
Começaste
a tocar bateria aos 14 anos. Como conseguias conciliar isso
com as tuas obrigações na escola?
Eu comecei a tocar bateria um pouco antes dos 14, quando tinha
11 anos. O meu trabalho escolar não saiu muito prejudicado
porque eu não tinha que sonhar com o que viria a ser. Tinha
a sorte de estar já a perseguir os meus sonhos. Além disso,
era agradável e acolhedor estar na escola depois de quase
congelar na carrinha.
Como começaram as coisas com os Pop
Will Eat Itself?
Convidaram-me para pertencer aos Pop Will Eat Itself em Dezembro
de 1991. Eu estava num bar em Birmingham (no Reino Unido),
quando fui abordado pelo Richard March [o baixista da banda]
que disse simplesmente “estamos à procura de um baterista.
Estás interessado?”. “Sim.”, respondi eu, e o acordo estava
concluído. A minha prova de selecção foi uma noite no bar
para ver se eu aguentava a parada.
Mais tarde, integraste os Bentley
Rhythm Ace...
O Richard e o Mike [Stokes] conheceram-se e tornaram-se almas
gémeas. Começaram a compor juntos alguns temas, no estúdio
montado na sala de estar do meu apartamento. Eu ouvi aqueles
temas alegres e, de imediato, pedi para pertencer à formação.
Estar nos Bentley Rhythm Ace nos primeiros anos foi como uma
existência de desenho animado, foi fantástico. Um pouco como
ser “Yin” para o “S-Club Yan”. Nunca gostei tanto de estar
numa banda como naquela altura.
É verdade que já foste jardineiro
paisagista, camionista, despachante de correspondência e encarregado
do calcetamento de estradas? O que tens a dizer sobre estas
ocupações?
Sim, já desempenhei todas essas funções, umas mais duradouras
que outras. A parte da correspondência e dos envelopes só
durou um dia. Foi o pior emprego que alguma vez tive. Deve
certamente haver uma máquina barata capaz de fazer isso. É
uma crueldade mental.
Seguiu-se a tua carreira a solo.
Nessa altura, enquanto mecânico, dedicaste-te à colecção e
restauro de autocarros antigos. Há alguma coisa que não tenhas
feito?
A minha outra principal fonte de rendimento consistia em reparar
autocarros, uma obsessão de sempre, que explica que eu tenha,
neste momento, um estacionado ao fundo do meu jardim. Tirando
o dia com os envelopes, nunca trabalhei num escritório. Acho
difícil uma pessoa sentir-se verdadeiramente viva, estando
confinada a um ambiente isolado de trabalho. Mas, se me perguntarem
se não me sinto feliz por passar um dia inteiro dentro de
um estúdio, digo então que depende do que se está a passar.
Ao olhar para trás, nunca tive um emprego que fizesse muito
pelos outros. Talvez tenha que experimentar um dia. Mas quem
precisa de um baterista ou de um motorista e mecânico de autocarros
em tempo de crise?
Consideras o teu álbum homónimo mais
introspectivo do que qualquer outro que gravaste?
Não acho que o meu segundo disco seja introspectivo, de todo.
Definitivamente mais observacional, mas não gosto de me pôr
a admirar o umbigo. Canções como ‘How Beautiful’ baseiam-se
na beleza natural a apoderar-se das coisas quando deixamos
os espaços. Algumas pessoas pensam em decadência quando abandonamos
partes do nosso mundo construído, enquanto que eu só vejo
beleza no retorno da Natureza. Por isso, acho que seria óptimo
para nós se abandonássemos o planeta durante um par de anos,
para que pudéssemos ver as coisas sob uma outra perspectiva
no regresso. A vegetação a desabrochar nos intervalos de uma
pista alcatroada num aeródromo é uma vista fabulosa. Estou
a envelhecer, por isso observo mais. Faz parte da nossa natureza.
O álbum é um pouco mais enraizado do que o primeiro. Estou
a adorar usar os primeiros takes de cada instrumento
em vez de me preocupar com um refinamento permanente. Esse
aperfeiçoamento equivale um pouco a olhar para dentro, portanto
penso que poderia dizer-se que todos os outros discos produzidos
são introspectivos neste sentido.
Como avalias o grafismo veraneante
da capa deste último trabalho?
Prefiro apresentar tons laranja de Verão do que azuis de Inverno,
ainda que estes últimos sejam bons com um toque alaranjado
vindo de uma lareira.
O que achas do resultado final do vídeo animado que ilustra
o tema ‘Sunny Feet’? De quem foi a ideia de Sunnyville?
Eu simplesmente adoro o vídeo do Pete List para ‘Sunny Feet’!
Nunca nos conhecemos pessoalmente, mas a primeira vez que
falei com ele por telefone, eu estava a trabalhar no meu autocarro
no jardim. Ele começou a falar das suas ideias de animação
e eu mostrei-me interessado. Desde que comecei a compor discos,
sempre desejei ter um vídeo animado e ali estava a minha oportunidade.
Espero que, um dia, a canção permita que o vídeo passe mais
regularmente. A ideia de Sunnyville foi do Pete. Considero
importante deixar as pessoas fluir com as coisas. Acabei por
me transformar numa pessoa positiva, na melhor acepção da
expressão. E o Pete conseguiu sentir a canção, percebes?
Por que decidiste remisturar ‘Fashion
Boy/Fashion Girl’ em duas versões?
Para essas remisturas limitei-me a capturar as minhas vibrações
do sítio onde vivo (Moseley, Birmingham) e de Nova Iorque
(das minhas visitas lá) e fiz uma mistura fiel a cada cidade,
da forma que eu as via. Imagino-me no meio de uma estrada,
a olhar o horizonte a média distância num dia encrespado de
Outono e a alongar a visão até encontrar um ponto de fuga.
A vibração de um cidade é mais clara para mim deste ponto
de vista. Acho que é a minha panorâmica preferida de uma cidade,
esteja onde estiver.
A tua lista de agradecimentos inclui
o staff dos bastidores, os homens do talho, os padeiros
e os fabricantes de cotos de velas. Acreditas que o humor
desempenha um papel importante na música?
Humor na minha música? Não sei. Tudo o que encontrares na
música está lá. Tudo o que diz respeito à vida flui e, espero,
pode ser encontrado na minha música. E depois, é melhor pôr
um olhar carregado somente quando se está em baixo ou o mundo
está às avessas.
Vês-te como uma 24-hour party
person?
Sou uma 12-hour party person embora seja flexível.
Depende de quantas pessoas estão na festa.
O que podemos esperar do quartel-general
de Fuzz Townshend num futuro próximo?
Neste ano eu tenho produzido e tocado nos álbuns de muitos
outros artistas (Interfaith, PAMA International, The Nebulae,
etc.), mas estou agora preparado para esvaziar a minha mente
outra vez. O Rich e o Mike pediram-me que me juntasse a eles
e tocasse com os reformados Bentley Rhythm Ace, o que me parece
divertido. Também sou pai, o que me exige alguma disponibilidade
de tempo. Ah!... e tenho um bar em Birmingham chamado The
Rainbow, que dirijo com mais uns amigos. Temos coisas a acontecer
naquele espaço, portanto se passares por perto, entra e diverte-te.
hefgomes@gmail.com
