ENTREVISTAS
Aspen
Heavyqualquercoisa
· 08 Nov 2011 · 22:22 ·
© Filipa Alves
O primeiro contacto que alguém nascido no final da década de 80 terá tido com o nome Aspen foi nos Doidos À Solta, esse filme brilhante que rendeu muitas gargalhadas em domingos à tarde. Ei, éramos putos. Hoje já não, e hoje sabemos que Aspen não é só uma cidade no Colorado; é uma banda de peso Barcelense, e o nosso primeiro contacto com eles foi, claro está, através dessa plataforma gigante que é a internet - e daí o facto desta entrevista ter sido feita por e-mail. Erguidos das cinzas dos Cosmic Vishnu, o que move o agora trio é o que move quase toda a gente saída dessa cidade a norte: o riff. Bruto, carregado, psicadélico. Prestes a lançar o seu EP de estreia, o videoclip que o acompanhará e a partir para os concertos ao vivo, fomos indagar os Aspen sobre o que para eles significa a mudança.
Vocês sabiam que há uma banda de São Paulo que também se chama Aspen? Isto não será motivo para os processar ou para organizar uma noite Aspen + Aspen?

Cristiano Veloso: Sim, acho que todos nós já tínhamos conhecimento não só dessa banda, mas de todos os outros projectos com o mesmo nome espalhados pelo mundo. Processar penso que não seria a melhor saída, no entanto adorei a ideia de poder partilhar o mesmo palco com outra banda com o mesmo nome e com uma sonoridade tão diferente. Apesar de gostar dos Aspen de São Paulo, este country seria perfeito para um domingo à tarde. Ou, para a malta mais pesada, fica também a dica.

© Filipa Alves

O que é que me podem dizer acerca do Winds of Revenge que não tenham dito a mais ninguém?

CV: O Winds Of Revenge significa um ponto de viragem para nós, quase como que uma chamada de atenção relativamente à existência de Aspen. Ao mesmo tempo poderá ser um ponto de partida ou um “recomeço” protagonizado por uma banda que já há muito sonhava poder realizar um EP, e ver esse mesmo ser distribuído por alguém que compreendesse o conceito e o verdadeiro significado por detrás de cada música. Reunidas as condições, e já depois da gravação, olhando ao tempo em que estivemos parados e olhando as músicas que tínhamos para este primeiro registo, achámos finalmente um nome onde conseguíssemos associar tudo isso.

O resultado final agradou-vos? Sendo que é o EP de estreia, acham que ficou alguma aresta por limar ou a direcção que aí tomaram é aquela que vão seguir no futuro?

CV: Para ser sincero, não estava nada à espera que o resultado final fosse tão “bom”, assim como também não estava à espera de encontrar duas pessoas realmente interessadas e apaixonadas por aquilo que fazem, com um espaço cheio de condições e bom ambiente. Neste caso o João e o Cláudio dos estúdios Sá da Bandeira. Acho que não ficou nenhuma aresta por limar, foi tudo feito com dedicação e com tempo, tanto da nossa parte como da parte de quem grava. Conseguimos “pôr em cima da mesa” tudo aquilo que tínhamos idealizado para o primeiro registo de uma forma muito natural e precisa, funcionámos todos como uma equipa à procura do mesmo e, quando assim é, o resultado é sempre muito positivo. A nossa direcção já estava definida mesmo antes de entrarmos em estúdio, no entanto, com o passar do tempo, o mais certo é explorarmos outras sonoridades sem fugir ao ponto que nos destaca.

Qual foi o vosso primeiro pensamento assim que viram o artwork genial que o André Coelho fez para o disco?

CV: Depois de ver o artwork, acho que todos nós pensámos: estamos de facto a “trabalhar” com alguém com muito conhecimento e talento. Alguém que sabe enquadrar vários géneros ou vários “espaços” no seu devido lugar, alguém que consegue passar uma ou mais sonoridades para o papel, sempre da melhor maneira. Mas ao lado do André Coelho está uma equipa que nos ajudou sem dúvida a “colorir” este Winds Of Revenge. Falo do Pedro Agra na realização do videoclip de estreia e também das fotos promocionais tiradas pela Filipa Alves. E claro, da Lovers & Lollypops.

Lançar o EP pela Lovers & Lollypops é de algum modo uma pressão extra porque todas as bandas que lá estão são do caraças e vocês têm de manter o nível?

CV: Acho que nenhum de nós encara este “processo” dessa maneira, isto funciona como uma “família” que se ajuda e que se esforça por ver as coisas acontecerem da melhor maneira possível. Se essa pressão existisse, acho que não fazia sentido estarmos ao lado desta editora que tanto se destaca pelo excelente relacionamento e pela vontade de criar e dar a conhecer. Se assim fosse, assinaríamos um contracto, e talvez estivéssemos a trabalhar com outras editoras do género “relação unicamente profissional”. E nesse caso faria todo o sentido sentirmos essa pressão em relação ao nível desenvolvido por essa editora e por todas as bandas com quem essa mesma trabalhasse. Temos noção do valor da Lovers & Lollypops e de todas as bandas associadas, no entanto isso passa-nos um pouco ao lado. O nosso objectivo passa essencialmente por dar a conhecer tudo o que temos feito, por tocar em mais sítios e para mais pessoas, de maneira a ter um pouco mais de visibilidade; como tal, acho que estamos a trabalhar com as pessoas certas.

© Filipa Alves

Sentem-se preparados para o começar a apresentar ao vivo? A máquina já está a carburar?

Tiago Pereira: Sim, pode-se dizer que a máquina está bem oleada e pronta a carburar! Durante o tempo que estivemos a preparar o EP fomos preparando as coisas, direccionando e trabalhando sempre num registo mais live que nos deu margem também para trabalhar e assentar ideias a gravar, de modo a transmitir da melhor forma possível aquilo que queremos a quem nos ouve nos dois registos.

O facto de não passarem por Lisboa é sinónimo de que nos odeiam?

TP:Haha. Não, de modo algum! Já por aí passamos com os Throes em Setembro do ano passado, não tendo sido uma experiência verdadeira no que toca a um concerto de Aspen, não retirando a vontade de aí regressar e poder passar e proporcionar uma bela noite assim que a oportunidade surgir.

O que é que ficou dos Cosmic Vishnu nestes Aspen? Porquê a mudança?

TP: É curioso, porque no que toca ao som que exploramos agora podem, se calhar, notar-se algumas reminiscências de Cosmic Vishnu. A razão pela qual decidimos mudar foi pelo facto de talvez nos termos cansado um pouco do designado stoner rock, stoner doom, ou o tag que lhe quiserem colocar, e explorar outro tipo de sonoridades que nos surgiam na altura sendo elas bastante diferentes do estilo que caracterizava Cosmic Vishnu; e, como tal, achámos que não seria por bem fazer uma mudança tão radical e continuar com o mesmo projecto, e o criar de um novo projecto daria maior ênfase àquilo que exploravamos então, que se baseava em sonoridades mais ambientais, post, psicadélicas e outras. Contudo acabámos com o tempo por regressar às "origens" no que toca a uma direcção mais parecida com Cosmic, alargando um pouco mais os horizontes e encorporando outros estilos dentro da globalidade do que se pode chamar heavy rock, com o qual nos identificamos.

Já têm o videoclip pronto? Como correram as gravações?

TP: O videoclip está prontíssimo! As gravações correram muito bem, trabalhar com pessoas como o Pedro Agra é sempre um prazer, e, acompanhados pela familia Lovers passámos dois belas dias, exigentes mas recompensadores no trabalho final que - editado pelo Pedro - também ficou óptimo!

O que é que eu não perguntei que devia ter perguntado?

TP: "Barcelos é mesmo a capital do rock?"
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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