DISCOS
Pere Ubu
Why I hate Women
· 19 Jan 2007 · 08:00 ·
Pere Ubu
Why I hate Women
2006
Glitterhouse / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Pere Ubu
- Glitterhouse
- AnAnAnA
Pere Ubu
Why I hate Women
2006
Glitterhouse / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Pere Ubu
- Glitterhouse
- AnAnAnA
Velha glória do punk mais indefinível prova, com novidade mais que suficiente, que velhos são os trapos.
Que capacidade de surpreender sobra a uma banda que, por iniciativa própria e com três meses de avanço, anuncia a sua reinvenção? Ou coloque-se a questão de outro modo: restarão assim tantas hipóteses aos U2 - e ao porta-voz Bono – para convencer alguém externo à euforia nostálgica de que a banda pode ainda ser musicalmente pertinente num plano póstumo a All That You Can’t Leave Behind? A suspeita cada vez credível é a de que os luxos proporcionados por alta hotelaria são proporcionais à inércia a que se vota uma carreira rentável e, por isso, sem necessidade de correr riscos. Não é a certamente essa a postura de uns Pere Ubu cuja militante persistência contra-cultura há-de vergar apenas quando o inferno se tornar um árctico. Não se espere da instituição de Cleveland que venha a depender somente do seu estatuto lendário (que sempre recusaram) para que se materializem em estúdio discos tão inconformados como Why I hate Women.

Haverá certamente, por aqui, uma insustentável dose de gozo por parte de um David Thomas sem mais nada que provar além da certificação de que ainda não pertence à facção de fósseis em estado comatoso. Tão seguramente cambaleante como sempre, a liderança de David Thomas assegura a Why I hate Women o direito a mais uma empreitada generosa de obscurantismo lírico (“Babylonian Warehouse” dialoga com projecção paranóica) e esteticamente declarado por uma produção onde os sons se tornam rarefeitos e um maldito e desenfreado theremin absorve a luminosidade a tudo. Porém, o referido obscurantismo nada tem de folclórico – antes se prende à incapacidade de estabilizar o afecto a ímpia persona assumida por um David Thomas que ainda se afoita a empregar a sua nasalidade com invejável juvenilidade no petardo punk que estala em “Caroleen” (que também dissipa dúvidas a quem as alimentasse em relação às capacidades rítmicas da dupla Michele Temple e Steve Mehlman).

Nem se estranha o fundamento abertamente misógino a um disco que parece alimentar um equivalente ódio por todo o tipo de convenções (certamente por aquelas que tenham o anterior St. Arkansas como base). Quem já em 1978 dançava a modernidade, evidencia frescura que baste para que a este se tenha justaposto um irmão bastardo no disco de remisturas Why I remix Women. Sobram múltiplas utilidades a um disco onde blocos estranhamente orgânicos se fitam separados por uma distância eminente. De eminência e excelência se faz o assalto que reinsere os Pere Ubu no curto agrupamento de bandas que ultrapassam um quarto de século sem recolher ao abrigo de caprichos jurássicos.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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