É o regresso às aulas. O ano lectivo teve início sem que se conhecessem os nomes dos professores colocados e registaram-se os pequenos desacatos da ordem. A própria Leopoldina surgiu adiantada em relação ao timing ideal para o negócio. Valha-nos a determinação dos estudantes universitários, sempre dispostos a sacrificar uma quinta-feira passada em Santos em abono de um 18 na pauta. Os For Against também são alunos exemplares. Acumulam excelentes resultados em História da Factory, Teoria Smithiana (dividida em dois semestres - The Smiths e Robert Smith) e Técnicas de Transição. Acenam sempre que o professor debita matéria na sua direcção, para depois reformularem as palavras através das suas, que fazem questão de partilhar com a restante turma. Passa a valer mais a eloquência do que a relevância do que é dito. Os For Against distinguem-se pela forma notável como sumarizam, mas - pratos limpos, contas feitas - são académicos.

Por esta altura já haverá certamente quem me deseje a morte pelo name-dropping das passadas linhas, porém, neste caso, as influências são evidentes ao ponto de se tornarem indissociáveis. Geograficamente, Echelons será a ponte que liga Londres a Lincoln (no Nebraska). Lançado em 1987 pela Independent Project Records, foi nomeado para um Grammy pelo seu design, que primava pela inclusão de um punhado de trigo em cada exemplar da sua primeira edição em vinil. Conhece agora a alta fidelidade do formato CD pela mão da Words on Music, abrigo indie ao qual os For Against estão actualmente vinculados.

Apontado o academismo e escassa genuinidade do disco em causa, refira-se, com equivalente convicção, as suas múltiplas virtudes. À cabeça, a inegável sensação que emerge após curto período de convívio: além de ter sobrevivido ileso a quase duas décadas de radicais viragens à esquerda e à direita por parte da tendência musical, Echelons contém as qualidades essenciais para, como um bom vinho do Porto, fazer dos anos acumulados agentes a favor de um sabor que se vai refinando. Conta com todos os atributos de um clássico do género: o equilíbrio proporcionado pela melodia de cara lavada, a contenção zen violada a espaços pela inquietude juvenil (consultar "It's a Lie") e uma linguagem que, ao englobar tão diversificadas referências, serve de documento a grande parte do rock independente praticado em 1987. Os For Against sabiam exactamente o que queriam. O número de camadas que aplicam às suas composições é invariavelmente ideal, o que atribui uma simplicidade "enxuta" que só favorece o impacto e longevidade deste retrato de uma vontade conjunta.

Não fossem as referências tão óbvias (o pastiche à imagem dos Joy Division é passível de deixar os nervos em franja), e Echelons teria sido um dos mais memoráveis compêndios musicais da década de 80. A banda não morreu na praia. Em vez disso, cometeu hara-kiri com uma espada - de gume Do It Yourself - que decepou o expoente de um colectivo pronto a conquistar território europeu, mas que, por bairrismo ou razões de ordem ética, esbanjou essa oportunidade única. Os For Against até podiam ter um contrato multi-milionário com a Warner e voar pelo mundo inteiro num jacto privado. A todos e principalmente aos que, há segundos, franziram a sobrancelha, recomendo vivamente Echelons. Trigo do melhor trigo.