DISCOS
Sun Kil Moon
Ghosts of the Great Highway
· 26 Jul 2005 · 08:00 ·
Sun Kil Moon
Ghosts of the Great Highway
2003
JetSet


Sítios oficiais:
- Sun Kil Moon
- JetSet
Sun Kil Moon
Ghosts of the Great Highway
2003
JetSet


Sítios oficiais:
- Sun Kil Moon
- JetSet
Entre Março de 2002 e Maio de 2003, Mark Kozelek, o tal nome por detrás dos Red House Painters, fez-se rodear do baixista Geoff Stanfield (Black Lab), dos bateristas Anthony Koutsos (Red House Painters) e Tim Mooney (American Music Club e Toiling Midgets) e de um trio de cordas do conservatório de São Francisco para a gravação do tão aguardado álbum de estreia da sua nova banda, os Sun Kil Moon. Além de reunir aquilo que de melhor tinham os Red House Painters (que por alturas de Ocean Beach eram, de forma mais evidente que nunca, o projecto de Mark Kozelek) e a sua própria carreira a solo, Ghosts of the Great Highway acrescenta novos e aliciantes elementos ao maravilhoso e sonhador mundo de Mark Kozelek, provando que esta nova banda não é tão somente uma continuação do trabalho efectuado pelo(s) autor(es) de Songs for a Blue Guitar. Mas se comparações forem necessárias, talvez seja mesmo em Songs for a Blue Guitar que as semelhanças podem ser mais facilmente encontradas.

Antes de mais, Ghosts of the Great Highway é um livro de recortes musicado das mais recentes e frescas memórias de Kozelek, reproduzidas, como não podia deixar de ser, com a voz melíflua e serena que sempre o caracterizou. Este livro de recortes contém as imagens de pequenos episódios da sua vida, homenagens a pessoas vivas ou falecidas que, de uma forma ou outra, o influenciaram, e locais – por mais insignificantes que possam parecer – que fizeram e ainda fazem o imaginário e a existência de Mark Kozelek. Gravado em São Francisco por Aaron Prellwitz (que trabalhou com bandas como os Red House Painters ou os Hella), Ghosts of the Great Highway conta com dez temas originais de Mark Kozelek. Pelo menos por um disco, põe de parte as versões – AC/DC incluído. Comece-se então por dizer que a mudança de ares na sequência “Last Tide”/“Floating” é quase como a passagem de estação para estação – do ano, dos comboios, pouco importa, a questão está naquela passagem entre dois temas delicadíssimos, essencialmente acústicos (no primeiro deles, pode-se ouvir o suave balanço de cordas). Enquanto que “Glenn Tipton” recebeu o nome do guitarrista dos Judas Priest, “Lily and Parrots” foi escrita depois um passeio pelo bairro favorito de Mark Kozelek em São Francisco, Telegraph Hill, e tudo se percebe melhor quando diz, no meio das guitarras semi-enraivecidas, “Hear outside all the kids are playin / They're my wake up call each day / Look at them, their little lives beginning / I have watched them over years”.

“Duk Koo Kim”, que havia já aparecido em duas versões num dez polegadas lançado na editora de Cameron Crowe (a Vinyl Records), aparece aqui com quase quinze minutos. Guitarras abrasivas, xilofone e até uma guitarra portuguesa – que lhe foi oferecida aquando de uma das suas passagens por Portugal - desenham sombras esbatidas no já habitual épico de longa duração que é apanágio de Kozelek (em Old Ramon era “River”, em Songs for a Blue Guitar eram “Make Like Paper” e “Silly Love Songs”). “Si, Paloma” é um tema instrumental de tons exóticos e soalheiros que coloca os fãs de Mark Kozelek em locais onde nunca haviam estado – pelo menos nunca pela sua mão.

A verdade é que as guitarras dos Crazy Horse continuam a rugir por aqui, sem vergonha alguma (“Salvador Sanchez” é o caso mais evidente) e também a presença de Neil Young, ou seja, elementos normalmente associados a Mark Kozelek, sobretudo nos últimos anos. Odiado por muitos, adorado por outros tantos, a verdade é que Mark Kozelek é ainda uma figura relevante nos tempos que correm, e os Sun Kil Moon são muito possivelmente a lufada de ar fresco que a sua carreira necessitava.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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