DISCOS
Deerhoof
Green Cosmos EP
· 14 Jun 2005 · 08:00 ·
Deerhoof
Green Cosmos EP
2005
Toad / Menlo Park


Sítios oficiais:
- Deerhoof
- Toad
- Menlo Park
Deerhoof
Green Cosmos EP
2005
Toad / Menlo Park


Sítios oficiais:
- Deerhoof
- Toad
- Menlo Park
Os investigadores da Johns Hopkins University chegaram a uma conclusão que, embora não afecte a concepção geral que temos do universo, contribui certamente uma revelação cromática do cosmos. Depois de terem juntado o arco-íris de cores que constituem o universo visível e, posteriormente, misturado essas mesmas cores, uma cor emergiu no meio de todas as outras: o verde, ou alguma coisa mais verde do que turquesa pálido. Ivan Bladry comentou que o processo que levou à descoberta é mais ou menos equivalente ao retirar toda a luz do universo e passá-la por um prisma. Mas nem todos concordam com a atribuição da cor; alguns chamam-lhe verde menta. O certo é que Glazebrook e Baldry brincaram já com a própria situação, sugerindo até a criação de t-shirts e canecas de café a condizer, embelezadas com a frase “A verdadeira cor do Universo.”.

Tudo isto leva-nos directamente para o novo lançamento dos Deerhoof, o EP Green Cosmos (que mais parece um tributo à descoberta), recheado de novas e excitantes surpresas. A primeira é que nunca os Deerhoof soaram tão orquestrais. A segunda é que Satomi decidiu cantar todas as canções deste Green Cosmos (com a excepção da frase “Come see the duck” na faixa de abertura com o mesmo nome) em japonês, principalmente com o intuito de saber como é que os Deerhoof iriam soar se ela própria estivesse a pensar nos ouvintes do seu país, e, ao mesmo tempo, como é que isso iria alterar a forma como ela própria escreveria as letras (tudo muito conveniente, se pensarmos que este EP com sete temas se destina originalmente à editora japonesa da banda, a Toad).

Em pouco mais de um minuto, a faixa de abertura “Come See the Duck”, coloca em cima do ringue uma orquestra e uma formação com aproximações ao noise e o resultado é deveras estimulante. Até porque a isto tudo se juntam ritmos surpreendentes, explosões de fúria, descargas ruidosas e percussão induzida por cólera. O que não se espera de todo é que na faixa seguinte, “Green Cosmos”, nos atirem para cima ritmos latinos e órgãos deliciosamente obesos que acompanham a voz de Satomi. A verdade é que a música dos Deerhoof joga constantemente com o factor surpresa e este Green Cosmos está pejado de ganchos, caixinhas de surpresas e falsos degraus. E o que dizer quando lá para o meio do tema “Green Cosmos” uma orquestra de órgãos de levanta e traz consigo de novo os tais ritmos latinos nunca antes escutados no maravilhoso mundo dos Deerhoof? Nada a não ser que o convite a um pezinho de dança pouco peculiar está à vista de todos. Mas não é caso único. Spiral Golden Town (que havia já surgido no 7" Se Piangi Se Ridi com o nome "Strawberry Bananas" e dotada de artimanhas electropop) é uma estranha mescla de europop, funk manhoso feito de guitarras duvidosas e Festival Eurovisão da Canção, que traz dividendos de diversão para todos (poucos são aqueles que conseguem transformar o manhoso em prazenteiro).

Noutro campeonato completamente diferente, os Deerhoof retiram do baú dois temas quase baladeiros: enquanto que “Malalauma” se deixa guiar por uma guitarra de tons acinzentados (que depois acaba por ser puxada pela percussão para rasgos menos contidos), “Koneko Kitten” é uma nuvem que solta pozinhos maravilhosos de candura e inocência. Por fim, “Byun” mistura o rock mais musculado com pequenas melodias deliciosamente melífluas e marca o regresso à toada dominante de Green Cosmos: um mundo simultaneamente barulhento e doce, caótico e suspenso, maravilhoso e tenebroso, ameaçador e dócil, sombrio e luminoso. O mundo dos Deerhoof.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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