DISCOS
Tom Waits
Blood Money
· 07 Out 2002 · 08:00 ·
Tom Waits
Blood Money
2002
Anti-


Sítios oficiais:
- Tom Waits
- Anti-
Tom Waits
Blood Money
2002
Anti-


Sítios oficiais:
- Tom Waits
- Anti-
Olho para a minha colecção de CD’s e de lá tiro um disco ao acaso. Sai-me na rifa um que está no canto superior esquerdo com a sua capa vermelha e com um senhor a segurar um baralho de cartas. Abro a caixa e calmamente coloco o CD a “girar” na aparelhagem. De repente, a cama que está à minha frente deixa de parecer uma cama. O órgão passa a piano, nele aparece uma pessoa sentada. Não identifico logo quem é, está de costas. O saxofone que está do outro lado do quarto começa num rodopio em busca das notas perfeitas para cada canção e ganha vida própria. Não, já não estou no meu quarto. Não sei onde estou, mas é um sítio diferente de tudo. A magia impera neste lugar. Os problemas desaparecem, a vida exterior deixa de ter qualquer importância e aqueles sons maravilhosos invadem a alma. A voz rouca espalha-se rapidamente por este sítio. “Misery’s the river of the world” é a primeira frase que escuto. Quem a reproduz tem uma voz única e vê-se que está uma personalidade inconfundível por detrás dela. Agora aparece uma mulher ao lado da pessoa que está ao piano. Não a identifico. Como nos apaixonam e nos elevam “acima dos limites legais” estes sons. Espantoso. As músicas vão passando uma a uma, e o sítio onde estou parece um cenário onde a evolução de cenas e novos mundos acontece ao ritmo de cada canção. Começamos pela miséria, vejo a rapariga da ilha de Coney de quem o autor diz ser sua, vejo um mundo verde. Vejo Deus fora em negócios, e um homem que é difícil de encontrar, vejo mais mil e umas coisas... As notas passam e o nosso corpo é atravessado por ondas que nos fazem tremer, estalar, arrepiar. Que mundo será este? Que música é esta que nos prende, nos sufoca e nos liberta logo de seguida. Tantas incertezas, tão poucas certezas, tantas coisas que gostaria de saber e outras que nunca gostava de ter aprendido. Sublime. Extraordinário. Primoroso. Requintado. Não, escuso de dizer mais. Por mais que dissesse, por mais que tentasse transmitir, nunca conseguiria explicar na perfeição o que se passa. O tempo passa depressa, estou numa nova unidade temporal. Tão depressa que o CD chega já ao fim. Volto a estar no meu quarto, volto a ver a cama, o órgão e o saxofone no sítio de sempre. A pessoa que está a tocar no piano e a mulher que está ao lado dele desaparecem. Antes disso, olham para mim e sorriem. Não, tenho de voltar àquele mundo mágico nem que seja mais uma vez. Volto a colocar “play”. E tudo volta de novo. Ah... a pessoa que estava comigo era o Tom Waits, e ao lado estava a sua mulher Kathleen Brennan. Sim, foram eles quem fizeram estas canções do mundo dos deuses e as trouxeram até nós. Perfeito.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
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