DISCOS
Beck
Sea Change
· 12 Out 2002 · 08:00 ·
“Mas que som é este? Onde é que está aquele Beck de Odelay, de Midnite Vultures? O Beck que eu ouvi vezes sem conta.” Foi esta a reacção que tive ao ouvir este álbum, canção por canção, quando foi disponibilizado na Internet. Confesso que fiquei de alguma forma desiludido. Não era isto que esperava, não era isto que eu queria daquele artista. Passaram entretanto alguns meses até ao lançamento do disco, e crítica por crítica, todos consideravam este CD um objecto superior. Foi com algum receio que o comprei. Tive-o alguns dias na prateleira antes de o ouvir, mas tinha mesmo de ser. E foi entre estudos de matemática e a leitura de jornal que descobri que afinal, todos os meus receios eram infundados. E apesar de continuar a achar que não era isto que eu esperava daquele artista, encontrei logo uma solução. Este não era o último álbum de Beck, mas sim o primeiro álbum de Hansen. Confusos? Não é razão para tal.
A expectativa era grande, e não era razão para menos. Beck é considerado por muitos o melhor artista norte-americano surgido e criado na década de 90 e volta mais uma vez a surpreender. O som continua uma junção de tudo quanto anda por aí, mas condensado em músicas aparentemente simples (realço o aparentemente). Entre confusões e trocas de produtores, Hansen consegue ir à América profunda, à “Lisboa das calças sujas e pessoas originais” (a expressão é dele) e a mais um sem número de locais, e daí retirar cada gota deste primeiro (?) trabalho. E para isso foi “buscar” as mais diversas influências. De Drake a Walker, de Jobim aos Beatles sem esquecer, claro está, Bob Dylan. Esta última influência, facilmente justificável e mais que aparente, vem já de Odelay. Poucos terão reparado, mas a introdução de “Jackass” não é mais que um sampling de Dylan do tema “It’s All Over Now, Baby Blue”.
Neste álbum as acústicas predominam, mas os toques de electrónica são, aqui e ali, imensamente importantes para o desenrolar das canções. Hansen encontra em “Sea Change”, mais do que nos álbuns de Beck, a procura por uma beleza arrebatadora que não só descobre, mas que se apaixona até por ele, por Hansen a conseguir por tão elevado, sublimada, redimida. A escrita vê-se ser já adulta, não existem grandes explosões de energia rítmica. Essas explosões apenas existem na intimidade e nos sentimentos de todos nós. E são essas explosões interiores, que poucos artistas como Hansen conseguem transmitir, que fazem “Sea Change” um álbum absolutamente imperecível.
Tiago GonçalvesA expectativa era grande, e não era razão para menos. Beck é considerado por muitos o melhor artista norte-americano surgido e criado na década de 90 e volta mais uma vez a surpreender. O som continua uma junção de tudo quanto anda por aí, mas condensado em músicas aparentemente simples (realço o aparentemente). Entre confusões e trocas de produtores, Hansen consegue ir à América profunda, à “Lisboa das calças sujas e pessoas originais” (a expressão é dele) e a mais um sem número de locais, e daí retirar cada gota deste primeiro (?) trabalho. E para isso foi “buscar” as mais diversas influências. De Drake a Walker, de Jobim aos Beatles sem esquecer, claro está, Bob Dylan. Esta última influência, facilmente justificável e mais que aparente, vem já de Odelay. Poucos terão reparado, mas a introdução de “Jackass” não é mais que um sampling de Dylan do tema “It’s All Over Now, Baby Blue”.
Neste álbum as acústicas predominam, mas os toques de electrónica são, aqui e ali, imensamente importantes para o desenrolar das canções. Hansen encontra em “Sea Change”, mais do que nos álbuns de Beck, a procura por uma beleza arrebatadora que não só descobre, mas que se apaixona até por ele, por Hansen a conseguir por tão elevado, sublimada, redimida. A escrita vê-se ser já adulta, não existem grandes explosões de energia rítmica. Essas explosões apenas existem na intimidade e nos sentimentos de todos nós. E são essas explosões interiores, que poucos artistas como Hansen conseguem transmitir, que fazem “Sea Change” um álbum absolutamente imperecível.
tgoncalves@bodyspace.net
RELACIONADO / Beck