DISCOS
Autodigest
A compressed History of Everything Ever Recorded, Vol. 2: Ubiquitous Eternal Live
· 01 Mai 2005 · 08:00 ·
Autodigest
A compressed History of Everything Ever Recorded, Vol. 2: Ubiquitous Eternal Live
2004
Ash International / Crónica Electrónica
Sítios oficiais:
- Ash International
- Crónica Electrónica
A compressed History of Everything Ever Recorded, Vol. 2: Ubiquitous Eternal Live
2004
Ash International / Crónica Electrónica
Sítios oficiais:
- Ash International
- Crónica Electrónica
Autodigest
A compressed History of Everything Ever Recorded, Vol. 2: Ubiquitous Eternal Live
2004
Ash International / Crónica Electrónica
Sítios oficiais:
- Ash International
- Crónica Electrónica
A compressed History of Everything Ever Recorded, Vol. 2: Ubiquitous Eternal Live
2004
Ash International / Crónica Electrónica
Sítios oficiais:
- Ash International
- Crónica Electrónica
Quase sem que déssemos por isso – e por vontade da inovação – o conceito de música sofreu, nesta última década, uma evolução inevitável. Longe vão os tempos em que carregar um LP debaixo do braço significava longas semanas de estudo e dedicação, concentração e convergência de todas as esperanças acumuladas durante semanas - as semanas que antecediam o seu lançamento - naquele único e precioso registo. O mesmo aconteceu e acontece - ainda que cada vez menos - com o CD, embora sem aquela aura de quase misticismo própria da época em que o vinil era rei e senhor. Agora os tempos são outros. Nos dias que correm, com a introdução do MP3 e dos peer-to-peer, ter acesso a uma canção não demora mais do que uma ida à casa de banho ou do que qualquer actividade rotineira de dia-a-dia e até é já possível transportar centenas de canções numa pequena máquina que, ironia do destino, se carrega junto à cintura. Perante todas estas novas coordenadas é justo e legítimo discutir-se o estado da música no século XXI - por mais assustadoras ou reconfortantes que sejam as conclusões do debate.
Autodigest surge nesta discussão num hall de hotel a 26 de Maio de 2001, pelas nove horas da manhã, por interferência do muzak que se incrustava nos ouvidos dos presentes. Dois anos depois surgiu o primeiro volume da peculiar e curiosa série A Compressed History of Everything Ever Recorded , um exercício satírico que se debatia com alguns dos sinais desencadeados pela compressão digital, com a diminuição da experiência autêntica da criação musical e com a rapidez e eficiência que deram lugar à lealdade e à delicadeza de tempos passados. O segundo volume, editado em Novembro de 2004, presta-se a uma abordagem diferente da História do Som Gravado e aumenta ainda mais o grau de premência das edições de Autodigest e, consequentemente da sua – neste caso a par com a Ash Iternational – casa de acolhimento, a cada vez mais eminente Crónica Electrónica. Através de uma faixa com a duração de pouco mais de uma hora, inventariada e composta em Portugal nos primeiros meses de 2004 e masterizada por Denis Blackham em Abril do mesmo ano, contendo apenas aplausos e reacções histéricas dos públicos (exactamente, nem mais nem menos do que uma hora de aplausos e reacções exacerbadas habituais em qualquer espectáculo, com os seus momentos de crescendo, euforia e por fim apaziguamento) que se expandem e se transformam, eventualmente, em drones ou camadas sobrepostas, Autodigest pretende consubstanciar um olhar crítico sustentado nos ensinamentos de Baudrillard, Harvey, Guy Debord e Theodore Adorno e - quase certamente - as obras The Culture Industry: Enlightenment as Mass Deception e Separation Perfected, The Society of Spectacle, dos dois últimos autores citados, respectivamente.
Autodigest pretende igualmente sublinhar o hábito cada vez mais presente de se concentrar o prazer no processo de compra no lugar do próprio objecto, o que constitui toda uma nova realidade incontornável que faz com que o aplaudir não seja mais do que o resultado de uma construção mental do vazio ou do inexistente. Ubiquitous Eternal Live explora, ainda que de forma incorpórea, o limbo entre o aplauso derivado de uma súbita, sincera e incontrolável necessidade de agradecimento e reconhecimento e a manifestação de um sentimento induzido por uma obrigação inconsciente de gratificação oca. Mesmo sem ser uma tentativa de exteriorização nostálgica, Ubiquitous Eternal Live é uma constante chamada de atenção para aquilo que apelidam de eminente colapso da música tal como a conhecemos. Daí que faça todo o sentido o conselho deixado no booklet - com fotografia de Heitor Alvelos e design de Jon Wozencroft - que o acompanha: “Best played in “Repeat” mode”.
André GomesAutodigest surge nesta discussão num hall de hotel a 26 de Maio de 2001, pelas nove horas da manhã, por interferência do muzak que se incrustava nos ouvidos dos presentes. Dois anos depois surgiu o primeiro volume da peculiar e curiosa série A Compressed History of Everything Ever Recorded , um exercício satírico que se debatia com alguns dos sinais desencadeados pela compressão digital, com a diminuição da experiência autêntica da criação musical e com a rapidez e eficiência que deram lugar à lealdade e à delicadeza de tempos passados. O segundo volume, editado em Novembro de 2004, presta-se a uma abordagem diferente da História do Som Gravado e aumenta ainda mais o grau de premência das edições de Autodigest e, consequentemente da sua – neste caso a par com a Ash Iternational – casa de acolhimento, a cada vez mais eminente Crónica Electrónica. Através de uma faixa com a duração de pouco mais de uma hora, inventariada e composta em Portugal nos primeiros meses de 2004 e masterizada por Denis Blackham em Abril do mesmo ano, contendo apenas aplausos e reacções histéricas dos públicos (exactamente, nem mais nem menos do que uma hora de aplausos e reacções exacerbadas habituais em qualquer espectáculo, com os seus momentos de crescendo, euforia e por fim apaziguamento) que se expandem e se transformam, eventualmente, em drones ou camadas sobrepostas, Autodigest pretende consubstanciar um olhar crítico sustentado nos ensinamentos de Baudrillard, Harvey, Guy Debord e Theodore Adorno e - quase certamente - as obras The Culture Industry: Enlightenment as Mass Deception e Separation Perfected, The Society of Spectacle, dos dois últimos autores citados, respectivamente.
Autodigest pretende igualmente sublinhar o hábito cada vez mais presente de se concentrar o prazer no processo de compra no lugar do próprio objecto, o que constitui toda uma nova realidade incontornável que faz com que o aplaudir não seja mais do que o resultado de uma construção mental do vazio ou do inexistente. Ubiquitous Eternal Live explora, ainda que de forma incorpórea, o limbo entre o aplauso derivado de uma súbita, sincera e incontrolável necessidade de agradecimento e reconhecimento e a manifestação de um sentimento induzido por uma obrigação inconsciente de gratificação oca. Mesmo sem ser uma tentativa de exteriorização nostálgica, Ubiquitous Eternal Live é uma constante chamada de atenção para aquilo que apelidam de eminente colapso da música tal como a conhecemos. Daí que faça todo o sentido o conselho deixado no booklet - com fotografia de Heitor Alvelos e design de Jon Wozencroft - que o acompanha: “Best played in “Repeat” mode”.
andregomes@bodyspace.net
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