"O que é a Europa?", pergunta o povo, perguntam os políticos, perguntam os economistas, os filósofos, os agentes culturais; "o que é a Europa", pergunta quem chega, quem parte e quem fica, a observar de perto todas as manigâncias que hoje em dia formam uma Europa estranha e estupidamente populista, a tremer de medo perante "o outro", o não-Europeu, o tipo a quem venderam uma ideia positiva de Europa como a terra dos sonhos.

Pode não o ser no plano da realidade, mas é-o no da imaginação - em particular a de Joe Knight, texano que tem deixado currículo no enorme campo que é a "pop hipnagógica" com o nome Rangers. Ora, Joe Knight nunca cresceu, tanto quanto sabemos, na Europa - o que recebe é o que encontra nas televisões, na Internet, nos relatos mais ou menos difusos que vai lendo aqui e ali. A Europa, para este outsider, é um sonho assaz narcótico com anúncios em línguas que lhe são estranhas, mas as quais corta-e-cola dentro das suas composições. É uma VHS perdida - que, valha a verdade, é bastante melhor que ser o continente de Orbán ou Salvini.

Nessa VHS, Knight encontrou ecos do krautrock e do pós-punk, um alemão falado ou balbuciado (nunca se sabe com esses gajos), entusiasmo francês e, ainda, o psicadelismo desvairado que se ouve em "Street Smell", o madchester ou a pop mais jangly, o caldeirão borbulhante de funk lo-fi que se escuta no final de "Volvo Jungle Mist" ou o motor de "Concorde Breakfast" - tanta coisa que, à primeira vista, parece inútil ou trashy mas que alimentou uma obra fabulosa. Europe On TV, compilação de quatro peças já com uma década, poderá ser a primeira porta de entrada para o universo Rangers - tal como foi a dele para o Velho Continente.