DISCOS
Descendents
Cool to be You
· 30 Set 2004 · 08:00 ·

Descendents
Cool to be You
2004
Fat Wreck Chords
Sítios oficiais:
- Descendents
- Fat Wreck Chords
Cool to be You
2004
Fat Wreck Chords
Sítios oficiais:
- Descendents
- Fat Wreck Chords

Descendents
Cool to be You
2004
Fat Wreck Chords
Sítios oficiais:
- Descendents
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Cool to be You
2004
Fat Wreck Chords
Sítios oficiais:
- Descendents
- Fat Wreck Chords
Em equipa que ganha não se mexe. Karadas deveria ter arrecadado a titularidade em Aveiro. Tal como, por esta altura, os Descendents já bem mereciam uma estátua no urinol do "Hall of Fame" do rock. Creio que só aí se sentiriam à vontade ao gravar as mãos no cimento. Desde Everything Sucks que correm o risco de verem cada novo lançamento ser perspectivado com nostalgia. Após um interregno de oito anos surge o EP Merican - prenúncio politizado que serviu de aperitivo ao aguardado longa-duração Cool to be You. Desta vez coube à Fat Wreck Chords o lançamento pela mão do admirador confesso Fat Mike. Tal como seria de esperar, os Descendents continuam iguais a si mesmos.
É a continuidade e perseverança que continuam a reinar. Seja através de uma identidade imutável, manutenção de modus-operandi e um mesmo conceito gráfico centrado na personagem de Milo, que caricatura o próprio vocalista. O estilo da ilustração chegou a ser reaproveitado pela 7 Up na campanha Fido Dido e desta vez coube a Chris Shary desenhar a figura que serve de capa ao disco. Os Descendents permanecem desmesuradamente urbanos e descomplexados na forma como compõem músicas em tudo semelhantes às que já fazem parte do seu reportório. Continuam a expor os mesmos receios (verem-se privados de televisão será porventura o maior deles) e voltam a fazer as pontuais referências à flatulência. A música dos Descendents transparece uma serenidade própria de quem à beira de um ataque nuclear teria como única preocupação assegurar um modo de poder assistir aos Simpsons na eventualidade de um "apagão". Com batatas de paprika e umas cervejas por perto.
O universo da banda californiana desde sempre se viu limitado a um micro-cosmos temático francamente sui-generis: raparigas, comida e a supracitada televisão. A trindade é de tal forma primária que acaba por magnetizar a nossa estranha atracção por banalidade e episódios corriqueiros. Os Descendents são estupidamente juvenis e, 25 anos depois, sentem-se perfeitamente à vontade com isso. Abunda por aqui material substancial capaz de suster uma tese de doutoramento relativa à psique norte-americana. Sem nunca terem alcançado reconhecimento que se compare sequer ao que bateu à porta dos Ramones, terão sido os seus lógicos herdeiros (ou, pelo menos, dignos de almejarem a esse título). Para sustentar este meu arrojado elogio, basta referir que os Descendents foram capazes - por mais que uma vez - de transformar uma fulminante digressão sobre fast-food num hino de geração. Bastam os 88 segundos de "I'm not a Loser" (de Milo Goes to College) para iluminar a mente de qualquer miúdo prestes a atravessar a puberdade.
Cool to be You vem saudar e felicitar todos aqueles que sobreviveram às borbulhas e grandes doses de pornografia durante esse conturbado período - na companhia dos Descendents, de preferência. Não marcará presença nos balanços de fim de ano e a abordagem por parte das publicações especializadas foi bastante discreta. Na verdade, o mais recente lançamento dos Descendents não fará sombra a qualquer um dos outros capítulos da sua discografia. Mas nunca a mais simpática banda formada pelo punk da velha escola almejou a mais que tocar música por gosto para quem esteja disposto a pactuar com esta abandalhada forma de tornar fascinante a simplicidade. Não há por aqui aquela pretensiosa ambição própria de uma loura à procura de emprego em Hollywood. O lema olímpico do Barão de Coubertin converte-se aqui em "Não importa ganhar, os gajos porreiros acabam em último" (tradução livre de "Nice Guys Finish Last"). Este é apenas mais um disco dos Descendents, o que só por si já é bom sinal.
Miguel ArsénioÉ a continuidade e perseverança que continuam a reinar. Seja através de uma identidade imutável, manutenção de modus-operandi e um mesmo conceito gráfico centrado na personagem de Milo, que caricatura o próprio vocalista. O estilo da ilustração chegou a ser reaproveitado pela 7 Up na campanha Fido Dido e desta vez coube a Chris Shary desenhar a figura que serve de capa ao disco. Os Descendents permanecem desmesuradamente urbanos e descomplexados na forma como compõem músicas em tudo semelhantes às que já fazem parte do seu reportório. Continuam a expor os mesmos receios (verem-se privados de televisão será porventura o maior deles) e voltam a fazer as pontuais referências à flatulência. A música dos Descendents transparece uma serenidade própria de quem à beira de um ataque nuclear teria como única preocupação assegurar um modo de poder assistir aos Simpsons na eventualidade de um "apagão". Com batatas de paprika e umas cervejas por perto.
O universo da banda californiana desde sempre se viu limitado a um micro-cosmos temático francamente sui-generis: raparigas, comida e a supracitada televisão. A trindade é de tal forma primária que acaba por magnetizar a nossa estranha atracção por banalidade e episódios corriqueiros. Os Descendents são estupidamente juvenis e, 25 anos depois, sentem-se perfeitamente à vontade com isso. Abunda por aqui material substancial capaz de suster uma tese de doutoramento relativa à psique norte-americana. Sem nunca terem alcançado reconhecimento que se compare sequer ao que bateu à porta dos Ramones, terão sido os seus lógicos herdeiros (ou, pelo menos, dignos de almejarem a esse título). Para sustentar este meu arrojado elogio, basta referir que os Descendents foram capazes - por mais que uma vez - de transformar uma fulminante digressão sobre fast-food num hino de geração. Bastam os 88 segundos de "I'm not a Loser" (de Milo Goes to College) para iluminar a mente de qualquer miúdo prestes a atravessar a puberdade.
Cool to be You vem saudar e felicitar todos aqueles que sobreviveram às borbulhas e grandes doses de pornografia durante esse conturbado período - na companhia dos Descendents, de preferência. Não marcará presença nos balanços de fim de ano e a abordagem por parte das publicações especializadas foi bastante discreta. Na verdade, o mais recente lançamento dos Descendents não fará sombra a qualquer um dos outros capítulos da sua discografia. Mas nunca a mais simpática banda formada pelo punk da velha escola almejou a mais que tocar música por gosto para quem esteja disposto a pactuar com esta abandalhada forma de tornar fascinante a simplicidade. Não há por aqui aquela pretensiosa ambição própria de uma loura à procura de emprego em Hollywood. O lema olímpico do Barão de Coubertin converte-se aqui em "Não importa ganhar, os gajos porreiros acabam em último" (tradução livre de "Nice Guys Finish Last"). Este é apenas mais um disco dos Descendents, o que só por si já é bom sinal.
migarsenio@yahoo.com
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