DISCOS
Air
Premiers Symptomes
· 28 Ago 2002 · 08:00 ·
Air
Premiers Symptomes
1999
Astralwerks
Sítios oficiais:
- Astralwerks
Premiers Symptomes
1999
Astralwerks
Sítios oficiais:
- Astralwerks
Air
Premiers Symptomes
1999
Astralwerks
Sítios oficiais:
- Astralwerks
Premiers Symptomes
1999
Astralwerks
Sítios oficiais:
- Astralwerks
Existem duas maneiras de ver os Air. Uma como representantes maiores do French Touch, do retro-futurismo e como banda sonora dos ambientes minimalistas com design de Eero Aarnio ou Verner Panton. Para descrevermos todo o significado dos Air desse ponto de vista teríamos obrigatoriamente de usar toda a parafernália de nomenclaturas como hype, cena ou fashion, da mesma forma que se define o Bairro Alto ou o Lux numa noite de Agosto.
A outra maneira de escutar os Rhodes e Moogs etéreos e frágeis é pensar nos Air (e, principalmente, Premiers Symptomes) como banda sonora de um filme de sensações puras que nos deixam num estado de “doce e deliciosa melancolia”(Fernando Silva dixit).
Temo cometer um enorme pecado se afirmar que Premiers Symptomes é [ainda] melhor que “Moon Safari”. Porque é muito mais puro. Porque foi gravado num apartamento (o de Nicolas Godin)) perdido nas ruelas de Paris. Porque é mais compacto, menos ambicioso, mais ambiental. E porque é radicalmente mais curto e leve, deixando tanto espaço e tempo por esculpir. Como se fosse apenas o início.
Premiers Symptomes começa com um sintoma (não é trocadilho) de toda a preciosidade dos Air: “Modular Mix”, homenagem ao Homem standartizado do Modulor de Corbusier e nítida influência da arquitectura moderna e do pensamento moderno [mais uma vez, o retro-futurismo], realizada em bolhas de oxigénio efervescentes e um Rhodes tenso e branco.
Com “Casanova 70” entram subtilmente todos os sons que definem o som vintage dos Air, começando pela sensualidade dos instrumentos de sopro sintetizados até ao lirismo dos tapetes Moog quentes e minimais.
É realmente o tema mais simbólico de Premiers Symptomes; o nome diz tudo sobre a influência dos filmes eróticos dos anos 70, ainda dominados pela revolução sexual da altura e pela crença de uma libertação. Não é difícil entrar nas atmosferas brancas de calças boca-de-sino e cadeiras “Globe” e varandas sobre uma qualquer metrópole cosmopolita distante no tempo.
Premiers Symptomes é uma recolhas dos “early singles” dos Air (a que se juntam “Californie” e “Brakes On” como bónus) e por isso foge, a priori, a qualquer tentativa de congruência formal. No entanto, a viagem que começa nos já referidos tema (os primeiros da sua carreira) continua suavemente por esquissos do que seria “Moon Safari” – e “Les Professionels” é o maior exemplo, ouvindo-se já “All I need” por trás da linha de baixo e do dedilhar da guitarra.
“J’Ai Dormi Sous L’Eau” [« dormi debaixo d’água] continua com o lirismo ‘dreamy’ tão suave como um sono profundo sob a água. Impressionante a força que possui este tema ao nos agarrar a ondas imaginárias, sugerindo uma concha, um exílio onde nada a não ser o azul da água nos possa alcançar. “Le Soleil Est Près de Moi », considerado quase unanimemente como o « highlight » de Premiers Symptomes, é talvez o momento mais « Safariesco », com os seus coros robóticos em câmara lenta.
“Californie” e “Brakes On” foram adicionados posteriormente, mas enquanto a primeira faz sentido enquanto quebra momentânea da nossa entrega hipnótica, procurando um certo psicadelismo funk que acaba de forma única, num ambiente sonoro [expressão da moda] tão expressivo quanto introspectivo.
“Brakes On” é uma remistura de um tema de Alex Gopher que está nitidamente a mais, sem no entanto retirar a magia de Premiers Symptomes.
Chamar único a este álbum é quase um pleonasmo. É obscuro, não contém nenhuma informação para além da música, e desprovido de qualquer personalização. É frágil e gentil. É um álbum que podia pertencer a qualquer músico, a qualquer pessoa. E simultaneamente único, porque transporta finalmente de forma quase pura o que vai na alma.
Para quem quiser saber mais:
Air – "Moon Safari"
Casino Versus Japan – "Go Hawaii"
Stereolab – "Sound-Dust"
Kid Loco – "A Grand Love Story"
Beach Boys – "The Pet Sounds"
Nuno CruzA outra maneira de escutar os Rhodes e Moogs etéreos e frágeis é pensar nos Air (e, principalmente, Premiers Symptomes) como banda sonora de um filme de sensações puras que nos deixam num estado de “doce e deliciosa melancolia”(Fernando Silva dixit).
Temo cometer um enorme pecado se afirmar que Premiers Symptomes é [ainda] melhor que “Moon Safari”. Porque é muito mais puro. Porque foi gravado num apartamento (o de Nicolas Godin)) perdido nas ruelas de Paris. Porque é mais compacto, menos ambicioso, mais ambiental. E porque é radicalmente mais curto e leve, deixando tanto espaço e tempo por esculpir. Como se fosse apenas o início.
Premiers Symptomes começa com um sintoma (não é trocadilho) de toda a preciosidade dos Air: “Modular Mix”, homenagem ao Homem standartizado do Modulor de Corbusier e nítida influência da arquitectura moderna e do pensamento moderno [mais uma vez, o retro-futurismo], realizada em bolhas de oxigénio efervescentes e um Rhodes tenso e branco.
Com “Casanova 70” entram subtilmente todos os sons que definem o som vintage dos Air, começando pela sensualidade dos instrumentos de sopro sintetizados até ao lirismo dos tapetes Moog quentes e minimais.
É realmente o tema mais simbólico de Premiers Symptomes; o nome diz tudo sobre a influência dos filmes eróticos dos anos 70, ainda dominados pela revolução sexual da altura e pela crença de uma libertação. Não é difícil entrar nas atmosferas brancas de calças boca-de-sino e cadeiras “Globe” e varandas sobre uma qualquer metrópole cosmopolita distante no tempo.
Premiers Symptomes é uma recolhas dos “early singles” dos Air (a que se juntam “Californie” e “Brakes On” como bónus) e por isso foge, a priori, a qualquer tentativa de congruência formal. No entanto, a viagem que começa nos já referidos tema (os primeiros da sua carreira) continua suavemente por esquissos do que seria “Moon Safari” – e “Les Professionels” é o maior exemplo, ouvindo-se já “All I need” por trás da linha de baixo e do dedilhar da guitarra.
“J’Ai Dormi Sous L’Eau” [« dormi debaixo d’água] continua com o lirismo ‘dreamy’ tão suave como um sono profundo sob a água. Impressionante a força que possui este tema ao nos agarrar a ondas imaginárias, sugerindo uma concha, um exílio onde nada a não ser o azul da água nos possa alcançar. “Le Soleil Est Près de Moi », considerado quase unanimemente como o « highlight » de Premiers Symptomes, é talvez o momento mais « Safariesco », com os seus coros robóticos em câmara lenta.
“Californie” e “Brakes On” foram adicionados posteriormente, mas enquanto a primeira faz sentido enquanto quebra momentânea da nossa entrega hipnótica, procurando um certo psicadelismo funk que acaba de forma única, num ambiente sonoro [expressão da moda] tão expressivo quanto introspectivo.
“Brakes On” é uma remistura de um tema de Alex Gopher que está nitidamente a mais, sem no entanto retirar a magia de Premiers Symptomes.
Chamar único a este álbum é quase um pleonasmo. É obscuro, não contém nenhuma informação para além da música, e desprovido de qualquer personalização. É frágil e gentil. É um álbum que podia pertencer a qualquer músico, a qualquer pessoa. E simultaneamente único, porque transporta finalmente de forma quase pura o que vai na alma.
Para quem quiser saber mais:
Air – "Moon Safari"
Casino Versus Japan – "Go Hawaii"
Stereolab – "Sound-Dust"
Kid Loco – "A Grand Love Story"
Beach Boys – "The Pet Sounds"
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