DISCOS
David Bowie
The Rise and Fall of Ziggy Stardust
· 08 Ago 2002 · 08:00 ·
David Bowie
The Rise and Fall of Ziggy Stardust
1972
Virgin


Sítios oficiais:
- David Bowie
- Virgin
David Bowie
The Rise and Fall of Ziggy Stardust
1972
Virgin


Sítios oficiais:
- David Bowie
- Virgin
“David Jones”, foi com este nome que se estreou em disco o hoje David Bowie, no longínquo ano de 1964. Ao mudar de nome, de Jones para Bowie, ele apenas fez uma das muitas transfigurações que se haviam de seguir. David Bowie não tem parado de se reinventar, de criar personagens, de efectuar diversas transfigurações, Ziggy Stardust é talvez a mais conhecida e mais celebrizada de todas, e mostra em Bowie uma rara capacidade de criar personagens.

Depois de Ziggy Stardust, nada mais foi igual. Foi com este “The Rise and Fall of Ziggy Stardust” que David Bowie atingiu o caminho do estrelato e da glória (permaneceu 172 semanas no top britânico). Foi o salto definitivo que faltava na carreira de um homem, que hoje, passados mais de 35 anos sobre a sua estreia em disco se mantém com uma invejável vitalidade face aos seus velhos companheiros, hoje apontados como os mitos de 60 e 70.

Quem era Ziggy Stardust? Era, numa descrição tão concisa quanto possível, uma estrela marciana pronta a seduzir e a manipular os habitantes da Terra. Uma criatura sexualmente ambígua, de cabelos cor de fogo e roupas bizarramente brilhantes, um misto de deus e demónio. Com isto, David Bowie queria alcançar a fama e transformar-se numa vedeta pop, tal como Andy Warlhol, mas conseguiu-o de uma forma que muito ultrapassou Warlhol. “The Rise and Fall of Ziggy Stardust” acabaria por se transformar num clássico de referência e a ser apontado, ao lado de discos como “Heroes”, dos melhores da carreira de Bowie.

David Bowie apresentava neste “The Rise and Fall of Ziggy Stardust” uma música futurista (mesmo hoje o continua a ser) e dava o seu contributo para a definição do chamado “glam rock”, algo que muito marca este disco e que era até então não muito presente na música. Uma força vocal impressionante, letras que pressentiam um futuro decadente e uma música que invocava um medo enorme, são algumas das características do primeiro álbum conceptual de David Bowie. Canções com um travo rock, musicalmente estimulantes e liricamente competentes são as marcas do camaleão neste disco. Há quem não hesite em hoje dizer que este é um clássico imperfeito, mas face à tamanha importância deste disco e às repercussões que teve, quem o diz só pode estar enganado. Uma série de elementos contribuem para a faceta glam de Ziggy Stardust, um estilo muito próprio, um melodrama bem presente nas canções e nunca antes usado no rock & roll e uma componente cinemática muito forte são apenas alguns dos aspectos que para isso contribuem. A música reflectia uma crise de identidade na sociedade, e caracterizava-se por guitarras “riffadas”, acentuadas pelo baixo de Trevor Bolder e a bateria de Mick Woodmansey. Tudo isto algures entre a energia de Iggy Pop e o experimentalismo dos Velvet Underground. De realçar no disco a capa de Brian Ward, considerada por muitos uma obra-prima.

O disco foi reeditado e remasterizado em 2002, por alturas do 30º aniversário do álbum, e apresentava um segundo disco com raridades e lados b, para além de um pequeno livro com fotografias e um texto sobre Ziggy Stardust, tudo isto seguindo um impecável bom gosto. David Bowie reinventa-se e transfigura-se frequentemente, mas sempre que o faz, como com Ziggy Stardust, confunde-se com outra pessoa, ele mesmo.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
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