DISCOS
Colder
Heat
· 19 Jul 2005 · 08:00 ·
Paris, 07:30 h da manhã, a temperatura oscila entre 6 ºC e 9 ºC. O nevoeiro ameaça tomar conta das próximas horas. Alguém decide soerguer-se da cama a custo e libertar da aparelhagem a última criação musical de Marc Ngunyen Tan, aka Colder. Havia sido dito que Colder combina na perfeição com serões infindáveis em que não se consegue pregar olho. Considerando a teoria segundo a qual a audição de determinado disco deve acontecer em determinada altura do dia (ou da noite), diga-se que ouvir Heat pela manhã traz as suas vantagens, facilitando nomeadamente a árdua tarefa do despertar.
De Paris para o mundo, Colder desencadeia um misto de curiosidade e perplexidade. Sem querer chamar os LCD Soundsystem ao barulho, estávamos habituados a que, vindos de França, fossem os Daft Punk a tocar na nossa casa. Ou os Air. Colder é, por assim dizer, o último grito de Paris. E, com epicentro nessa cidade, espera-se que o fenómeno propague rapidamente. Geografias à parte, Heat é a confirmação da auspiciosa estreia de Colder em 2003 por altura do lançamento de Again. Após ter sido aclamado pela crítica pelo seu álbum de estreia, Marc Nguyen Tan arquitectou para este segundo longa-duração dez composições recheadas de arrojo e muita classe. Não é sem alguma ponta de estranheza que descobrimos neste registo uma sonoridade que remete a Joy Division. E não só. Denuncia igualmente uma amálgama de derivações às quais a flagrante evocação da mítica banda de Manchester se junta a um certo glam próprio dos Human League e uma melancolia sintetizada à la Depeche Mode. Se a isso acrescentarmos pop, rock e electrónica a meio caminho entre o pós-punk e a new-wave, ficamos mais esclarecidos quanto à amplitude do arrojo reunido neste Heat. E se considerarmos ainda a produção a cargo de Trevor Jackson, conhecido produtor e remixer por detrás da editora Output, ficaremos mais convencidos de que estamos perante alguém que dará muito que falar.
Heat é um puro exercício de estilo, um misto de sensibilidade e sofisticação. "Wrong Baby" dá-nos as boas-vindas através do baixo omnipresente do seu intro e abre portas para um disco minimalista, ora acústico, ora com diversas programações à mistura como no caso de "On My Mind". Mas sempre com classe. É indiscutível que Marc Nguyen conseguiu reunir elementos suficientes para incutir um cunho pessoal criativo nos seus registos. No entanto, a audição de Heat não deixa igualmente dúvidas quanto à apropriação de um certo melodramatismo que a banda de Ian Curtis imortalizou (contudo bastante menos tortuoso) e ainda de outras marcas reinventadas do passado. Se assim é, porque é que não aborrece todo este reaproveitamento eclético de elementos que a história musical se encarrega de deixar para trás? Talvez porque o reavivar do passado nem sempre ofende e porque do revivalismo ainda reza a história.
Eugénia AzevedoDe Paris para o mundo, Colder desencadeia um misto de curiosidade e perplexidade. Sem querer chamar os LCD Soundsystem ao barulho, estávamos habituados a que, vindos de França, fossem os Daft Punk a tocar na nossa casa. Ou os Air. Colder é, por assim dizer, o último grito de Paris. E, com epicentro nessa cidade, espera-se que o fenómeno propague rapidamente. Geografias à parte, Heat é a confirmação da auspiciosa estreia de Colder em 2003 por altura do lançamento de Again. Após ter sido aclamado pela crítica pelo seu álbum de estreia, Marc Nguyen Tan arquitectou para este segundo longa-duração dez composições recheadas de arrojo e muita classe. Não é sem alguma ponta de estranheza que descobrimos neste registo uma sonoridade que remete a Joy Division. E não só. Denuncia igualmente uma amálgama de derivações às quais a flagrante evocação da mítica banda de Manchester se junta a um certo glam próprio dos Human League e uma melancolia sintetizada à la Depeche Mode. Se a isso acrescentarmos pop, rock e electrónica a meio caminho entre o pós-punk e a new-wave, ficamos mais esclarecidos quanto à amplitude do arrojo reunido neste Heat. E se considerarmos ainda a produção a cargo de Trevor Jackson, conhecido produtor e remixer por detrás da editora Output, ficaremos mais convencidos de que estamos perante alguém que dará muito que falar.
Heat é um puro exercício de estilo, um misto de sensibilidade e sofisticação. "Wrong Baby" dá-nos as boas-vindas através do baixo omnipresente do seu intro e abre portas para um disco minimalista, ora acústico, ora com diversas programações à mistura como no caso de "On My Mind". Mas sempre com classe. É indiscutível que Marc Nguyen conseguiu reunir elementos suficientes para incutir um cunho pessoal criativo nos seus registos. No entanto, a audição de Heat não deixa igualmente dúvidas quanto à apropriação de um certo melodramatismo que a banda de Ian Curtis imortalizou (contudo bastante menos tortuoso) e ainda de outras marcas reinventadas do passado. Se assim é, porque é que não aborrece todo este reaproveitamento eclético de elementos que a história musical se encarrega de deixar para trás? Talvez porque o reavivar do passado nem sempre ofende e porque do revivalismo ainda reza a história.
eugeniaazevedo@bodyspace.net
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