ENTREVISTAS
Galgo
Excellent Portuguese Greyhound
· 06 Set 2015 · 15:16 ·
Quem vai ao Bandcamp dos Galgo pode sair de lá ligeiramente desiludido - para já, só estão apenas disponíveis para escuta duas canções do quarteto, que está já a preparar um EP a sair nos próximos tempos. Mas a desilusão é de pouca dura: "Torre De Babel" e "Trauma De Lagartixa" são óptimas malhas de rock (quase) instrumental, o sentido de vertigem aliado ao melódico e o ritmo impelindo à confusão entre os corpos. É bom, evidentemente. E, pasmemo-nos, só estas duas canções já os levaram à Hungria e a um festival como o Reverence Valada - onde, aliás, nos encontrámos com eles, num balneário destinado aos árbitros, meras horas após o Sporting ter sido vilipendiado na pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Estes são os Galgo: Alexandre Sousa, Miguel Figueiredo, Joana Batista e João Figueiras.
© Rita Sousa Vieira
Porquê "Galgo" e não "Husky"? Algum de vocês tem um galgo?
AS: [risos] Um amigo nosso tinha um galgo. Como é que ele se chamava? Era o Pedro, ya.
...O galgo chamava-se Pedro?
AS: Não, não! O nosso amigo é que se chamava Pedro. Tinha um galgo e nós costumávamos ir de férias com ele. E gostávamos muito do cão.
Vocês ainda só têm duas canções no Bandcamp. Estão neste momento a gravar o EP, no Black Sheep Studios. Porquê a escolha desse estúdio?
MF: Nós por acaso não conhecíamos o estúdio. Conhecemo-lo há pouco tempo, antes de irmos gravar, e foi a nossa agência, a Mira, que no-lo propôs. Tivemos essa oportunidade e aproveitámos.
Como é que estão a correr as gravações?
MF: Já acabámos. Agora estamos na fase de mistura.
Quando é que tencionam lançar o EP, e que título terá? Vai conter as duas canções que tinham no Bandcamp?
MF: Sai em Outubro e vai ter mais duas canções. [O título] ainda não está escolhido...
Como é que uma banda que só tem duas canções no Bandcamp dá um concerto na Hungria?
JB: Nós atravessámos uma fase muito complicada - como eu acho que a maior parte das bandas em Portugal atravessa - em que não conseguíamos arranjar concertos. Então, veio a fase dos concursos; foi através de um concurso da APORFEST, que nós conseguimos ganhar.
E como é que correu o concerto lá? Estava muita gente a ver? Ganharam fãs e likes no Facebook?
JB: A nossa agência proporcionou-nos [outro] concerto lá, num bar que é o A38. Esse concerto correu muito bem, conseguimos ter muita gente a curtir a cena, e depois notavas esse feedback mesmo nas redes sociais. Agora, mesmo no festival, como tocámos a uma hora um bocado complicada e a ilha [onde o festival se realiza] é muito dispersa... O festival tinha vinte palcos, e era um bocado complicado, àquela hora, estar lá pessoal. Portanto, esse concerto [em específico] não teve muita gente, não.
Falavam na dificuldade de arranjar concertos cá, mas serão capazes de concordar que nunca foi um momento tão bom para a música feita em Portugal.
JB: Sim... Acho que sim, que estamos num bom momento, mas acho que mesmo assim ainda não é valorizada como deve ser.
Queres desenvolver?
JB: Vemos muitas bandas que tinham capacidades para chegarem longe, e há certos entraves que acabam por [não o permitir].
Chegar longe implica dar mais concertos no estrangeiro, ou outra coisa diferente?
JB: Não, basta cá em Portugal. É preciso um bocado de ajuda... Quando a banda não tem material, então, é super difícil. Mesmo quando tem material. Nessa fase em que não tínhamos concertos era super complicado. E mesmo quando dávamos concertos, não nos tratavam propriamente bem.
MF: E como não havia nenhuma agência...
JB: Exacto! Quando não há ninguém por trás, parece que a banda são "só uns putos".
E como é que acham que isso se resolveria?
JB: Pá, é as bandas terem força e acabarem por demonstrar que as coisas não são bem assim. Dizerem que não são só uns putos, que conseguem fazer isto, e acabar por fazê-lo. E se calhar essa ideia acaba por ficar na consciência do pessoal que tem espaços para estas bandas poderem promover o seu trabalho.
Falavam da vossa agência, a Mira, aqui representada pelo Quesadilla. Porque é que ele fez tanta pressão para vos entrevistar?
MF: [risos] Epá, não sei. Ele é buéda fixe. JF: A Mira tem dado imenso apoio, tanto a nível de comunicação como de concertos. E mesmo o pessoal dá-se imensamente bem com eles, tem sido espectacular.
Que é uma "foda à Monção"?
AS: [risos] Isso só indo a Monção! Acho que é a melhor maneira de dizer o que é uma foda à Monção. JF: É muito bom.
JB: É g'anda foda, mesmo.
A seguir ao EP, vocês têm mais alguma coisa preparada? Ou ainda não planearam mais nada?
JF: Já está até bastante planeada...
AS: Continuar a dar concertos, e trabalhar.
Têm mais alguma coisa marcada, em termos de concertos?
JB: Sim. Ainda está muito no início, mas [a ideia] é explorar os palcos de Portugal.
AS: Temos um concerto no dia 22 de Outubro, no Jameson Urban Routes, que é quando vamos apresentar o EP. E depois, a partir daí, vamos dar vários concertos até Novembro. Vamos andar todos os fins-de-semanas a apresentá-lo pelo país.
Há algum sítio em especial onde gostassem de tocar?
AS: Mexefest.
Bem, também há concursos para o Mexefest, e vocês já tendo ganho dois...
AS: [risos] Sim... Mas há vários sítios onde gostávamos de tocar, sim.
JB: Paredes de Coura, por exemplo.
E uma banda para quem gostassem de fechar?
JB: Pá... Battles.
É curioso que digas isso, porque já vi referências ao som de Galgo enquanto pós-PAUS, e poderíamos dizer que PAUS é pós-Battles...
JB: Concerto perfeito: Galgo, PAUS, Battles.
Vocês fazem primeiro o instrumental e depois as letras? As vossas canções têm uma curiosidade; ao ouvir pensamos que será instrumental até ao fim e depois a voz surge de repente.
JB: O que está gravado, sim, dá essa sensação. Mas acabamos sempre por ser um bocado instrumentais. No final, quando achamos que falta ali uma coisinha, metemos voz. Mas é sempre complicado meter voz, porque somos mesmo instrumental.
E quanto às letras? Querem explicar a génese da "Torre De Babel"?
JB: Têm sempre uma historiazinha por trás...
AS: A "Torre De Babel" foi um bocado inspirada na lenda da Torre de Babel, mas também foi com o objectivo de mostrar algumas contradições. Por exemplo, nós dizemos [na canção] "tigre de papel", e isso é um bocado contraditório. Tigre é forte, mas papel é frágil. É um bocado antagónico.
Torre de Babel é uma referência bíblica. Vocês são católicos?
AS: Não, não. Mas gostámos da história e achámos interessante colocar.
O que é que vos influencia mais, em termos de ideias para as letras e para os títulos das canções? Vão buscar a livros, a filmes?
AS: Eu acho que surge um bocado naturalmente.
JB: Nós temos muitos momentos - e não sei se posso dizer esta expressão - de diarreia mental. E como somos todos amigos, como nos damos todos muito bem, vamos todos para os mesmos sítios, acabamos por ter assim momentos... Sei lá, [por exemplo] no Bairro Alto: estamos ali a chillar e acabamos por dizer coisas parvas de onde sai uma ideia de que nós gostamos.
Qual é o vosso spot preferido no Bairro Alto?
JB: É ali um spot ao pé do Indie Rock Café. Acho que agora já nem existe.
AS: Durante muito tempo foi o Indie Rock, mas agora também passamos mais tempo no estúdio.
JB: E, agora, também passamos bastante tempo no Cais do Sodré. Ou a dar concertos ou a chillar. Musicbox e afins.
Quantos de vocês é que o Luís Lucena já beijou na boca?
JB: Acho que nenhum! Já esteve lá perto... JF: Vou falar por mim: nunca chegou a acontecer, apesar de eu ter algum desejo... E sei que o Lucena também tem esse desejo, portanto, Lucena, se me estás a ouvir...
Consideram-se pessoas ligadas à política? Como é que vêem a situação na Hungria - já que lá tocaram - e a construção do muro?
JF: É um bocado complicado ver as imagens nas notícias que vemos hoje em dia. Ontem ou anteontem vi a imagem de um pai a segurar um bebé e a tentá-lo passar para o outro lado... E acho um bocado restritivas as medidas que eles estão a tomar.
Achas que há alguma solução para isso?
JF: [Ter uma] solução é muito complicado, porque tem tudo a ver com uma envolvência global - se na Hungria acontece isto, depois também irá haver pressão nos outros países. Por exemplo a Inglaterra, a Alemanha. Acho que deveria ser tomada uma decisão mais humana e não tão económica.
MF: Eu acho que dá para sentir isso nas pessoas, em Budapeste. Não estão felizes. Isto em Budapeste. No festival [onde tocámos] era só estrangeiros a curtir [as bandas], e parece que à volta não se está a passar nada. O festival até se chama "Ilha da Liberdade", o que é super contraditório.
Já disseram ao Adolfo [Luxúria Canibal] que foram tocar a Budapeste?
MF: [risos] Não, mas as noites de Budapeste são óptimas. Eu, pelo menos, presenciei e adorei. Os Mão Morta têm razão!
Paulo CecílioAS: [risos] Um amigo nosso tinha um galgo. Como é que ele se chamava? Era o Pedro, ya.
...O galgo chamava-se Pedro?
AS: Não, não! O nosso amigo é que se chamava Pedro. Tinha um galgo e nós costumávamos ir de férias com ele. E gostávamos muito do cão.
Vocês ainda só têm duas canções no Bandcamp. Estão neste momento a gravar o EP, no Black Sheep Studios. Porquê a escolha desse estúdio?
MF: Nós por acaso não conhecíamos o estúdio. Conhecemo-lo há pouco tempo, antes de irmos gravar, e foi a nossa agência, a Mira, que no-lo propôs. Tivemos essa oportunidade e aproveitámos.
Como é que estão a correr as gravações?
MF: Já acabámos. Agora estamos na fase de mistura.
Quando é que tencionam lançar o EP, e que título terá? Vai conter as duas canções que tinham no Bandcamp?
MF: Sai em Outubro e vai ter mais duas canções. [O título] ainda não está escolhido...
Como é que uma banda que só tem duas canções no Bandcamp dá um concerto na Hungria?
JB: Nós atravessámos uma fase muito complicada - como eu acho que a maior parte das bandas em Portugal atravessa - em que não conseguíamos arranjar concertos. Então, veio a fase dos concursos; foi através de um concurso da APORFEST, que nós conseguimos ganhar.
E como é que correu o concerto lá? Estava muita gente a ver? Ganharam fãs e likes no Facebook?
JB: A nossa agência proporcionou-nos [outro] concerto lá, num bar que é o A38. Esse concerto correu muito bem, conseguimos ter muita gente a curtir a cena, e depois notavas esse feedback mesmo nas redes sociais. Agora, mesmo no festival, como tocámos a uma hora um bocado complicada e a ilha [onde o festival se realiza] é muito dispersa... O festival tinha vinte palcos, e era um bocado complicado, àquela hora, estar lá pessoal. Portanto, esse concerto [em específico] não teve muita gente, não.
Falavam na dificuldade de arranjar concertos cá, mas serão capazes de concordar que nunca foi um momento tão bom para a música feita em Portugal.
JB: Sim... Acho que sim, que estamos num bom momento, mas acho que mesmo assim ainda não é valorizada como deve ser.
Queres desenvolver?
JB: Vemos muitas bandas que tinham capacidades para chegarem longe, e há certos entraves que acabam por [não o permitir].
© Rita Sousa Vieira
Chegar longe implica dar mais concertos no estrangeiro, ou outra coisa diferente?
JB: Não, basta cá em Portugal. É preciso um bocado de ajuda... Quando a banda não tem material, então, é super difícil. Mesmo quando tem material. Nessa fase em que não tínhamos concertos era super complicado. E mesmo quando dávamos concertos, não nos tratavam propriamente bem.
MF: E como não havia nenhuma agência...
JB: Exacto! Quando não há ninguém por trás, parece que a banda são "só uns putos".
E como é que acham que isso se resolveria?
JB: Pá, é as bandas terem força e acabarem por demonstrar que as coisas não são bem assim. Dizerem que não são só uns putos, que conseguem fazer isto, e acabar por fazê-lo. E se calhar essa ideia acaba por ficar na consciência do pessoal que tem espaços para estas bandas poderem promover o seu trabalho.
Falavam da vossa agência, a Mira, aqui representada pelo Quesadilla. Porque é que ele fez tanta pressão para vos entrevistar?
MF: [risos] Epá, não sei. Ele é buéda fixe. JF: A Mira tem dado imenso apoio, tanto a nível de comunicação como de concertos. E mesmo o pessoal dá-se imensamente bem com eles, tem sido espectacular.
Que é uma "foda à Monção"?
AS: [risos] Isso só indo a Monção! Acho que é a melhor maneira de dizer o que é uma foda à Monção. JF: É muito bom.
JB: É g'anda foda, mesmo.
A seguir ao EP, vocês têm mais alguma coisa preparada? Ou ainda não planearam mais nada?
JF: Já está até bastante planeada...
AS: Continuar a dar concertos, e trabalhar.
Têm mais alguma coisa marcada, em termos de concertos?
JB: Sim. Ainda está muito no início, mas [a ideia] é explorar os palcos de Portugal.
AS: Temos um concerto no dia 22 de Outubro, no Jameson Urban Routes, que é quando vamos apresentar o EP. E depois, a partir daí, vamos dar vários concertos até Novembro. Vamos andar todos os fins-de-semanas a apresentá-lo pelo país.
Há algum sítio em especial onde gostassem de tocar?
AS: Mexefest.
Bem, também há concursos para o Mexefest, e vocês já tendo ganho dois...
AS: [risos] Sim... Mas há vários sítios onde gostávamos de tocar, sim.
JB: Paredes de Coura, por exemplo.
E uma banda para quem gostassem de fechar?
JB: Pá... Battles.
É curioso que digas isso, porque já vi referências ao som de Galgo enquanto pós-PAUS, e poderíamos dizer que PAUS é pós-Battles...
JB: Concerto perfeito: Galgo, PAUS, Battles.
Vocês fazem primeiro o instrumental e depois as letras? As vossas canções têm uma curiosidade; ao ouvir pensamos que será instrumental até ao fim e depois a voz surge de repente.
JB: O que está gravado, sim, dá essa sensação. Mas acabamos sempre por ser um bocado instrumentais. No final, quando achamos que falta ali uma coisinha, metemos voz. Mas é sempre complicado meter voz, porque somos mesmo instrumental.
E quanto às letras? Querem explicar a génese da "Torre De Babel"?
JB: Têm sempre uma historiazinha por trás...
AS: A "Torre De Babel" foi um bocado inspirada na lenda da Torre de Babel, mas também foi com o objectivo de mostrar algumas contradições. Por exemplo, nós dizemos [na canção] "tigre de papel", e isso é um bocado contraditório. Tigre é forte, mas papel é frágil. É um bocado antagónico.
Torre de Babel é uma referência bíblica. Vocês são católicos?
AS: Não, não. Mas gostámos da história e achámos interessante colocar.
O que é que vos influencia mais, em termos de ideias para as letras e para os títulos das canções? Vão buscar a livros, a filmes?
AS: Eu acho que surge um bocado naturalmente.
JB: Nós temos muitos momentos - e não sei se posso dizer esta expressão - de diarreia mental. E como somos todos amigos, como nos damos todos muito bem, vamos todos para os mesmos sítios, acabamos por ter assim momentos... Sei lá, [por exemplo] no Bairro Alto: estamos ali a chillar e acabamos por dizer coisas parvas de onde sai uma ideia de que nós gostamos.
Qual é o vosso spot preferido no Bairro Alto?
JB: É ali um spot ao pé do Indie Rock Café. Acho que agora já nem existe.
AS: Durante muito tempo foi o Indie Rock, mas agora também passamos mais tempo no estúdio.
JB: E, agora, também passamos bastante tempo no Cais do Sodré. Ou a dar concertos ou a chillar. Musicbox e afins.
Quantos de vocês é que o Luís Lucena já beijou na boca?
JB: Acho que nenhum! Já esteve lá perto... JF: Vou falar por mim: nunca chegou a acontecer, apesar de eu ter algum desejo... E sei que o Lucena também tem esse desejo, portanto, Lucena, se me estás a ouvir...
Consideram-se pessoas ligadas à política? Como é que vêem a situação na Hungria - já que lá tocaram - e a construção do muro?
JF: É um bocado complicado ver as imagens nas notícias que vemos hoje em dia. Ontem ou anteontem vi a imagem de um pai a segurar um bebé e a tentá-lo passar para o outro lado... E acho um bocado restritivas as medidas que eles estão a tomar.
Achas que há alguma solução para isso?
JF: [Ter uma] solução é muito complicado, porque tem tudo a ver com uma envolvência global - se na Hungria acontece isto, depois também irá haver pressão nos outros países. Por exemplo a Inglaterra, a Alemanha. Acho que deveria ser tomada uma decisão mais humana e não tão económica.
MF: Eu acho que dá para sentir isso nas pessoas, em Budapeste. Não estão felizes. Isto em Budapeste. No festival [onde tocámos] era só estrangeiros a curtir [as bandas], e parece que à volta não se está a passar nada. O festival até se chama "Ilha da Liberdade", o que é super contraditório.
Já disseram ao Adolfo [Luxúria Canibal] que foram tocar a Budapeste?
MF: [risos] Não, mas as noites de Budapeste são óptimas. Eu, pelo menos, presenciei e adorei. Os Mão Morta têm razão!
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