ENTREVISTAS
Musgo
Mudança de cenário
· 23 Out 2006 · 08:00 ·

Antes de mais, como surge o vosso nome? Obedece a alguma razão particular?
Eduardo Vinhas: Não sei se tem uma explicação muito racional. É simplesmente um nome que gostamos e que tem em si a capacidade de nos fazer sentir alguma proximidade com o abstracto e com a disposição perfeita-caótica dos elementos da natureza. Sempre gostámos muito de campo, rochas, mar, árvores e fungos…
Como duo têm vindo a fazer música juntos nos últimos 10 anos. Como se dá esse inicio de colaboração, essa reunião?
E.V.: Conhecemo-nos quando tínhamos projectos diferentes. Fui convidado para fazer uns concertos com os Mummies & Kids. Queriam alguém que tocasse uns orgãos. A partir daí tivemos outros projectos em conjunto até que sentimos a necessidade de ter um espaço a aparte de tudo o que tínhamos feito até aí. Um espaço sem regras ou metas, apenas para experimentar as nossas ideias que não faziam sentido noutros projectos.
Rodrigo Alfacinha: Quando nos conhecemos houve logo empatia e rapidamente começámos a compor em conjunto. Na altura muito indie rock… mas já apareciam algumas coisas que se aproximam daquilo que Musgo é hoje e que não conseguíamos enfiar em lado nenhum.
Dos primeiros lançamentos até aos dias de hoje os Musgo evoluíram muito no que diz respeito ao som. Hoje optam cada vez mais por explorar a música electrónica. Como viveram essa evolução? Como foi deixar para trás o baixo e a guitarra?
E.V.: Foi uma evolução natural, aconteceu. Não foi propriamente uma decisão pensada. Foi uma consequência do interesse pelo tricot de texturas livres criadas com sintetizadores modulares. Acho que tive alguma "culpa" nesse capitulo. Alguns dos sons são resultado de programações de semanas e semanas consecutivas. Talvez tenha sido também um desligar de sonoridades mais convencionais e de formas mais definidas. Conseguimos chegar mais próximo dos ambientes que queremos assim. Mas, acima de tudo, essa omissão faz parte de um determinado momento. Esses instrumentos podem muito bem voltar...reencarnados!
R.A.: Penso que também tem a ver com o facto de termos sido reduzidos a um duo e interessava-nos ter um set em que tudo pudesse ser tocado e manipulado em tempo real. A guitarra e o baixo obrigam de certa forma a haver um músico que os toque durante uma actuação. A mesa de mistura, os samplers, as fitas, os pedais e os synths são mais fáceis de controlar e tocar ao mesmo tempo durante uma actuação e era precisamente isso que estávamos à procura.
Falem-nos por favor um pouco de Apneia. Como foi o processo de concepção do disco?
E.V.: De uma forma geral somos muito demorados em tudo aquilo que fazemos no estúdio. É uma das desvantagens de se ter um! Desta vez decidimos que deveríamos fazer o disco em muito pouco tempo, não porque tivéssemos pressa mas porque queríamos que ele retratasse, captasse um determinado momento, ambiente e tensão. Como uma polaroid. Achámos que as texturas que tínhamos vindo a conceber eram interessantes e que tinham vida própria, capazes de nos encerrar num ambiente, já muito próximo do que tínhamos em mente para este disco. A partir daí foi recreio: talvez aquilo que mais gostamos de fazer e que mais caracteriza os Musgo, brincar com o improvável. Gravadores de quatro pistas velhinhos, microfones de contacto, alguns microfones bons... sessões de improviso com metalofones, glockenspiels, instrumentos tradicionais de vários países ou qualquer coisa que faça som. Ingredientes prontos.
R.A.: Trabalhámos o disco por partes. Primeiro a recolha de texturas e frases sejam elas de que origem forem (analógicas ou digitais). Estas foram trabalhadas exaustivamente quase ao ponto de poderem existir por si só. Depois, foi tentar juntá-las de maneira a que pudessem coexistir sem se anularem sempre que fossem tocadas. Não usámos um único cabo para sincronizar o que fosse. Para isso confiámos exclusivamente nos nossos ouvidos. Já não gosto muito de música disparada de um sampler como se fossse um CD. Interessa-me mais uma música em que sempre que a tocar lhe possa dar uma forma radicalmente diferente se o desejar. Permitir que ela evolua na sua forma e não na minha performance a tocá-la sobre um backing track.
E.V.: A gravação foi o maior desafio. Não queríamos overdubs nem edição nem pós produção... talvez pela ressaca de tudo o resto que fazemos. Queríamos polaroid. Com todas as suas imperfeições e com toda a beleza da sua simplicidade, ainda que tivéssemos a consciência que a sonoridade dos nossos ingredientes não era simples e não proporcionava a imagem de alguém a tocar determinado instrumento, pelo menos em grande parte do disco. Por isso mesmo queríamos que o factor orgânico fosse aproveitado ao máximo.
R.A.: Sim. Queríamos o componente ao vivo presente. As estruturas são simples e bastante permissivas, deixando espaço para muita improvisação. Na altura tocámos três a quarto takes de cada uma e escolhemos as que mais gostámos. Se as tocarmos hoje elas saem sempre diferentes, mas julgo que qualquer um que oiça o disco consegue identificar os temas. Os elementos não mudam, apenas muda a sua disposição no tempo e no espaço.
E.V.: Portanto, ligámos tudo o que tínhamos cozinhado a uma mesa, temperámos com os efeitos que mais gostamos nos auxiliares, o Rodrigo misturou tudo em tempo real enquanto eu tocava e fazia tocar o que tínhamos programado. Gravámos tudo para 2 pistas. Foi como um concerto gravado.
Afirmam no artwork do disco que não foi feita edição posterior nos seis temas do disco. Parece uma espécie de declaração de intenções, de método de trabalho…
R.A.: Absolutamente. Actualmente interessa-me na música a fase de pré-produção e de produção em si. A magia dá-se na fase de produção quando tudo se junta. Depois devia ser só masterizar. Chateia-me passar horas à frente de um computador a pós-produzir música. Mesmo na fase de pré-produção evitámos o computador. Só o utilizámos para visualizar os módulos de um sintetizador que utilizamos.
Conseguiram há pouco tempo encontrar um estúdio próprio onde interagem igualmente com outros músicos. Quais são as vantagens desse “ecossistema” próprio? Quais são os músicos com que têm interagido?
R.A.: A maior vantagem em ter um estúdio é ter à mão todos os instrumentos necessários para poder produzir um disco desde a sua origem até quase ao produto final. No final, está mesmo tudo como tu queres que as pessoas oiçam o teu disco. O estúdio é cada vez mais o meu ambiente natural. Praticamente não componho nada em casa. Em relação à interacção com outros músicos que passam pelo estúdio… Dá-se mais ao nível do registo ou produção do material que ele ou ela traga. Para além de tocar nos Musgo, tive umas jams com o PL, uma jam muito especial com o Manel Mota, a Margarida Garcia e o Jason Ajemian, toco baixo nos Ideas for muscles e recentemente produzi e toquei num projecto de um amigo de longa data que tocava comigo nos Radioactive Man. Pode parecer muita coisa, mas na realidade passo mais tempo no estúdio a ouvir música de outros músicos.
E.V.: A vantagem mais óbvia é a de poder experimentar muita coisa, gravar, ouvir, apagar, voltar a fazer e não ter que pagar por isso. Essa é também uma desvantagem porque nos habituamos a um método de trabalho torturante. Nunca nada está perfeito. Perde-se também o hábito de tocar, como numa sala de ensaios, com outros músicos. Acho que já só sei tocar rato! Mas aprende-se muita outra coisa também. Talvez o melhor seja mesmo o contacto com outros trabalhos que não o nosso. Aprende-se outras formas de fazer a mesma coisa ou formas de fazer outras coisas que até aí achávamos desinteressantes. Permite-nos encontrar uma visão mais pragmática e objectiva das coisas. Hoje dou por mim a ouvir com gosto uma música de qualquer tipo ou referência, ou pelo menos de quase de qualquer tipo... Acho que o melhor de tudo é o que acontece com as pessoas que se conhecem, tudo o que se passa, discute, procura e consegue, num espaço especial. Às vezes também gosto de estar sozinho, olhar em volta, respirar fundo e sorrir.
Qual é a vossa experiência ao vivo como Musgo recentemente? Sei que tocaram na Galeria Zé dos Bois há relativamente pouco tempo… como são as vossas actuações? É fácil encontrar locais para actuar em Portugal?
E.V.: Tocamos muito pouco ao vivo. Sabemos que a nossa música não é fácil de ser ouvida em qualquer lado por qualquer pessoa. Só resulta em alguns sítios. Não nos preocupamos muito com isso, embora gostasse-mos de ter mais experiências boas ao vivo. Recentemente tocámos na ZDB e no festival IMAGO.
R.A.: O concerto no festival imago foi a primeira vez que tocámos em duo e em que experimentámos tocar tudo em tempo real com as tais estruturas simples e permissivas. A crítica foi simpática e comparou-nos com o Brian Eno. De certa forma serviu para pormos à prova o que estávamos a pré-produzir. Na ZDB tocámos depois de termos gravado o Apneia e ficámos mais agarrados a sua forma.
Quais são os projectos electrónicos com que se identificam em Portugal? Que cenário fazem da música electrónica feita em território nacional?
R.A.: Não me identifico com nenhum assim por além. Durante a adolescência ouvia vezes sem conta o Plux Quba do Nuno Canavarro que me influenciou para sempre. O Rafael Toral também tem projectos bastante interessantes e recentemente um concerto do Phoebus na ZDB também me interessou bastante. Infelizmente não conheço muita música electrónica portuguesa, apesar de consumir muita música.
E.V.: Embora haja uma componente muito electrónica nos Musgo, não vejo musgo como um projecto electrónico. Temos muita coisa tocada, samplers e as nossas músicas não têm um formato muito estruturado. Talvez me identifique mais com projectos de música experimental. Também não penso muito nisso para dizer a verdade. Gosto das coisas do Nuno Canavarro e do Rafael Toral. Para ser honesto não tenho ouvido muita música que não a que se passa dentro do estúdio.
Está programado algum lançamento dos Musgo para breve? Com que regularidade compõem música?
E.V.: Hum, boa pergunta. Compomos quando nos apetece. Temos tido muito pouco tempo ultimamente com todos os diferentes projectos que temos gravado e produzido. Lançamento? Deixo a resposta para o Rodrigo!
R.A.: Gravámos o Apneia com o intuito de o mandar para editoras fora de Portugal. Estamos à espera de respostas. Em último caso sai por uma editora nacional. Brevemente.
Sentem-se inclinados para se colocarem lado a lado com esta nova vaga de música periférica que tem vindo a desenvolver-se em Portugal? Como acompanham o fenómeno?
E.V.: Sou bicho do mato. Não percebo muito de movimentos e vagas. Periférico não é um adjectivo descabido.
R.A.: Fico feliz quando penso que Portugal começa a sair da periferia com projectos como os Loosers na headz. Mas é preciso fazer muito mais para produzirmos música com valor periférico internacional, como por exemplo, melhorar o sistema de educação e gerar cultura.
André GomesEduardo Vinhas: Não sei se tem uma explicação muito racional. É simplesmente um nome que gostamos e que tem em si a capacidade de nos fazer sentir alguma proximidade com o abstracto e com a disposição perfeita-caótica dos elementos da natureza. Sempre gostámos muito de campo, rochas, mar, árvores e fungos…
Como duo têm vindo a fazer música juntos nos últimos 10 anos. Como se dá esse inicio de colaboração, essa reunião?
E.V.: Conhecemo-nos quando tínhamos projectos diferentes. Fui convidado para fazer uns concertos com os Mummies & Kids. Queriam alguém que tocasse uns orgãos. A partir daí tivemos outros projectos em conjunto até que sentimos a necessidade de ter um espaço a aparte de tudo o que tínhamos feito até aí. Um espaço sem regras ou metas, apenas para experimentar as nossas ideias que não faziam sentido noutros projectos.
Rodrigo Alfacinha: Quando nos conhecemos houve logo empatia e rapidamente começámos a compor em conjunto. Na altura muito indie rock… mas já apareciam algumas coisas que se aproximam daquilo que Musgo é hoje e que não conseguíamos enfiar em lado nenhum.
Dos primeiros lançamentos até aos dias de hoje os Musgo evoluíram muito no que diz respeito ao som. Hoje optam cada vez mais por explorar a música electrónica. Como viveram essa evolução? Como foi deixar para trás o baixo e a guitarra?
E.V.: Foi uma evolução natural, aconteceu. Não foi propriamente uma decisão pensada. Foi uma consequência do interesse pelo tricot de texturas livres criadas com sintetizadores modulares. Acho que tive alguma "culpa" nesse capitulo. Alguns dos sons são resultado de programações de semanas e semanas consecutivas. Talvez tenha sido também um desligar de sonoridades mais convencionais e de formas mais definidas. Conseguimos chegar mais próximo dos ambientes que queremos assim. Mas, acima de tudo, essa omissão faz parte de um determinado momento. Esses instrumentos podem muito bem voltar...reencarnados!
R.A.: Penso que também tem a ver com o facto de termos sido reduzidos a um duo e interessava-nos ter um set em que tudo pudesse ser tocado e manipulado em tempo real. A guitarra e o baixo obrigam de certa forma a haver um músico que os toque durante uma actuação. A mesa de mistura, os samplers, as fitas, os pedais e os synths são mais fáceis de controlar e tocar ao mesmo tempo durante uma actuação e era precisamente isso que estávamos à procura.
Falem-nos por favor um pouco de Apneia. Como foi o processo de concepção do disco?
E.V.: De uma forma geral somos muito demorados em tudo aquilo que fazemos no estúdio. É uma das desvantagens de se ter um! Desta vez decidimos que deveríamos fazer o disco em muito pouco tempo, não porque tivéssemos pressa mas porque queríamos que ele retratasse, captasse um determinado momento, ambiente e tensão. Como uma polaroid. Achámos que as texturas que tínhamos vindo a conceber eram interessantes e que tinham vida própria, capazes de nos encerrar num ambiente, já muito próximo do que tínhamos em mente para este disco. A partir daí foi recreio: talvez aquilo que mais gostamos de fazer e que mais caracteriza os Musgo, brincar com o improvável. Gravadores de quatro pistas velhinhos, microfones de contacto, alguns microfones bons... sessões de improviso com metalofones, glockenspiels, instrumentos tradicionais de vários países ou qualquer coisa que faça som. Ingredientes prontos.
R.A.: Trabalhámos o disco por partes. Primeiro a recolha de texturas e frases sejam elas de que origem forem (analógicas ou digitais). Estas foram trabalhadas exaustivamente quase ao ponto de poderem existir por si só. Depois, foi tentar juntá-las de maneira a que pudessem coexistir sem se anularem sempre que fossem tocadas. Não usámos um único cabo para sincronizar o que fosse. Para isso confiámos exclusivamente nos nossos ouvidos. Já não gosto muito de música disparada de um sampler como se fossse um CD. Interessa-me mais uma música em que sempre que a tocar lhe possa dar uma forma radicalmente diferente se o desejar. Permitir que ela evolua na sua forma e não na minha performance a tocá-la sobre um backing track.
E.V.: A gravação foi o maior desafio. Não queríamos overdubs nem edição nem pós produção... talvez pela ressaca de tudo o resto que fazemos. Queríamos polaroid. Com todas as suas imperfeições e com toda a beleza da sua simplicidade, ainda que tivéssemos a consciência que a sonoridade dos nossos ingredientes não era simples e não proporcionava a imagem de alguém a tocar determinado instrumento, pelo menos em grande parte do disco. Por isso mesmo queríamos que o factor orgânico fosse aproveitado ao máximo.
R.A.: Sim. Queríamos o componente ao vivo presente. As estruturas são simples e bastante permissivas, deixando espaço para muita improvisação. Na altura tocámos três a quarto takes de cada uma e escolhemos as que mais gostámos. Se as tocarmos hoje elas saem sempre diferentes, mas julgo que qualquer um que oiça o disco consegue identificar os temas. Os elementos não mudam, apenas muda a sua disposição no tempo e no espaço.
E.V.: Portanto, ligámos tudo o que tínhamos cozinhado a uma mesa, temperámos com os efeitos que mais gostamos nos auxiliares, o Rodrigo misturou tudo em tempo real enquanto eu tocava e fazia tocar o que tínhamos programado. Gravámos tudo para 2 pistas. Foi como um concerto gravado.
Afirmam no artwork do disco que não foi feita edição posterior nos seis temas do disco. Parece uma espécie de declaração de intenções, de método de trabalho…
R.A.: Absolutamente. Actualmente interessa-me na música a fase de pré-produção e de produção em si. A magia dá-se na fase de produção quando tudo se junta. Depois devia ser só masterizar. Chateia-me passar horas à frente de um computador a pós-produzir música. Mesmo na fase de pré-produção evitámos o computador. Só o utilizámos para visualizar os módulos de um sintetizador que utilizamos.
![]() |
Conseguiram há pouco tempo encontrar um estúdio próprio onde interagem igualmente com outros músicos. Quais são as vantagens desse “ecossistema” próprio? Quais são os músicos com que têm interagido?
R.A.: A maior vantagem em ter um estúdio é ter à mão todos os instrumentos necessários para poder produzir um disco desde a sua origem até quase ao produto final. No final, está mesmo tudo como tu queres que as pessoas oiçam o teu disco. O estúdio é cada vez mais o meu ambiente natural. Praticamente não componho nada em casa. Em relação à interacção com outros músicos que passam pelo estúdio… Dá-se mais ao nível do registo ou produção do material que ele ou ela traga. Para além de tocar nos Musgo, tive umas jams com o PL, uma jam muito especial com o Manel Mota, a Margarida Garcia e o Jason Ajemian, toco baixo nos Ideas for muscles e recentemente produzi e toquei num projecto de um amigo de longa data que tocava comigo nos Radioactive Man. Pode parecer muita coisa, mas na realidade passo mais tempo no estúdio a ouvir música de outros músicos.
E.V.: A vantagem mais óbvia é a de poder experimentar muita coisa, gravar, ouvir, apagar, voltar a fazer e não ter que pagar por isso. Essa é também uma desvantagem porque nos habituamos a um método de trabalho torturante. Nunca nada está perfeito. Perde-se também o hábito de tocar, como numa sala de ensaios, com outros músicos. Acho que já só sei tocar rato! Mas aprende-se muita outra coisa também. Talvez o melhor seja mesmo o contacto com outros trabalhos que não o nosso. Aprende-se outras formas de fazer a mesma coisa ou formas de fazer outras coisas que até aí achávamos desinteressantes. Permite-nos encontrar uma visão mais pragmática e objectiva das coisas. Hoje dou por mim a ouvir com gosto uma música de qualquer tipo ou referência, ou pelo menos de quase de qualquer tipo... Acho que o melhor de tudo é o que acontece com as pessoas que se conhecem, tudo o que se passa, discute, procura e consegue, num espaço especial. Às vezes também gosto de estar sozinho, olhar em volta, respirar fundo e sorrir.
Qual é a vossa experiência ao vivo como Musgo recentemente? Sei que tocaram na Galeria Zé dos Bois há relativamente pouco tempo… como são as vossas actuações? É fácil encontrar locais para actuar em Portugal?
E.V.: Tocamos muito pouco ao vivo. Sabemos que a nossa música não é fácil de ser ouvida em qualquer lado por qualquer pessoa. Só resulta em alguns sítios. Não nos preocupamos muito com isso, embora gostasse-mos de ter mais experiências boas ao vivo. Recentemente tocámos na ZDB e no festival IMAGO.
R.A.: O concerto no festival imago foi a primeira vez que tocámos em duo e em que experimentámos tocar tudo em tempo real com as tais estruturas simples e permissivas. A crítica foi simpática e comparou-nos com o Brian Eno. De certa forma serviu para pormos à prova o que estávamos a pré-produzir. Na ZDB tocámos depois de termos gravado o Apneia e ficámos mais agarrados a sua forma.
Quais são os projectos electrónicos com que se identificam em Portugal? Que cenário fazem da música electrónica feita em território nacional?
R.A.: Não me identifico com nenhum assim por além. Durante a adolescência ouvia vezes sem conta o Plux Quba do Nuno Canavarro que me influenciou para sempre. O Rafael Toral também tem projectos bastante interessantes e recentemente um concerto do Phoebus na ZDB também me interessou bastante. Infelizmente não conheço muita música electrónica portuguesa, apesar de consumir muita música.
E.V.: Embora haja uma componente muito electrónica nos Musgo, não vejo musgo como um projecto electrónico. Temos muita coisa tocada, samplers e as nossas músicas não têm um formato muito estruturado. Talvez me identifique mais com projectos de música experimental. Também não penso muito nisso para dizer a verdade. Gosto das coisas do Nuno Canavarro e do Rafael Toral. Para ser honesto não tenho ouvido muita música que não a que se passa dentro do estúdio.
Está programado algum lançamento dos Musgo para breve? Com que regularidade compõem música?
E.V.: Hum, boa pergunta. Compomos quando nos apetece. Temos tido muito pouco tempo ultimamente com todos os diferentes projectos que temos gravado e produzido. Lançamento? Deixo a resposta para o Rodrigo!
R.A.: Gravámos o Apneia com o intuito de o mandar para editoras fora de Portugal. Estamos à espera de respostas. Em último caso sai por uma editora nacional. Brevemente.
Sentem-se inclinados para se colocarem lado a lado com esta nova vaga de música periférica que tem vindo a desenvolver-se em Portugal? Como acompanham o fenómeno?
E.V.: Sou bicho do mato. Não percebo muito de movimentos e vagas. Periférico não é um adjectivo descabido.
R.A.: Fico feliz quando penso que Portugal começa a sair da periferia com projectos como os Loosers na headz. Mas é preciso fazer muito mais para produzirmos música com valor periférico internacional, como por exemplo, melhorar o sistema de educação e gerar cultura.
andregomes@bodyspace.net
ÚLTIMAS ENTREVISTAS

ÚLTIMAS