ENTREVISTAS
Minta
A folk está no meio de nós
· 28 Jan 2009 · 14:07 ·

© Vera Marmelo
Há quanto tempo existes como escritora de canções? Como é que começou esse vício?
Escrevi a primeira canção que considero digna desse nome aos treze anos. Chama-se “(The Wonderful) Miss D”, e gravei-a passados anos com os Casino. Mas antes disso já fazia músicas. Comecei pelos dez anos, assim que me deram uma guitarra.
Como é que foi a experiência com os Casino e de que forma é que isso influenciou o teu trabalho de hoje?
Os Casino existem desde 1997, e de alguma maneira, ainda não pararam de existir. Ou seja, continuo a tocar músicas que fizemos para essa banda e, acima de tudo, continuo a colaborar com o Filipe Pacheco, que é meu companheiro nestas andanças desde o princípio. O que mudou foi a dinâmica da coisa: Minta é um projecto mais pessoal, não é bem uma banda. Aprendi muito nos Casino, com os músicos com que trabalhamos — o Luís Sousa, o Luís San Payo, o Pedro Gonçalves… —, com as experiências ao vivo e em estúdio, e, por outro lado, como trabalho com a editora e a promoção.
Quais são desde sempre as tuas referências musicais? O que é que mais influenciou e influência a tua escrita?
A minha família, sobretudo do lado paterno, é invulgarmente musical. Quase toda a gente sabe tocar qualquer coisa no piano, toda a gente é muito afinada e gosta de cantar. E em casa, desde miúda, sempre ouvi muita música. Há coisas que me acompanham desde essa altura: os Beatles, o Zeca Afonso, o Sérgio Godinho e o José Mário Branco. Na altura em que comecei a ter bandas e a compor, comecei também a comprar discos e a interessar-me mais pelo que a minha irmã ouvia. Foi ela quem me apresentou os Nirvana, os Pixies, as Breeders, a PJ Harvey… Nunca sei dizer muito bem o que me influência, dentro das muitas coisas que ouço, mas numa lista curta e anárquica têm de estar os Beatles, os Beach Boys, os Pixies, a PJ Harvey, as Luscious Jackson, o Elliott Smith, a Laura Veirs, a Fiona Apple, a Aimee Mann, a Catpower, a Lisa Germano, o Sufjan Stevens, a Suzanne Vega, o Graham Parsons e tudo em que ele mexeu, a Gillian Welsch, a Julie Doiron, a Mary Timony e, por outro lado, os escritores clássicos de canções como os Gershwin e o Cole Porter. Ouço e canto muitos standards, e aprendo com isso. No fundo a lista não é curta e não acaba aqui! A partir de certa altura, comecei a ouvir muitos ditos singer-songwriters, e é isso que continuo a ouvir mais do que qualquer outra coisa. Por isso são provavelmente eles e elas quem mais influencia as minhas canções.
Quais são as tuas vozes favoritas hoje em dia?
O Beck, o Sufjan Stevens, o Andrew Bird, a Beth Orton, a Feist, a Polly Jean Harvey, a Chan Marshall, a Fiona Apple, a Ani Difranco, a Veronica Charnley, dos Flotilla — que são uma banda de Toronto que descobri há pouco tempo —, e, dos que infelizmente já não cantam, a Ella Fitzgerald é a rainha absoluta, mas também o Jeff Buckley, o John Lennon, a Sarah Vaughan…
Um dia decidiste então mostrar as canções que até à altura guardavas no baú. Foi preciso coragem? Como é que começaste a fazê-lo?
Os Casino estavam a hibernar, mas eu não parei de fazer canções, nem de ter vontade de tocar. Por isso, já que não tinha banda, decidi gravar as músicas, e todos os instrumentos que conseguisse. Foi preciso aprender a gravar, coisa que até então não sabia fazer, e também aprender a fazer arranjos. Uma vez que tinha algumas músicas gravadas, decidi criar uma página no MySpace e pô-las lá: assim surgiu a “cantautora” Francisca Cortesão. Passado pouco tempo dei o meu primeiro concerto a solo, em Évora, em 2006. Acho que não foi preciso ter coragem, custava-me era estar parada!
Com a entrada dos músicos José Vilão, Filipe Pacheco e Nuno Rafael no projecto nasceu Minta. Como é que se dá essa transição?
A transição entre “Francisca Cortesão” e Minta foi gradual. Uns meses depois de ter voltado aos concertos, convidei o Vilão, que é um baterista maravilhoso, para tocar comigo — na altura, a pretexto de um convite do Bernardo Fachada para abrir para ele na Crew Hassan, em Junho de 2007. Depois o Filipe Pacheco juntou-se a nós e, mais tarde, primeiro como produtor e depois como baixista nos concertos, o Nuno Rafael. O nome Minta só surgiu no Verão do ano passado, para aparecer no Novos Talentos. Na altura, de facto, isto já era mais do que um projecto a solo, e quisemos que o nome o reflectisse.
Qual é a história de do EP You? Como é que se concretizou esse projecto?
Cinco canções que ficavam bem juntas, primeiro gravadas em casa e depois completadas em estúdio, com a preciosa colaboração do Nuno Rafael e dos exímios engenheiros de som do Golden Pony. E do Filipe e do Vilão, como é óbvio. Entre as primeiras gravações caseiras, que se ouvem no EP, e a masterização passaram mais de dois anos. Foi um disco feito sem pressa, à medida das disponibilidades de toda gente que ajudou a que ele visse a luz do dia.
É um orgulho para ti este EP de estreia? Achas que contém aquilo que Minta realmente é?
Estou muito contente com o disco. Gosto das músicas, gosto da maneira como soa, entre casa e estúdio. E gosto muito da capa que o João Maio Pinto desenhou e da fotografia da Vera Marmelo que está na contracapa — isso para mim também é importante, o disco enquanto objecto. Acho que é, como todos os discos acabam por ser, uma fotografia. Contém aquilo que Minta é agora, e acho que ficámos bem na fotografia.
Surpreendeu-te a boa recepção ao EP por parte da imprensa nacional?
Já tinha tido algumas boas indicações mesmo antes da saída do disco, de artigos sobre concertos e de críticas à compilação Novos Talentos. Mas ainda assim, fiquei bem surpreendida.
A antena3 parece ser a que mais tem apoiado o teu trabalho. Podes-nos fazer um resumo dessas experiências?
A antena3 tem de facto sido importante. Primeiro foi o Henrique Amaro, que foi também quem me incluiu no Novos Talentos, que me convidou para gravar uma sessão para o Portugália, que foi uma óptima experiência. Entretanto, o Fernando Alvim chamou-me para cantar duas músicas na passagem de ano, e foi divertido. Felizmente, não só a antena3 tem mostrado interesse. Desde que saiu o disco já gravei entrevistas para a RUC, a RUM, a Rádio Nova e a Douro FM. E, ainda antes, fiz com o Walter Benjamin uma bela sessão para o Pedro Ramos, na Radar, quando tocámos na Guilherme Cossoul, há um ano.
Tens em breve uma série de datas marcadas nas FNACs da zona de Lisboa. Esperas que isso traga mais exposição à tua música, e mais rodagem ao vivo?
Vai ser uma experiência curiosa, porque vou tocar sozinha, coisa que não faço há quase um ano, quando toquei no Salão Brazil, em Coimbra. Coincide com o relançamento do EP, que vai começar a ser distribuído pela Compact Records no início de Fevereiro. É um desafio, porque é mais difícil e mais solitário não ter mais ninguém no palco. Mas também tenho mais liberdade para fazer versões, que é uma coisa que adoro fazer. Espero que quem apareça fique por lá, que cantarole e que alguns levem o disco!
You terá o seguidor em breve, suponho. Como estão os preparativos para o disco de estreia?
Quero gravar um disco, claro, mas não deve sair antes de 2010. Nos concertos já temos tocado músicas novas, e é bom dar-lhes tempo para crescerem antes de as cristalizar numa gravação. Ainda tenho de compor mais, e não sei apressar esse processo. Entretanto, graças às maravilhosas novas tecnologias, vou podendo ir mostrando coisas novas através do MySpace e do Virb. Já lá está uma música nova, “Without It”, que seguramente fará parte do disco.
André GomesEscrevi a primeira canção que considero digna desse nome aos treze anos. Chama-se “(The Wonderful) Miss D”, e gravei-a passados anos com os Casino. Mas antes disso já fazia músicas. Comecei pelos dez anos, assim que me deram uma guitarra.
Como é que foi a experiência com os Casino e de que forma é que isso influenciou o teu trabalho de hoje?
Os Casino existem desde 1997, e de alguma maneira, ainda não pararam de existir. Ou seja, continuo a tocar músicas que fizemos para essa banda e, acima de tudo, continuo a colaborar com o Filipe Pacheco, que é meu companheiro nestas andanças desde o princípio. O que mudou foi a dinâmica da coisa: Minta é um projecto mais pessoal, não é bem uma banda. Aprendi muito nos Casino, com os músicos com que trabalhamos — o Luís Sousa, o Luís San Payo, o Pedro Gonçalves… —, com as experiências ao vivo e em estúdio, e, por outro lado, como trabalho com a editora e a promoção.
Quais são desde sempre as tuas referências musicais? O que é que mais influenciou e influência a tua escrita?
A minha família, sobretudo do lado paterno, é invulgarmente musical. Quase toda a gente sabe tocar qualquer coisa no piano, toda a gente é muito afinada e gosta de cantar. E em casa, desde miúda, sempre ouvi muita música. Há coisas que me acompanham desde essa altura: os Beatles, o Zeca Afonso, o Sérgio Godinho e o José Mário Branco. Na altura em que comecei a ter bandas e a compor, comecei também a comprar discos e a interessar-me mais pelo que a minha irmã ouvia. Foi ela quem me apresentou os Nirvana, os Pixies, as Breeders, a PJ Harvey… Nunca sei dizer muito bem o que me influência, dentro das muitas coisas que ouço, mas numa lista curta e anárquica têm de estar os Beatles, os Beach Boys, os Pixies, a PJ Harvey, as Luscious Jackson, o Elliott Smith, a Laura Veirs, a Fiona Apple, a Aimee Mann, a Catpower, a Lisa Germano, o Sufjan Stevens, a Suzanne Vega, o Graham Parsons e tudo em que ele mexeu, a Gillian Welsch, a Julie Doiron, a Mary Timony e, por outro lado, os escritores clássicos de canções como os Gershwin e o Cole Porter. Ouço e canto muitos standards, e aprendo com isso. No fundo a lista não é curta e não acaba aqui! A partir de certa altura, comecei a ouvir muitos ditos singer-songwriters, e é isso que continuo a ouvir mais do que qualquer outra coisa. Por isso são provavelmente eles e elas quem mais influencia as minhas canções.
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© Vera Marmelo |
Quais são as tuas vozes favoritas hoje em dia?
O Beck, o Sufjan Stevens, o Andrew Bird, a Beth Orton, a Feist, a Polly Jean Harvey, a Chan Marshall, a Fiona Apple, a Ani Difranco, a Veronica Charnley, dos Flotilla — que são uma banda de Toronto que descobri há pouco tempo —, e, dos que infelizmente já não cantam, a Ella Fitzgerald é a rainha absoluta, mas também o Jeff Buckley, o John Lennon, a Sarah Vaughan…
Um dia decidiste então mostrar as canções que até à altura guardavas no baú. Foi preciso coragem? Como é que começaste a fazê-lo?
Os Casino estavam a hibernar, mas eu não parei de fazer canções, nem de ter vontade de tocar. Por isso, já que não tinha banda, decidi gravar as músicas, e todos os instrumentos que conseguisse. Foi preciso aprender a gravar, coisa que até então não sabia fazer, e também aprender a fazer arranjos. Uma vez que tinha algumas músicas gravadas, decidi criar uma página no MySpace e pô-las lá: assim surgiu a “cantautora” Francisca Cortesão. Passado pouco tempo dei o meu primeiro concerto a solo, em Évora, em 2006. Acho que não foi preciso ter coragem, custava-me era estar parada!
Com a entrada dos músicos José Vilão, Filipe Pacheco e Nuno Rafael no projecto nasceu Minta. Como é que se dá essa transição?
A transição entre “Francisca Cortesão” e Minta foi gradual. Uns meses depois de ter voltado aos concertos, convidei o Vilão, que é um baterista maravilhoso, para tocar comigo — na altura, a pretexto de um convite do Bernardo Fachada para abrir para ele na Crew Hassan, em Junho de 2007. Depois o Filipe Pacheco juntou-se a nós e, mais tarde, primeiro como produtor e depois como baixista nos concertos, o Nuno Rafael. O nome Minta só surgiu no Verão do ano passado, para aparecer no Novos Talentos. Na altura, de facto, isto já era mais do que um projecto a solo, e quisemos que o nome o reflectisse.
Qual é a história de do EP You? Como é que se concretizou esse projecto?
Cinco canções que ficavam bem juntas, primeiro gravadas em casa e depois completadas em estúdio, com a preciosa colaboração do Nuno Rafael e dos exímios engenheiros de som do Golden Pony. E do Filipe e do Vilão, como é óbvio. Entre as primeiras gravações caseiras, que se ouvem no EP, e a masterização passaram mais de dois anos. Foi um disco feito sem pressa, à medida das disponibilidades de toda gente que ajudou a que ele visse a luz do dia.
É um orgulho para ti este EP de estreia? Achas que contém aquilo que Minta realmente é?
Estou muito contente com o disco. Gosto das músicas, gosto da maneira como soa, entre casa e estúdio. E gosto muito da capa que o João Maio Pinto desenhou e da fotografia da Vera Marmelo que está na contracapa — isso para mim também é importante, o disco enquanto objecto. Acho que é, como todos os discos acabam por ser, uma fotografia. Contém aquilo que Minta é agora, e acho que ficámos bem na fotografia.
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© Vera Marmelo |
Surpreendeu-te a boa recepção ao EP por parte da imprensa nacional?
Já tinha tido algumas boas indicações mesmo antes da saída do disco, de artigos sobre concertos e de críticas à compilação Novos Talentos. Mas ainda assim, fiquei bem surpreendida.
A antena3 parece ser a que mais tem apoiado o teu trabalho. Podes-nos fazer um resumo dessas experiências?
A antena3 tem de facto sido importante. Primeiro foi o Henrique Amaro, que foi também quem me incluiu no Novos Talentos, que me convidou para gravar uma sessão para o Portugália, que foi uma óptima experiência. Entretanto, o Fernando Alvim chamou-me para cantar duas músicas na passagem de ano, e foi divertido. Felizmente, não só a antena3 tem mostrado interesse. Desde que saiu o disco já gravei entrevistas para a RUC, a RUM, a Rádio Nova e a Douro FM. E, ainda antes, fiz com o Walter Benjamin uma bela sessão para o Pedro Ramos, na Radar, quando tocámos na Guilherme Cossoul, há um ano.
Tens em breve uma série de datas marcadas nas FNACs da zona de Lisboa. Esperas que isso traga mais exposição à tua música, e mais rodagem ao vivo?
Vai ser uma experiência curiosa, porque vou tocar sozinha, coisa que não faço há quase um ano, quando toquei no Salão Brazil, em Coimbra. Coincide com o relançamento do EP, que vai começar a ser distribuído pela Compact Records no início de Fevereiro. É um desafio, porque é mais difícil e mais solitário não ter mais ninguém no palco. Mas também tenho mais liberdade para fazer versões, que é uma coisa que adoro fazer. Espero que quem apareça fique por lá, que cantarole e que alguns levem o disco!
You terá o seguidor em breve, suponho. Como estão os preparativos para o disco de estreia?
Quero gravar um disco, claro, mas não deve sair antes de 2010. Nos concertos já temos tocado músicas novas, e é bom dar-lhes tempo para crescerem antes de as cristalizar numa gravação. Ainda tenho de compor mais, e não sei apressar esse processo. Entretanto, graças às maravilhosas novas tecnologias, vou podendo ir mostrando coisas novas através do MySpace e do Virb. Já lá está uma música nova, “Without It”, que seguramente fará parte do disco.
andregomes@bodyspace.net
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