DISCOS
For Against
December [Reedição]
· 02 Dez 2005 · 08:00 ·
For Against
December [Reedição]
2005
Words on Music
Sítios oficiais:
- Words on Music
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For Against
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Foi para bem de uma merecida rectificação que December me veio parar as mãos. Há pouco mais de um ano escrevia sobre o debute Echelons, destes mesmos For Against, e optara por uma ambiguidade que entretanto se anulou. Referir sem rodeios as suas qualidades permite-me agora fazer as pazes com o passado: o injustamente ignorado Echelons é um clássico repartido por uma variedade que lhe garante intemporalidade, englobante ponte de transição entre as décadas de 80 e 90. Toma algum tempo até encontrar coito que o acolha, mas oculta um ecoar catchy que, assim que residente, conduz à adição. Echelons envelhece indiferente ao rock independente que lhe sucedeu. December cumpre como sequela lógica (embatendo a angústia solta do anterior álbum contra o mês que encerra o ano), sem aparentar menor ou maior qualidade - o que contraria a opinião de especializados que o tomam como o melhor disco do trio de Lincoln, Nebraska. A Words On Music tratou de recuperar os discos adormecidos, ao jeito de quem vê em ambas as reedições oportunidades de compreender o que separou a reclusão pós-punk da massificação da Brit Pop. Tudo isto de acordo com a apreciação “voyeurÃstica†dos For Against.
Ao percorrer um mapa-mundi com uma lupa, cedo se percebe que a lente só chega para cobrir totalmente um continente. Movimentações discretas há que um radar deixa escapar. Um dos elos perdido entre Echo & the Bunnymen e os Stone Roses pode até apontar discretamente para o Nebraska dos For Against. Além de assumir as despesas do baixo maquinador (mais próximo de Joy Division do que de Gang of Four, como alguns alegam), Jeffrey Runnings faz os possÃveis para manter firme a aproximação ao sotaque britânico (obtendo, inclusive, melhores resultados que Mel Gibson em Braveheart). Tudo o resto demonstra muito maior naturalidade, quer seja a vitriolização do traço rude do pós-punk (que havia de conduzir à dream pop) ou a estética celestial da melhor 4AD (a label de culto por excelência). Os For Against perdem-se em referências para, após assimilação, se encontrarem nos seus próprios recursos internos (entre os quais, o equilÃbrio entre os talentos encerrados no triângulo). Alturas há em que December parece andar desnorteado na mesma floresta que enclausurou os Cure entre Seventeen Seconds e Pornography. Serve de farol o ano novo que sempre encerra o mês de Dezembro.
Convém frisar a relação instável que December mantém com a celebração que simboliza o mês. O disco originalmente lançado pela Chameleon encara a quadra como o último obstáculo emocional a transpor antes que o ano termine. Faixas como “December†e “Last Laugh†levam a crer que o Natal pode até ser penoso, mas propÃcio a boas canções. Ambas alcatroam o caminho que havia de ser percorrido pelos Nada Surf em “80 Windows†(a enternecedora música que integra The Proximity Effect) ou pelos Pavement em final de carreira com Terror Twilight (um disco de Natal disfarçado de crepúsculo). A quadra implica tumultos emocionais que não compensam a aparente fraternidade que a sua proximidade intensifica. December tudo faz para cobrir a fragilidade a que o mês o remete com a emboscada a uma noção firme do norte como ponto cardeal (que rege a vocação musical e lÃrica do not-that-much-power-trio). Contudo, a caminhada para norte é feita à maneira do caranguejo: de frente para trás.
December sente equivalente ânsia pela chegada e partida do mês que lhe dá tÃtulo. Vive num dilema pendular que faz com que funcione melhor quando conjugado com a oscilação do limpa-vidros na frente de um qualquer carro. Pontualmente, torna-se amnésico quanto a coordenadas musicais e depende apenas da essência calorosa da canção para combater o arrefecimento da temporada. É um daqueles órfãos carentes de atenção que certamente garantiria substancial fatia da simpatia que Miguel Esteves Cardoso distribuÃa por discos de conduta brit à partida amaldiçoados.
Miguel ArsénioAo percorrer um mapa-mundi com uma lupa, cedo se percebe que a lente só chega para cobrir totalmente um continente. Movimentações discretas há que um radar deixa escapar. Um dos elos perdido entre Echo & the Bunnymen e os Stone Roses pode até apontar discretamente para o Nebraska dos For Against. Além de assumir as despesas do baixo maquinador (mais próximo de Joy Division do que de Gang of Four, como alguns alegam), Jeffrey Runnings faz os possÃveis para manter firme a aproximação ao sotaque britânico (obtendo, inclusive, melhores resultados que Mel Gibson em Braveheart). Tudo o resto demonstra muito maior naturalidade, quer seja a vitriolização do traço rude do pós-punk (que havia de conduzir à dream pop) ou a estética celestial da melhor 4AD (a label de culto por excelência). Os For Against perdem-se em referências para, após assimilação, se encontrarem nos seus próprios recursos internos (entre os quais, o equilÃbrio entre os talentos encerrados no triângulo). Alturas há em que December parece andar desnorteado na mesma floresta que enclausurou os Cure entre Seventeen Seconds e Pornography. Serve de farol o ano novo que sempre encerra o mês de Dezembro.
Convém frisar a relação instável que December mantém com a celebração que simboliza o mês. O disco originalmente lançado pela Chameleon encara a quadra como o último obstáculo emocional a transpor antes que o ano termine. Faixas como “December†e “Last Laugh†levam a crer que o Natal pode até ser penoso, mas propÃcio a boas canções. Ambas alcatroam o caminho que havia de ser percorrido pelos Nada Surf em “80 Windows†(a enternecedora música que integra The Proximity Effect) ou pelos Pavement em final de carreira com Terror Twilight (um disco de Natal disfarçado de crepúsculo). A quadra implica tumultos emocionais que não compensam a aparente fraternidade que a sua proximidade intensifica. December tudo faz para cobrir a fragilidade a que o mês o remete com a emboscada a uma noção firme do norte como ponto cardeal (que rege a vocação musical e lÃrica do not-that-much-power-trio). Contudo, a caminhada para norte é feita à maneira do caranguejo: de frente para trás.
December sente equivalente ânsia pela chegada e partida do mês que lhe dá tÃtulo. Vive num dilema pendular que faz com que funcione melhor quando conjugado com a oscilação do limpa-vidros na frente de um qualquer carro. Pontualmente, torna-se amnésico quanto a coordenadas musicais e depende apenas da essência calorosa da canção para combater o arrefecimento da temporada. É um daqueles órfãos carentes de atenção que certamente garantiria substancial fatia da simpatia que Miguel Esteves Cardoso distribuÃa por discos de conduta brit à partida amaldiçoados.
migarsenio@yahoo.com
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