DISCOS
Terrestrial Tones
Blasted
· 01 Jun 2005 · 08:00 ·
Terrestrial Tones
Blasted
2004
Psych-o-Path


Sítios oficiais:
- Psych-o-Path
Terrestrial Tones
Blasted
2004
Psych-o-Path


Sítios oficiais:
- Psych-o-Path
Dificilmente se imaginaria que um cruzamento musical entre os dois colegas de quarto Dave Porter (Animal Collective) e Eric Copeland (Black Dice) resultasse numa espécie de banda sonora para uma viagem de submarino adornada de tons electrónicos. Mas a verdade é que resulta, e a Psych-o-Path aproveitou o momento para o transformar em disco. Obviamente, do lado de Eric Copeland, ainda para mais quando se pensa em Creature Comforts, Blasted acaba por fazer todo o sentido. Talvez tenha sido mesmo Dave Porter a juntar-se ao mundo dos Black Dice porque, na verdade, não há sinais de fogueiras acesas, cânticos de acampamento, percussão tribal ou guitarras acústicas. Há, por outro lado, todo um cosmos de lava quente, magma, investidas robóticas, desumanização, uma ameaça sísmica que não chega a concretizar-se.

De terrestres os autores de Blasted pouco ou nada têm: se por um lado as composições parecem estar submersas, guardadas no fundo do oceano, por outro este bizarro submarino parece ser conduzido por criaturas alienígenas. As mesmas responsáveis pela saudação que abre este Blasted. Depois surgem então as primeiras experiências de aquário, como se as criaturas que vivem no fundo do oceano engendrassem uma fuga da prisão. “Gorilla in the Woods” põe em marcha a viagem deste submarino que mal chega a águas internacionais recolhe o som de aves, risos e os sinais de alguma humanidade perversa. “Heavy Angel” é uma jornada (a maior deste disco) com a duração de mais de dez minutos feita de micro tons, matizes microscópicas que estabelecem o apelo a uma espécie de dança silenciosa e imóvel. Tudo, obviamente, sem que se saia do fundo das águas.

Depois de algumas micro viagens, pequenas deambulações de tonalidades ambientais, conflitos entre máquinas e seres de outros planetas, martelos que batem em pedra e profunda experimentação electrónica (afinal de contas este Blasted tem a duração de apenas trinta e poucos minutos), “West Indian Day Parade”, como o próprio nome indica, vê Dave Porter e Eric Copeland no dia certo da celebração. Mas com o quase violento desaparecer do sample com o som da banda encarregue de musicar a parada, o submarino continua o seu trajecto acolhendo todos os elementos que se cruzam com ele: o borbulhar da água, electricidade estática, os estalidos e demais ruídos e até as sensações de profundidade e infinito das águas. “West Indian Day Parade”, nos seus quatro minutos e alguns segundos, concentra os melhores momentos que Blasted tem para oferecer. De resto, não se pode dizer que Blasted consiga superar as expectativas que um disco da autoria de membros de dois mundos tão fascinantes como os dos Black Dice e os Animal Collective poderia suscitar. Na verdade, Blasted pouco mais adianta a não ser a confirmação da Psych-o-Path como uma editora a ter cada vez mais em conta e o reforço de Brooklyn como ponto musical fervilhante.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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