao vivo. Depois de Meet Next Life de 2004, Plans Drawn In Pencil (editado em 2006) continuam a explorar a electrónica que os colocou na grande familia da Morr Music, apesar de lhe terem introduzido alguns novos elementos. Plans Drawn In Pencil é mais sombrio e menos polido que os discos anteriores. A poucos dias da chegada dos Isan a Portugal, Antony e Robin aceitaram responder a algumas perguntas e esclarecer algumas questões mais pertinentes de uma actividade com mais de uma década. A dupla Isan marcará presença em Portugal (em estreia nacional) para actuações em Coimbra (Teatro Académico Gil Vicente), Porto (Teatro Passos Manuel) e Lisboa (Galeria Zé dos Bois) nos dias 22, 23 e 24 respectivamente.
Trabalham separadamente um do outro na maior parte do tempo. Um de vocês vive em Southend e o outro em Wiltshire. Como é que trabalham neste momento?

Antony Ryan: Conhecemo-nos a princípio enquanto estávamos ambos a viver em Leicester, e começamos a fazer musica juntos. Isan começou em 95/96 quando o Robin se mudou para Southend, simplesmente como forma se sermos capazes de trabalhar juntos, apesar de estarmos em partes separadas do país. Isan sempre foi um projecto de colaboração remota.

Robin Saville: O nosso método de trabalho foi evoluindo ao longo dos anos – costumávamos sempre completar as canções individualmente e depois enviamos o produto final ao outro membro e se gostássemos era Isan, se não gostássemos então não era... Nos últimos anos no entanto apanhamos a tecnologia o suficiente para sermos capazes de trocar material via banda larga e colaborar convenientemente – por vezes evita muito trabalho desnecessário.

Acham que o vosso método de trabalharem separados é visível no vosso trabalho ou crêem que a tecnologia consegue abolir essa sensação?

A.R.: Não. Sempre foi como uma “Canção do Robin” ou uma “Canção do Antony”. Mesmo com o trabalho mais colaborador pela internet – cada canção é começada por um de nós, e por isso tem uma impressão digital única nela, ao longo do processo de colaboração.

R.S.: Ambos temos diferentes fraquezas e forças por isso para nós pelo menos as faixas carregam sempre algo de um carácter mais do que do outro.

Discutem minuciosamente a música que fazem ou tudo acontece naturalmente. São compositores musicais cerebrais ou relaxados?

A.R.: Ocasionalmente discutimos a música, mas na maior parte das vezes tentamos que tudo aconteça naturalmente. Acho que porque temos vindo a fazer isto há tanto tempo, é inevitável falar sobre o trabalho ocasionalmente hoje em dia – mas tentamos apenas relaxar e deixar as coisas acontecerem naturalmente.

R.S.: O mais complicado é relaxar o suficiente para deixar que as coisas aconteçam por elas próprias – quando mais tentas, menos provável é resultar.

Plans Drawn In Pencil não é radicalmente diferente dos vossos lançamentos anteriores mas no entanto parece introduzir novos elementos na música dos Isan. O que é que nos podem contra acerca da concepção e atitude desde novo disco?

A.R.: Houve uma pequena ideia preconcebida em que eu quis voltar aos sons mais sintéticos. Estava a brincar com algumas aplicações generativas para criar melodias e ritmos, mas mais do que isso só tentei deixar que as melodias emergissem.

R.S.: No que diz respeito à concepção, foi o primeiro corpo de trabalho que reflectiu verdadeiramente colaboração – algo a que, acho eu, ainda nos estamos a ajustar.

Antes de terem lançado este novo disco editaram um algo inesperado 7" de versões de temas de Satie. Como é que esse projecto ganhou forma?

A.R.: Na verdade esse bebé é do Robin…

R.S.: Foi uma óptima forma de fazer música sem ter de pensar numa melodia primeiro! Não cabe verdadeiramente no corpo principal de trabalho que temos vindo a fazer recentemente por isso funciona melhor como uma peça ligeiramente isolada, por isso o 7’’.


Qual é a sensação de fazer parte da família da Morr Music? Li algures que agora consideram a Morr Music como sendo a vossa casa espiritual.

A.R.: Tivemos tanta sorte de sermos abordados pelo Thomas há todos aqueles anos atrás. Ouvimos há pouco a promo do novo disco de Tarwater – muito muito bom. Temos sorte de estar associados a uma editora que lança álbuns como este.

R.S.: É uma relação tão confortável, é bom sermos capazes de confiar totalmente numa editora e não termos de perder tempo a pensar naquele lado das coisas em vez de fazer música.

O que é que acham do dubstep, o fenómeno musical electrónico de 2006? Qual é a real dimensão do dubstep no Reino Unido?

A.R.: Tropeçamos no dubstep acidentalmente quando o Robin recebeu por erro uma demo de um EP de Geiom no e-mail. Ele é um velho amigo de Nottingham, e agora ele está a fazer ondas na cena do dubstep. Tenho feito download de muitas mixes que estão por todo o lado na internet de momento – mas até agora, Burial foi o lançamento do ano para mim.

R.S.: Resulta melhor para mim com auscultadores na cidade – uma música muito urbana e é óptimo ouvir um poder tão grande num som tão despido.

Conhecem alguma música portuguesa? Não lhes vou perguntar se conhecem fado, mas que tipo de música portuguesa chega ao Reino Unido, se é que chega alguma?

A.R.: Temo conhecer apenas Biarooz… Que tem feito uma encantadora versão da nossa canção “Gunnera”.

Vocês usam e apoiam o chá. Acham que o chá é uma boa companhia para a vossa música? A.R.: Sim, preferimos chá English Breakfast com leite e opcionalmente com açúcar… mas na verdade qualquer combinação baseada no chá é um acompanhamento ideal para os nossos sons.

R.S.: No entanto não descriminamos os que bebem café…

Vamos falar agora acerca dos vossos concertos. Como é que os preparam? Quando têm um novo disco e pensam em mostrar novo material nos concertos que métodos pensam utilizar?

A.R.: Acho que é realmente um exercício técnico de converter as canções do estúdio para trabalhar num laptop. Uso um software chamado Audiomulch tanto quanto possível para os concertos – é óptimo para misturar os sons nas actuações ao vivo. Tentamos fazer com que as canções sejam tão intensas quanto possível – funcionam melhor dessa forma em altos volumes… o que é diferente da forma como as pessoas talvez ouvem em casa, onde o som pode ser mais delicado.

R.S.: É óptimo reviver material antigo também – uma óptima oportunidade para olhar para o catálogo passado e pensar naquilo que podia gozar de um recomeço de vida.

Vêm em breve a Portugal para tocar em Coimbra, Porto e Lisboa. Quais são as vossas expectativas e o que é que as audiências podem esperar desses concertos?

A.R.: Estamos bastante ansiosos por isso, é a nossa primeira vez em Portugal. Não sabemos muito bem o que esperar, e é por isso que adoramos ir a novos sítios para tocar.

R.S.: A audiência pode esperar ver duas pessoas ligeiramente desconfortáveis em palco e alguma música electrónica com apenas um par de erros…
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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