DISCOS
Lambchop
This (is what I wanted to tell you)
· 12 Mar 2019 · 11:35 ·
Lambchop
This (is what I wanted to tell you)
2019
Merge / City Slang


Sítios oficiais:
- Lambchop
- Merge
- City Slang
Lambchop
This (is what I wanted to tell you)
2019
Merge / City Slang


Sítios oficiais:
- Lambchop
- Merge
- City Slang
Para não-fãs.
A história começa mais ou menos assim: Kurt Wagner, o núcleo duro dos Lambchop, encontrou-se em 2017 com Matt McCaughan, baterista de Bon Iver e Hiss Golden Messenger. Trocaram umas palavras, beberam uns copos e decidiram colaborar juntos após Matt ter dito a Kurt que andava a fazer umas experiências com sintetizadores, pedindo-lhe que cantasse umas coisas à volta das quais pudesse compor. É esse encontro que resulta em This (is what I wanted to tell you), o novo álbum dos Lambchop. E é imprescindível referir esse encontro, de forma a perceber a sonoridade deste mesmo disco.

Mesmo quem nunca ouviu os Lambchop na vida terá uma vaga ideia daquilo a que possam soar: canções com ecos da country e da folk, letras mais ou menos literárias, o novelo-América a desenrolar-se em steel guitars, pianos, harmónicas, memórias vagas de terras isoladas com xerifes e bandidos. Essa ideia, em This..., raramente entrará na cabeça que se digne a ouvi-lo. Os textos de apresentação do álbum descrevem-no como "honesto", sem mencionar a electrónica, o auto-tune, a influência do Bon Iver de 22, A Million (disco que ninguém com dois dedos de testa merece ouvir mais que meia vez). Pode-se ser honesto soando-se a tudo o resto? Ou há mais honestidade em admitir que, sim, é-se apenas uma cópia?

É provável que This... não seja um álbum fácil para os fãs mais acérrimos dos Lambchop - que, a existir, devem andar entre os meninos indie que leram Lorca no liceu e se acham mais inteligentes que o humano comum, e os quarentões alcoólicos com barba e cabelo brancos, dois filhos e um divórcio bem resolvido. Mas também é provável que quem nunca ouviu a porra dos Lambchop encontre aqui um disco catita, já que tudo o que se andou a ler sobre o projecto acabou por não se verificar, e é sempre fixe quando a malta experimenta fora da sua caixa de segurança.

Num disco que é sempre sobre o "tu" - "The new isn't so you anymore", "Everything for you", "The air is heavy and I should be listening to you", etc., etc. -, há pouco espaço para nos identificarmos com as mensagens que Kurt vai deixando ao outro, mas será possível apreciar as texturas James Blake-ianas da coisa, em formato ligeiramente mais soul, com a electrónica e o auto-tune a serem utilizados como um método e não como uma obsessão, bem como os arranjos e os ritmos próximos do trip-hop. No fundo, é um álbum para quem nunca ouviu Lambchop antes, despertando o mínimo de interesse nos trabalhos anteriores. Só aí poderemos, eventualmente, perceber se este é ou não um grande disco da banda.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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