DISCOS
Sun Kil Moon
Tiny Cities
· 24 Jan 2006 · 08:00 ·
Sun Kil Moon
Tiny Cities
2005
Caldo Verde / Edel


Sítios oficiais:
- Sun Kil Moon
- Caldo Verde
Sun Kil Moon
Tiny Cities
2005
Caldo Verde / Edel


Sítios oficiais:
- Sun Kil Moon
- Caldo Verde
Mark Kozelek é, entre outras coisas, conhecido pelas suas escolhas peculiares. É igualmente conhecido por ser um inveterado fã de versões. Em 2000, Rock ‘n Roll Singer marcava a estreia de Mark Kozelek em nome próprio (após alguma controversia editorial com os Red House Painters) e já aí ficava bem demonstrado o seu gosto por interpretar canções de outros. Versões dos AC/DC, uma cover de um tema de John Denver (em 1999 e 2000 Mark Kozelek prestou homenagem ao mesmo ao deitar as mãos a Take Me Home: A Tribute to John Denver), entre alguns temas originais. Não satisfeito com a façanha, em 2001, espantou meio mundo com What's Next to the Moon, um disco feito tão somente de versões dos AC/DC. Desde então ficou provado que Mark Kozelek consegue pegar no barro feio e mole e construir uma peça de artesanato de qualidade superior. O sucesso consegue ser tão grande em algumas canções (e na generalidade) que muitos jurarão a pés juntos que tais canções não podem ter sido escritas alguma vez pela dupla Scott e Young.

Agora, para o segundo disco dos Sun Kil Moon (onde o ‘Red House Painter’ se alia a Geoff Stanfield e Anthony Koutsos), Mark Kozelek propõe-se a, em pouco mais de 30 minutos, cobrir algumas canções do catálogo Modest Mouse. Sejamos prontamente honestos o suficiente para reconhecer que aqui o risco é menor e a arte menos necessária, essencialmente porque não é necessário dar a volta a coisa alguma. A papinha já está toda feita, mas isso não quer dizer que Mark Kozelek não tenha adicionado a estas canções o seu cunho pessoal; a marca preciosa que permite que se reconheça a voz de Mark Kozelek numa canção da mesma forma que se reconhece uma nota verdadeira no meio de mil falsas. Mesmo em tempos de intensa falsificação.

Sem querer, Mark Kozelek fez um tributo aos Modest Mouse. É provável que daqui a uns anos alguém deixe para trás a ideia de fazer um tributo aos autores de The Moon & Antarctica e Good News for People Who Love Bad News quando se lembrar que, bem, ele já foi feito. Há por aqui um punhado de canções que valiam a pena serem recordadas desta forma. Da forma que Mark Kozelek quer. Vamos directos à perfeição; à perfeição que chega com "Four Fingered Fishermen", numa indescritível delicadeza acústica a que Kozelek já nos habituou. A graciosa "Grey Ice Water" tem qualquer coisa de mariachi nos arranjos e contribuição das vozes femininas de Michi Aceret e Emily Herron, e “Convenient Parking”, nos seus menos de dois minutos, tem algo de (suficientemente) hipnótico que agarra facilmente.

A toada é obviamente acústica do início ao fim. “Jesus Christ was an only chil” é pontuada insistentemente por cordas mas sem se tornar balofa ou mesmo obesa. As palavras não são suas, mas nem por isso perdem o seu peso quando chegam a este interlocutor. Já perto do final, fica em mente uma frase dita e repetida em “Ocean Breathes Salty”: “You wasted life, why wouldn't you waste death?”, dito com a frieza aconchegante que é conhecida a Mark Kozelek. Mas seja qual forma a forma, a intenção ou a finalidade, Mark Kozelek e as canções são amigos há muito muito tempo. Dêem-lhe algo para cantar. Mostrem-lhe meia dúzia de canções merdosas que compuseram há meia dúzia de anos por entre uma irremediável depressão adolescente e lugares comuns dignos de êxitos do nu-metal. Ele encarregar-se-à de fazer delas algo belo e digno de ser recordado.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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