ENTREVISTAS
Sensible Soccers
Crescendo por você
· 24 Mar 2014 · 23:27 ·
© Rogério Nuno Costa
Quão difícil foi mudar de um formato mais curto para um de longa-duração considerando que este disco surge trêss anos volvidos do vosso EP homónimo? Em que medida é que tiveram de mudar os vossos hábitos de trabalho e o vosso modo de pensar criativo, se é que isso aconteceu?
Hugo Alfredo Gomes: Não foi só uma questão de mudar de hábitos, mas sim de ter outras condições para gravar um disco como se pretendia. Quando falo de condições, falo de material emprestado, sobretudo, e de ter uma ideia concreta para exibir em disco. No entanto, mudámos os hábitos de alimentação, por exemplo... sinto que comemos melhor na produção deste disco do que na do primeiro EP. Dantes era tudo muito à base de carne de porco e agora apostamos mais na carne de vaca e numas sopas.
EduardoEmanuel Botelho: Naturalmente que mudámos coisas no método de trabalho, e essa era uma das nossas vontades com este trabalho, independentemente de ser um longa-duração. Na verdade até começou por ser pensado como mais um EP e depois cresceu nesse sentido. Mas a intenção de evoluir em certas coisas estava subjacente desde o início. Acho que conseguimos um pouco isso.
Filipe Azevedo: Pode-se falar mais num acrescento de competências do que mudanças. São coisas naturais da evolução. Se não há nada disso mais vale ficar em casa.
Manuel Justo: Estais a falar bem!
"Nikopol", "Sob Evariste Dibo", "Ulrike"... qual é a história por detrás dos nomes das canções?
HAG: Ao longo do disco todo está presente a ideia de homenagem. O Nikopol é uma personagem de BD, o Dibo um craque marfinense do Rio Ave e Ulrike uma activista política de esquerda por detrás dum movimento revolucionário na Alemanha do final dos anos 60, início dos 70 [n.a.: Grupo Baader-Meinhof]. As outras músicas também são pessoas ou personagens. E um gato.
EB: É como diz o Hugo, dá-nos gozo podermos homenagear personagens e pessoas, mas também há outras coisas que homenageamos neste disco, como o espírito de colaboração e entreajuda. Não seria possível termos feito este disco como ele é sem a quantidade impressionante de material que nos emprestaram, e sem o input criativo de uma série de amigos, do nosso engenheiro de som João Moreira, aos convidados que tivemos o prazer de ter no disco.
FA: São homenagens, requiems, referências, mimos, numa conta redonda que dá 8.
MJ: Concordo com tudo o que acima foi dito!
Que razão esteve por detrás do lançamento do disco primeiro em cassete, e de forma limitada? Assumem-se como nostálgicos inveterados?
EB: Há vários motivos que podem explicar o porquê de nós (e de muito mais gente nos últimos 3-4 anos) ter editado em cassete, revitalizando um formato que esteve à beira da morte. No nosso caso até já o tínhamos feito no primeiro EP, e voltámos a fazê-lo agora. A edição em cassete tem essa carga nostálgica de que falas, mas também tem um lado prático muito importante: é extremamente barata de produzir. Isso permite também que seja acessível ao público, e a questão de já muita gente não ter como reproduzir cassetes é um pouco falaciosa: na verdade, quem compra formatos físicos, quaisquer que sejam esses formatos, vai mesmo assim ouvir na esmagadora maioria das vezes a versão digital, por conveniência. A compra de formatos físicos está cada vez mais associada a lógicas de coleccionismo mais do que de preferência na forma de reprodução (fazendo a devida excepção parcial ao vinil, que continua a ser um formato mais aliciante para a reprodução do que os restantes).
HAG: A carga nostálgica que referes, no nosso caso, não se aplica apenas nos formatos que escolhemos para mostrar o disco. Isso está presente na nossa linguagem desde o princípio da banda. Damos muito valor a todo o tipo de clássicos e recorremos a eles nas nossas conversas e nas nossas homenagens. Mesmo na nossa música se calhar esse sentimento vai aparecendo aqui e ali.
MJ: Quando assim é, de facto, não me restam muitas palavras. Os meus companheiros falam muito bem.
Normalmente os vossos concertos são mais mexidos, vemo-vos tocar as vossas canções mais gingonas - sendo que vocês também tem lados mais soft como por exemplo, neste disco, a "Paulo Firmino" e a "Maria Rosa". De que maneira diferenciam os Sensible Soccers ao vivo dos Sensible Soccers dos discos? Sentem a necessidade de se adaptarem à ocasião?
EB: A necessidade de adaptação dos nossos temas para o palco é algo que sentimos desde o início, nuns casos por ser impossível de replicar ao vivo o que está gravado, mas sempre porque sentimos que isso não é muito desejável. Gostamos que exista essa energia extra ao vivo, mas nesta nova fase de concertos também exploramos a carga emocional de coisas menos apelativas à dança. Sentimos que isso tem resultado muito bem, e que a aposta em alterar o espectáculo ao vivo, de uma progressão de início ao fim para uma experiência sónica com mais mudanças de cadência, mais altos e baixos, por assim dizer, é uma aposta que tem tido sucesso conforme vamos consolidando o novo espectáculo ao vivo.
HAG: O disco é para ser ouvido em casa, de phones ou estendido num sofá a olhar para umas colunas. É assim que imaginamos a audição do 8 e sentimos que isso pede menos inquietude que a que apresentamos ao vivo. Enquanto músicas como a "AFG" e a "Dibo" foram construídas inicialmente para serem tocadas ao vivo e posteriormente propostas de outra forma para disco, a "Nikopol", a "Lima" e a "Ulrike" foram direccionadas claramente para o álbum. A "Manuel" foi tocada durante dois anos numa versão de que abdicámos porque não nos furava aquando da gravação e então, para o disco, foi totalmente mudada. É uma música nova.
FA: É uma adaptação natural que passa por uma interpretação dos temas e não a sua reprodução. A nossa vontade sempre foi dar intensidade, dentro dos possíveis, aos temas na sua apresentação em concerto.
Em que é que o concerto no Boiler Room vos beneficiou para além da maior exposição que alcançaram Considerando que é um evento maioritariamente destinado à música de dança, foi essa experiência que vos levou a incluir cada vez mais elementos deste género no vosso som, como por exemplo na "Sofrendo Por Você" o ano passado e na "AFG" agora? A vossa actuação no Boom Festival deste ano poderá aumentar ainda mais estas influências?
HAG: Com o apoio moral do resto da banda: A "AFG" e a "Sofrendo" existem antes da nossa ida ao Boiler Room. Nunca pensámos que tínhamos que tornar as nossas músicas mais ou menos dançáveis ou mais ou menos isto ou aquilo. A inclusão desses elementos foi natural e penso que nitidamente genuína, uma vez que somos dançarinos fantásticos e isso precisava de ser alimentado de alguma maneira. O Boiler Room abriu-nos muitas portas e gerou algum buzz à volta da banda, principalmente nas semanas seguintes. Fomos contratados para um casamento na Madeira por causa do Boiler Room, por exemplo... Já o Boom é algo que só vai acontecer no verão, ainda falta muito tempo.
MJ: Pode é acontecer que no Boom toquemos um set mais energético, mas essa adaptação existe a qualquer outro espaço. Num teatro tocamos uma "Maria Rosa", o Filipe pode entrar sozinho sob um feixe de luz e tocar um "Paulo Firmino". Já num café-concerto, não faz muito sentido. Parece-me que esse tipo de coisas nunca influenciará o nosso rumo.
Onde foi gravado o disco, e com o auxílio de quem?
HAG: O disco foi produzido pelo Filipe Azevedo e pelo João Moreira. Fomos ajudados pelos Evols, com material emprestado, pelo André Simão, dos La La La Ressonance e Dear Telephone, pelo Pedro Oliveira dos Dear Telephone e peixe:avião e pelo Luís Fernandes, de The Astroboy e peixe:avião, que nos emprestaram material e talento. A Meifumado também nos emprestou um bom aparelho. O André Covas fez a capa a partir de uma foto do Filipe. A Groovement e a PAD foram muito importantes nisto tudo.
Poderá a "AFG" vir a ter um videoclip tão épico como o teve a "Sofrendo Por Você"?
HAG: Para já não está planeado nenhum video para o 8, o que não quer dizer que não vá acontecer. A "Sofrendo" é um acto isolado. A música, o vídeo e toda a linguagem à volta da "Sofrendo" representam um pouco o fim do que fomos até à gravação do 8.
MJ: A "AFG" poderá ter um videoclip tão épico como teve a "Sofrendo Por Você"!
Agora que o Cristiano Ronaldo partilhou um vídeo com a "Twin Turbo", qual é o limite para os Sensible Soccers?
HAG: Não sei.
MJ: Sei lá. Temos é que evoluir e continuar com sangue na guelra para continuar. E, sem medo, ir até onde nos deixarem.
EB: Eu confesso que também não sei, mas o que o Né disse foi muito bem dito!...
Paulo CecílioHugo Alfredo Gomes: Não foi só uma questão de mudar de hábitos, mas sim de ter outras condições para gravar um disco como se pretendia. Quando falo de condições, falo de material emprestado, sobretudo, e de ter uma ideia concreta para exibir em disco. No entanto, mudámos os hábitos de alimentação, por exemplo... sinto que comemos melhor na produção deste disco do que na do primeiro EP. Dantes era tudo muito à base de carne de porco e agora apostamos mais na carne de vaca e numas sopas.
Filipe Azevedo: Pode-se falar mais num acrescento de competências do que mudanças. São coisas naturais da evolução. Se não há nada disso mais vale ficar em casa.
Manuel Justo: Estais a falar bem!
"Nikopol", "Sob Evariste Dibo", "Ulrike"... qual é a história por detrás dos nomes das canções?
HAG: Ao longo do disco todo está presente a ideia de homenagem. O Nikopol é uma personagem de BD, o Dibo um craque marfinense do Rio Ave e Ulrike uma activista política de esquerda por detrás dum movimento revolucionário na Alemanha do final dos anos 60, início dos 70 [n.a.: Grupo Baader-Meinhof]. As outras músicas também são pessoas ou personagens. E um gato.
EB: É como diz o Hugo, dá-nos gozo podermos homenagear personagens e pessoas, mas também há outras coisas que homenageamos neste disco, como o espírito de colaboração e entreajuda. Não seria possível termos feito este disco como ele é sem a quantidade impressionante de material que nos emprestaram, e sem o input criativo de uma série de amigos, do nosso engenheiro de som João Moreira, aos convidados que tivemos o prazer de ter no disco.
FA: São homenagens, requiems, referências, mimos, numa conta redonda que dá 8.
MJ: Concordo com tudo o que acima foi dito!
© Vera Marmelo
Que razão esteve por detrás do lançamento do disco primeiro em cassete, e de forma limitada? Assumem-se como nostálgicos inveterados?
EB: Há vários motivos que podem explicar o porquê de nós (e de muito mais gente nos últimos 3-4 anos) ter editado em cassete, revitalizando um formato que esteve à beira da morte. No nosso caso até já o tínhamos feito no primeiro EP, e voltámos a fazê-lo agora. A edição em cassete tem essa carga nostálgica de que falas, mas também tem um lado prático muito importante: é extremamente barata de produzir. Isso permite também que seja acessível ao público, e a questão de já muita gente não ter como reproduzir cassetes é um pouco falaciosa: na verdade, quem compra formatos físicos, quaisquer que sejam esses formatos, vai mesmo assim ouvir na esmagadora maioria das vezes a versão digital, por conveniência. A compra de formatos físicos está cada vez mais associada a lógicas de coleccionismo mais do que de preferência na forma de reprodução (fazendo a devida excepção parcial ao vinil, que continua a ser um formato mais aliciante para a reprodução do que os restantes).
HAG: A carga nostálgica que referes, no nosso caso, não se aplica apenas nos formatos que escolhemos para mostrar o disco. Isso está presente na nossa linguagem desde o princípio da banda. Damos muito valor a todo o tipo de clássicos e recorremos a eles nas nossas conversas e nas nossas homenagens. Mesmo na nossa música se calhar esse sentimento vai aparecendo aqui e ali.
MJ: Quando assim é, de facto, não me restam muitas palavras. Os meus companheiros falam muito bem.
Normalmente os vossos concertos são mais mexidos, vemo-vos tocar as vossas canções mais gingonas - sendo que vocês também tem lados mais soft como por exemplo, neste disco, a "Paulo Firmino" e a "Maria Rosa". De que maneira diferenciam os Sensible Soccers ao vivo dos Sensible Soccers dos discos? Sentem a necessidade de se adaptarem à ocasião?
EB: A necessidade de adaptação dos nossos temas para o palco é algo que sentimos desde o início, nuns casos por ser impossível de replicar ao vivo o que está gravado, mas sempre porque sentimos que isso não é muito desejável. Gostamos que exista essa energia extra ao vivo, mas nesta nova fase de concertos também exploramos a carga emocional de coisas menos apelativas à dança. Sentimos que isso tem resultado muito bem, e que a aposta em alterar o espectáculo ao vivo, de uma progressão de início ao fim para uma experiência sónica com mais mudanças de cadência, mais altos e baixos, por assim dizer, é uma aposta que tem tido sucesso conforme vamos consolidando o novo espectáculo ao vivo.
HAG: O disco é para ser ouvido em casa, de phones ou estendido num sofá a olhar para umas colunas. É assim que imaginamos a audição do 8 e sentimos que isso pede menos inquietude que a que apresentamos ao vivo. Enquanto músicas como a "AFG" e a "Dibo" foram construídas inicialmente para serem tocadas ao vivo e posteriormente propostas de outra forma para disco, a "Nikopol", a "Lima" e a "Ulrike" foram direccionadas claramente para o álbum. A "Manuel" foi tocada durante dois anos numa versão de que abdicámos porque não nos furava aquando da gravação e então, para o disco, foi totalmente mudada. É uma música nova.
FA: É uma adaptação natural que passa por uma interpretação dos temas e não a sua reprodução. A nossa vontade sempre foi dar intensidade, dentro dos possíveis, aos temas na sua apresentação em concerto.
© Vera Marmelo
Em que é que o concerto no Boiler Room vos beneficiou para além da maior exposição que alcançaram Considerando que é um evento maioritariamente destinado à música de dança, foi essa experiência que vos levou a incluir cada vez mais elementos deste género no vosso som, como por exemplo na "Sofrendo Por Você" o ano passado e na "AFG" agora? A vossa actuação no Boom Festival deste ano poderá aumentar ainda mais estas influências?
HAG: Com o apoio moral do resto da banda: A "AFG" e a "Sofrendo" existem antes da nossa ida ao Boiler Room. Nunca pensámos que tínhamos que tornar as nossas músicas mais ou menos dançáveis ou mais ou menos isto ou aquilo. A inclusão desses elementos foi natural e penso que nitidamente genuína, uma vez que somos dançarinos fantásticos e isso precisava de ser alimentado de alguma maneira. O Boiler Room abriu-nos muitas portas e gerou algum buzz à volta da banda, principalmente nas semanas seguintes. Fomos contratados para um casamento na Madeira por causa do Boiler Room, por exemplo... Já o Boom é algo que só vai acontecer no verão, ainda falta muito tempo.
MJ: Pode é acontecer que no Boom toquemos um set mais energético, mas essa adaptação existe a qualquer outro espaço. Num teatro tocamos uma "Maria Rosa", o Filipe pode entrar sozinho sob um feixe de luz e tocar um "Paulo Firmino". Já num café-concerto, não faz muito sentido. Parece-me que esse tipo de coisas nunca influenciará o nosso rumo.
Onde foi gravado o disco, e com o auxílio de quem?
HAG: O disco foi produzido pelo Filipe Azevedo e pelo João Moreira. Fomos ajudados pelos Evols, com material emprestado, pelo André Simão, dos La La La Ressonance e Dear Telephone, pelo Pedro Oliveira dos Dear Telephone e peixe:avião e pelo Luís Fernandes, de The Astroboy e peixe:avião, que nos emprestaram material e talento. A Meifumado também nos emprestou um bom aparelho. O André Covas fez a capa a partir de uma foto do Filipe. A Groovement e a PAD foram muito importantes nisto tudo.
Poderá a "AFG" vir a ter um videoclip tão épico como o teve a "Sofrendo Por Você"?
HAG: Para já não está planeado nenhum video para o 8, o que não quer dizer que não vá acontecer. A "Sofrendo" é um acto isolado. A música, o vídeo e toda a linguagem à volta da "Sofrendo" representam um pouco o fim do que fomos até à gravação do 8.
MJ: A "AFG" poderá ter um videoclip tão épico como teve a "Sofrendo Por Você"!
Agora que o Cristiano Ronaldo partilhou um vídeo com a "Twin Turbo", qual é o limite para os Sensible Soccers?
HAG: Não sei.
MJ: Sei lá. Temos é que evoluir e continuar com sangue na guelra para continuar. E, sem medo, ir até onde nos deixarem.
EB: Eu confesso que também não sei, mas o que o Né disse foi muito bem dito!...
pauloandrececilio@gmail.com
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