DISCOS
Califone
Roots & Crowns
· 22 Nov 2006 · 08:00 ·

Califone
Roots & Crowns
2006
Thrill Jockey / Dwitza
Sítios oficiais:
- Califone
- Thrill Jockey
Roots & Crowns
2006
Thrill Jockey / Dwitza
Sítios oficiais:
- Califone
- Thrill Jockey

Califone
Roots & Crowns
2006
Thrill Jockey / Dwitza
Sítios oficiais:
- Califone
- Thrill Jockey
Roots & Crowns
2006
Thrill Jockey / Dwitza
Sítios oficiais:
- Califone
- Thrill Jockey
Superar Heron King Blues atribui a Tim Rutili lugar cativo e entre os mais peculiares escritores de canções da actualidade.
A atribuição do título Roots & Crowns ao oitavo disco dos Califone será, por ventura, a mais elucidativa e feliz decisão tomada este ano por alguém incumbido de resumir a duas certeiras palavras todo um movimento de transição e as suas implicações – simultaneamente traduzindo num simbolismo toda a variedade de parelhas improvavelmente harmoniosas que alumiam o percurso criativo a Tim Rutili e a quem acolhe rotativamente na sua banda. Ficou, desta vez, incumbido o “&” de afirmar por Rutili que estes eram tempos de mudança, hora de abrir mão da Chicago de sempre e partir em busca do ouro climatérico que oferece o estado da Califórnia, mesmo que tal ruptura representasse virar costas a uma cidade cuja meticulosidade se entranhou, através de infiltração prolongada e de modo irreversível, no som dos Califone. As semelhanças fonéticas entre Califone e Califórnia serão apenas um factor externo ao êxodo assumido por um Rutili que no solarengo estado viu a sua inspiração ser reacendida.
À luz das circunstâncias actuais, a majestosa digressão sonora que expurga “Heron King Blues”, pico fervente do anterior disco homónimo, parece-se com uma derradeira e urgente brecha temporal ideal ao esgotamento total de ideias aplicáveis pelos Califone naquele preciso momento. Musicalmente, a colisão não podia ter sido mais gloriosa e indicadora de renovação. Até porque, em conformidade, a galopante “Pink & Sour”, ponto de partida do novo disco, parece locomover-se imparavelmente em direcção a um imenso novo horizonte de possibilidades que, com o mesmo aprumo técnico de sempre, conseguem os Califone combinar numa estrutura de canção surpreendentemente amigável (várias vezes, por nobre pacificação a cargo da folk). E isto sem a mesma faixa inicial deixar de incluir o baixo que lhe incute velocidade e até mesmo umas imperiosas cordas de misticismo quase Zeppeliniano. Sem que, no conjunto do disco, esse rigor técnico impossibilite o surgimento de guitarra tão braviamente Americana como a de um Ted Nugent, numa “A Chinese Actor” que, a partir de hoje, não deve faltar a qualquer carrinha Volkswagen em viagem despreocupada.
Não se julgue, contudo, que os Califone adulteraram por completo o seu som ou que atraiçoaram quaisquer expectativas geradas por Heron King Blues. Tim Rutili parece cada vez mais confiante na subtil transfiguração alquímica de todos aqueles elementos que aprofundaram o alcance da identidade que assume o seu projecto maior: dose substancial de metais cruciais ao dramatismo que exige cada exercício, quota de instrumentos de difícil identificação e toda um conjunto de subcutâneas texturas moldadas a partir de field recordings e outros sons rugosos. Todos esses aqui renascidos a partir da multiplicação infinita das tais possibilidade que abria em leque a mencionada “Pink & Sour”, que lateja de tão (magnificamente) preenchida que está. É clássico instantâneo à escala dos Califone e da Thrill Jockey deste século.
Retomando ao raciocino inicial, acrescente-se que igualmente clássica acaba por ser a parelha de suporte sobre a qual assenta a infalível mecânica nuclear dos Califone metaforizada no título Roots & Crowns: a mesma que jaz num aproveitamento nada copista das adormecidas raízes blues e folk, que, de tão intemporais, merecem ser repetidamente coroadas por inéditos detalhes e adornos, em cuja composição e aplicação é mestre Rutili e os seus afiliados. Fica explicada a ideia de que basta o título para demonstrar clarificadamente o que representa este oitavo longo empreendimento dos Califone – um espontâneo segundo despertar responsável pela reinserção de Tim Rutili na rota de canções tão fascinantes e magnéticas quanto desiguais. Rota essa que nunca chegou a ser abandonada, mas, que no acumular de brilharetes, dita a ressurreição instaurada por Roots & Crowns como o momento mais exacto para premiar, com a aura própria de um objectivo cumprido, a transversal fórmula enraizada durante os sete discos que sucedem a este.
migarsenio@yahoo.com
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