ENTREVISTAS
Tickley Feather
Lo-fi sexy que brilha no escuro
· 05 Mai 2008 · 08:00 ·
Por feliz acaso, a turma Animal Collective interceptou a “pena que faz cócegas” na sua romaria incerta e deu-se assim um mecenato que passou pela recomendação do (guru de toda a gestão acústica) Rusty Santos como nome certo para a produção de Tickley Feather, que segue agora as pegadas recentes das Rings e dos Excepter ao conhecer o selo da Paw-Tracks (casa que tem nos autores de Strawberry Jam os seus principais proprietários). Do mesmo modo que Person Pitch, de Panda Bear, era um extremoso e entusiasmado disco desenvolvido num expectante período pré-natal, a homónima aventura de Tickley Feather representa dedicada iniciativa maternal concebida como casulo sonoro para protecção de mãe e filho recém-nascido (entretanto crescido). Ambos, Noah e Annie, tentam à sua maneira e com timings muito semelhantes, ocupar o lugar do Guido Orefice (Roberto Benigni) que, no açucarado filme A Vida é Bela, procurava, através de um exercício lúdico, distrair o filho do meio hostil em seu redor (nessa ocasião, o regime nazi, desta vez, presume-se, a escassez de água, extinção das espécies animais, crise no mercado de combustíveis e tudo isso). A vida é imperfeitamente bela por aqui.
Embora imediatamente sujeita a merecer reacções extremadas e as inevitáveis comparações com Ariel Pink (o mais incontornável dos crooners de lo-fi de latrina), Tickley Feather pode gabar-se de ter neste debute o letal agente de uma intoxicação que vitima o cepticismo pela quantidade excessiva de ternura depositada em cada litro de sangue. Passa a ser redobrada a vontade de brincar às casinhas e médicos quando alguém se expõe a um conjunto de canções em constante preze por uma próxima noite ideal (traço comum a um monte de rotineiros hit singles de rádio que insinuam alguma fome sexual). A partir do desconforto próprio dos compartimentos húmidos e pouco arejados de uma casa, Annie Sachs fez um micro-estúdio para filtração de fantasias estritamente pessoais - transformou canções com a aparência de causas perdidas em potenciais êxitos de pop fluorescente. A própria falou ao Bodyspace de como o eco de uma cave veio a propagar-se pelo mundo.
Como estás, Annie? Que tens feito ultimamente?
Olá. Estou bem. Um pouco mais ocupada do que estou habituada, mas isso representa um bom desafio para mim.
Atendendo a que foram necessários quatro anos para agrupar este conjunto de canções, eras capaz de apontar algum pico criativo alcançado durante esse período de tempo?
Acho que o período mais fértil de criatividade ocorreu antes de pensar sequer em deixar alguém escutar as canções. As gravações desses tempos equivaliam a uma expedição solitária por entre o meu próprio território mental. Esse tempo é comparável à forma como danças em casa quando ninguém está a olhar em oposição a como danças quando tens os teus amigos por perto.
Acreditas que alguma das peças do teu equipamento foi crucial à ignição de que necessitava o disco ou achas que a sua importância é equilibrada?
Não terá sido tanto uma questão de equipamento, mas sim de condições. Parte essencialmente do ambiente tudo aquilo que, em grande parte, moldou o carácter específico destas canções. Recordo-me, por exemplo, do sentimento prevalente na altura em que gravei a “Night Chant” de joelhos, aos pés de um colchão que tinha no meu antigo apartamento. Lembro-me de gravar a “Tonight is the Nite” bem cedo de manhã no chão da minha cozinha enquanto um tipo, com quem eu andava na altura, dormia em hibernação num quarto ao lado. Esses momentos no tempo correspondem realmente à tal ignição de que falas.
Continuas a descobrir novas formas de usar a tua box de efeitos Zoom?
Montei-a dentro de um capacete! Não, estava apenas a brincar… Continuo-o a utilizá-la da mesma maneira, mas tem 200 efeitos, o que corresponde a potencial ilimitado para alguém como eu. Prefiro-a por ser tão manual. Gosto de colocar os headphones e perder-me a “surfar” os diferentes efeitos. É uma forma fácil e excitante de procurar e capturar uma qualquer noção.
Podes elucidar-me em relação a se algumas das canções que não foram incluídas neste disco podem vir a ser lançadas no futuro?
Isso acontecerá certamente. Acho que gostava de fazer algumas cassetes com algumas cenas estranhas. Mesmo assim, sou má a tratar desse tipo de negócios. Mas mantenho essa vontade. Talvez haja a hipótese de mais um sete polegadas. Acho que o material mais estranho poderá ser mais adequado a esse tipo de lançamentos de menor dimensão. Talvez essa seja a opção mais fixe e viável para que sejam menos as pessoas de gosto requintado a ficarem enfurecidas por acharem que a música é uma bela porcaria.
Como se sucedeu o envolvimento de Rusty Santos neste disco? Quais foram as melhores recompensas obtidas à colaboração com ele?
Quando tinha todo o meu material compilado, o Josh Dibb (Deakin de Animal Collective) perguntou ao Rusty se ele gostaria de trabalhar comigo. Fui até Nova Iorque, conheci o Rusty e trabalhámos no disco durante 3 dias. O Rusty é realmente dotado e bondoso e tinha um verdadeiro entendimento e respeito em relação às minhas origens. Ele sanou muitos dos meus medos e fez-me sentir muito menos freak. Valorizo muito o seu contributo no disco. Fez-me sentir muito forte.
Eras capaz de nos falar um pouco acerca do (filho) Aiden? Ele está porreiro? Descobrias inspiração nas reacções que ele pudesse ter perante as músicas que ias fazendo? Parece-me que no disco ele está a assumir um pouco o papel de anfitrião de um pequeno espectáculo de ilusionismo.
Obrigado por essa adorável descrição. O Aiden é um pequeno miúdo fixe. Ultimamente, ele tem andado entusiasmado com ponta-e-molas e com poções feitas com espuma de barbear. Ele nunca reage muito assumidamente à minha música, mas aposto que certo dia virá a achar porreiro. A não ser que se torne num jock (“cromo da bola” à americana), ou coisa parecida.
Parece-me curioso o facto do disco encontrar-se divido em duas partes. Imaginaste-o como algo que poderia beneficiar do formato vinil? Agrada-te que as duas faces de um mesmo disco possam demonstrar disposições distintas ou paralelas?
O disco encontra-se bipartido porque eu mantinha um forte desejo de vê-lo lançado em vinil, até porque acho que as gravações beneficiam das características próprias do vinil. Gosto também da divisão: parte 1 e parte 2. Os meus amigos na Badmaster Records estão a cuidar do lançamento em vinil. Vou lamber cada um das cópias!
Quais foram os mais doces proveitos da digressão com Animal Collective?
Bem... Eles agora são extremamente populares e isso torna-se intimidante para uma novata como eu. Mas eles são tão maravilhosos e encorajadores. Mantive firme a sensação de que faz parte da causa deles partilhar cenas estranhas e interessantes com os seus fãs, por isso tentei arduamente ser corajosa. Além disso, os amigos que trazem consigo para cuidar do som e luzes e outras assuntos são gente carinhosa e mesmo fixe. Os Animal Collective parecem uma família muito calorosa, e creio que muitas das pessoas envolvidas partilham desse sentimento.
Tens tentado novas músicas ao vivo ultimamente?
Gosto sempre de tocar coisas diferentes. É habitual tentar uma ou duas canções minhas que as pessoas possam já conhecer, porque isso é justo. Mas prefiro principalmente dar rotatividade ao material que tenho acumulado no armário.
Como correu o concerto com as Rings e a Kria (Brekkan)?
O concerto na Cake Shop foi muito divertido. Não queria abandoná-las após ter terminado, por isso espero vê-las em breve.
Existe algum disco da Paw-Tracks que te tenha surpreendido em particular?
Ah! Sim, o meu.
Já te sentiste tentada a fazer alguma cover?
Sim. Agora gostava de tentar fazer uma cover da “One” dos Three Dog Night.
Miguel ArsénioOlá. Estou bem. Um pouco mais ocupada do que estou habituada, mas isso representa um bom desafio para mim.
Atendendo a que foram necessários quatro anos para agrupar este conjunto de canções, eras capaz de apontar algum pico criativo alcançado durante esse período de tempo?
Acho que o período mais fértil de criatividade ocorreu antes de pensar sequer em deixar alguém escutar as canções. As gravações desses tempos equivaliam a uma expedição solitária por entre o meu próprio território mental. Esse tempo é comparável à forma como danças em casa quando ninguém está a olhar em oposição a como danças quando tens os teus amigos por perto.
Acreditas que alguma das peças do teu equipamento foi crucial à ignição de que necessitava o disco ou achas que a sua importância é equilibrada?
Não terá sido tanto uma questão de equipamento, mas sim de condições. Parte essencialmente do ambiente tudo aquilo que, em grande parte, moldou o carácter específico destas canções. Recordo-me, por exemplo, do sentimento prevalente na altura em que gravei a “Night Chant” de joelhos, aos pés de um colchão que tinha no meu antigo apartamento. Lembro-me de gravar a “Tonight is the Nite” bem cedo de manhã no chão da minha cozinha enquanto um tipo, com quem eu andava na altura, dormia em hibernação num quarto ao lado. Esses momentos no tempo correspondem realmente à tal ignição de que falas.
Continuas a descobrir novas formas de usar a tua box de efeitos Zoom?
Montei-a dentro de um capacete! Não, estava apenas a brincar… Continuo-o a utilizá-la da mesma maneira, mas tem 200 efeitos, o que corresponde a potencial ilimitado para alguém como eu. Prefiro-a por ser tão manual. Gosto de colocar os headphones e perder-me a “surfar” os diferentes efeitos. É uma forma fácil e excitante de procurar e capturar uma qualquer noção.
Podes elucidar-me em relação a se algumas das canções que não foram incluídas neste disco podem vir a ser lançadas no futuro?
Isso acontecerá certamente. Acho que gostava de fazer algumas cassetes com algumas cenas estranhas. Mesmo assim, sou má a tratar desse tipo de negócios. Mas mantenho essa vontade. Talvez haja a hipótese de mais um sete polegadas. Acho que o material mais estranho poderá ser mais adequado a esse tipo de lançamentos de menor dimensão. Talvez essa seja a opção mais fixe e viável para que sejam menos as pessoas de gosto requintado a ficarem enfurecidas por acharem que a música é uma bela porcaria.
Como se sucedeu o envolvimento de Rusty Santos neste disco? Quais foram as melhores recompensas obtidas à colaboração com ele?
Quando tinha todo o meu material compilado, o Josh Dibb (Deakin de Animal Collective) perguntou ao Rusty se ele gostaria de trabalhar comigo. Fui até Nova Iorque, conheci o Rusty e trabalhámos no disco durante 3 dias. O Rusty é realmente dotado e bondoso e tinha um verdadeiro entendimento e respeito em relação às minhas origens. Ele sanou muitos dos meus medos e fez-me sentir muito menos freak. Valorizo muito o seu contributo no disco. Fez-me sentir muito forte.
Eras capaz de nos falar um pouco acerca do (filho) Aiden? Ele está porreiro? Descobrias inspiração nas reacções que ele pudesse ter perante as músicas que ias fazendo? Parece-me que no disco ele está a assumir um pouco o papel de anfitrião de um pequeno espectáculo de ilusionismo.
Obrigado por essa adorável descrição. O Aiden é um pequeno miúdo fixe. Ultimamente, ele tem andado entusiasmado com ponta-e-molas e com poções feitas com espuma de barbear. Ele nunca reage muito assumidamente à minha música, mas aposto que certo dia virá a achar porreiro. A não ser que se torne num jock (“cromo da bola” à americana), ou coisa parecida.
Parece-me curioso o facto do disco encontrar-se divido em duas partes. Imaginaste-o como algo que poderia beneficiar do formato vinil? Agrada-te que as duas faces de um mesmo disco possam demonstrar disposições distintas ou paralelas?
O disco encontra-se bipartido porque eu mantinha um forte desejo de vê-lo lançado em vinil, até porque acho que as gravações beneficiam das características próprias do vinil. Gosto também da divisão: parte 1 e parte 2. Os meus amigos na Badmaster Records estão a cuidar do lançamento em vinil. Vou lamber cada um das cópias!
Quais foram os mais doces proveitos da digressão com Animal Collective?
Bem... Eles agora são extremamente populares e isso torna-se intimidante para uma novata como eu. Mas eles são tão maravilhosos e encorajadores. Mantive firme a sensação de que faz parte da causa deles partilhar cenas estranhas e interessantes com os seus fãs, por isso tentei arduamente ser corajosa. Além disso, os amigos que trazem consigo para cuidar do som e luzes e outras assuntos são gente carinhosa e mesmo fixe. Os Animal Collective parecem uma família muito calorosa, e creio que muitas das pessoas envolvidas partilham desse sentimento.
Tens tentado novas músicas ao vivo ultimamente?
Gosto sempre de tocar coisas diferentes. É habitual tentar uma ou duas canções minhas que as pessoas possam já conhecer, porque isso é justo. Mas prefiro principalmente dar rotatividade ao material que tenho acumulado no armário.
Como correu o concerto com as Rings e a Kria (Brekkan)?
O concerto na Cake Shop foi muito divertido. Não queria abandoná-las após ter terminado, por isso espero vê-las em breve.
Existe algum disco da Paw-Tracks que te tenha surpreendido em particular?
Ah! Sim, o meu.
Já te sentiste tentada a fazer alguma cover?
Sim. Agora gostava de tentar fazer uma cover da “One” dos Three Dog Night.
migarsenio@yahoo.com
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