Que tens feito ultimamente? Tens-te dedicado a algum material novo?
Terminei recentemente uma digressão e participei como actor num filme francês. Agora estou a ultimar os últimos detalhes para o primeiro de 200 livros que escreverei em vida.
Fala-me um pouco mais desse filme...
Foi apenas uma experiência com um realizador francês bem porreiro. Tornar-se-á famoso nos próximos anos. Pressinto isso no seu olhar. Interpretei o principal personagem. Desde sempre que odiava a ideia de interpretação, mas arrisquei e dei conta de que nasci para isto. É-me incrivelmente fácil ser outra pessoa.
Já agora, esclarece-me um pouco mais acerca do livro.
É um livro acerca do meu cérebro.
Atendendo ao número de composições que flutuavam por aí (cerca de 30, segundo consta), sentis-te impelido a excluir algumas das melhores só porque não pertenciam ao conjunto deste disco?
Sim, a regra é reunir o que se enquadra ao feeling dominante. Gosto de álbuns que o são pelo conjunto e não enquanto amontoado de músicas. Aprecio a sensação de uma grande obra de música que flúi pelos ouvidos adentro.
Como descreverias a atmosfera durante as sessões de estúdio? A descontracção era semelhante à que vemos no teledisco de “Dogs” (em que Troy e Adeline Fargier surgem no exterior a fumar um cigarro) ou chegaste a dar por ti imerso no processo?
Estive sozinho durante 99% do tempo que me tomou a gravação. Começava às três da tarde e só terminava pelas cinco da manhã. Nunca me permitia a intervalos. Aquele que se vê no teledisco de “Dogs” foi para que a Adeline pudesse descansar. Eu nunca descanso.
Sinto o magnetismo sexual de “Dogs” quase como uma actualização das dinâmicas homem / mulher que Serge Gainsbourg explorava. Equacionas continuar a explorar isso num futuro próximo?
Sim, adoro explorar o sexo. Era essa a questão? Obtenho as palavras que uso aos momentos passados dentro da minha namorada.
Referia-me mais concretamente à hipótese de em breve compores música para duetos...
Não sei, mas o interior da minha namorada inspira-me de facto.
© Magali Boye |
É verdade que chegaste a viver numa casa californiana que um dia serviu de moradia ao Leonard Cohen? Que músicas escreveste durante esse período? Foi de alguma forma inspirador ou é um cliché eu pensar desta forma?
Vivi com o Leonard Cohen durante o ano passado enquanto escrevia e gravava o disco. Escrevi-o à noite, no exterior, quando eles já estavam a dormir. Olhava para o seu quarto e a inspiração surgia como vinda do céu. Tornou tudo mais fácil.
Que músicas achas terem progredido de forma mais graciosa desde que levaste o disco em digressão?
Gosto da “Heroic Little Sister” e “Rainbow”, porque ganham uma dimensão diferente a cada vez que as toco ao vivo: produzo loops nos meus pedais e modifico-as a cada noite.
Planeias permanecer em França durante os próximos anos? A partir do exterior, pareces-me muito acarinhado por aí.
Não, preciso de sair de França imediatamente. Estou à procura de um outro lugar onde possa escrever. Se alguém estiver a ler estas minhas palavras, quero ir viver para tua casa!
Como conseguiste tocar tantos concertos em França sem sequer teres um álbum em nome próprio? Achas que o público francês estava familiarizado com os EPs ou vinham ao encontro do tipo que tocava nos Chokebore?
Tive sorte em ter amigos por aqui onde podia ficar. Também andei pela Alemanha, Áustria, Suiça e algumas partes de Itália, completamente sozinho. Fui eu próprio que marquei os concertos.
Sabes por onde andam os outros membros de Chokebore?
Berlim. Têm estado bem e parece-me felizes.
Como te sentis-te em relação aos motins em Paris? Achas que uma maior rotatividade radiofónica das tuas músicas podia ajudar as pessoas a acalmarem-se?
Sim.
Já alguém te disse que te pareces muito com o Vincent Gallo em algumas fotografias? Que opinião tens dele?
Tenho olhos grandes. A minha ex-namorada dizia-me que eu era mais bonito que ele, mas não tenho a certeza. De qualquer forma, não penso muito acerto do meu exterior. O meu interior é bem mais interessante. Em todo o caso, adoro a sua música.
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