DISCOS
Hurtmold
Mestro
· 05 Ago 2005 · 08:00 ·
Hurtmold
Mestro
2004
Submarine Records


Sítios oficiais:
- Submarine Records
Hurtmold
Mestro
2004
Submarine Records


Sítios oficiais:
- Submarine Records
Em São Paulo há uma cena pós-rock que, embora tímida e curta em recursos começa a dar os seus frutos. Os Hurtmold são um desses frutos mais amadurecidos, uma das bandas mais talentosas da música brasileira independente. Só não são uma promessa porque já são uma certeza – os Hurtmold não nasceram ontem. Nasceram em 1998 em São Paulo e entre Dezembro de 2000 e Maio de 2003 lançaram os seus dois primeiros discos: Et cetera e Cozido, ambos editados pela Submarine Records - o terceiro lançamento dos brasileiros foi um split CD com o trio The Eternals, oriundo de Chigado. A uma formação de cinco músicos constituída por Fernando Cappi (guitarra e bateria), Guilherme Granado (teclados e vibrafone), Marcos Gerez (baixo) e Maurício Takara (bateria, guitarra, teclados e trompete) juntou-se Rogério Martins no início de 2003 para marcar presença no clarinete e na percussão. Daqui não é difícil retirar a certeza que estes Hurtmold são uma formação essencialmente instrumental – o único tema onde se ouvem vozes é em “Chuva Negra”, aquela que é uma das melhores faixas deste disco. E é com toda a naturalidade que, logo nos primeiros momentos, Mestro faz, nas rectas e nas curvas, lembrar os Tortoise.

A música dos Hurmold é um pouco como o artwork presente neste Mestro: maioritariamente marcado por uma cor mas onde por vezes trespassam outras, tudo igualmente criado com uma coerência e harmonia impressionantes. Passo a explicar. Apesar de os Hurmold serem uma banda que explora os ensinamentos do pós-rock, não raras vezes partem dessa mesma base para explorar linguagens do jazz ou elementos de uma certa brasilidade que sobrevivem em muitos momentos, especialmente na faixa que fecha este Mestro, a fantástica “Música politica para Maradona cantar” (também se nota por aqui algum humor). Aqui, depois de uma construção inicial onde a percussão desempenha papel fundamental, o baixo abre inesperadamente espaço para deambulações com ritmo mais acelerado onde se notam os tais elementos de brasilidade – a percussão assume aqui papel fulcral. Mas é logo na abertura do disco que os elementos percussivos (assim como as guitarras) mostram o seu papel de liderança: “Mestro”, a faixa que dá o nome ao disco é também um tema onde o ritmo e as inversões de ritmos dão cartas.

“Miniotário” é um relógio que contabiliza pouco mais de três minutos numa faixa que depois de terminada, qual bomba-relógio, passa testemunho a “Sova”, um tema que para além da estrutura habitual de guitarra, baixo e bateria conta com a presença de electrónica e com instrumentos de sopro que em modo free jazz rasgam o tema ao meio fazendo com que sangue seja derramado. Mas é em “Quase 6 de Misticismo” que a desconstrução assume proporções mais sérias lá para perto do fim, depois de alguma espiritualidade, claro está: a percussão respeita poucas ou nenhumas regras, as guitarras enraivecem mas depois tudo volta ao normal. E o normal é prazenteiro, mas o que se passa aqui é mais do que algo simplesmente agradável, é refrescante. Mestro é um disco para se ouvir sem ideias preconcebidas, sem receios, entre por exemplo Millions Now Living Will Never Die dos Tortoise, The Black Saint and the Sinner Lady de Charles Mingus e Brazilian Octopus dos Brazilian Octopus.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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