Por vezes, a periferia soa tão calma e abandonada que quase pensaríamos estar surdos. Sentem-se apenas as vibrações de uma decadência lenta, a entropia a subir do chão, visões de ruínas e ar manchado de negro. Só o embalar repetitivo e murmurante da maquinaria se assume como um elo àquilo que é real, à sensação de presença, de consciência. Nem as folhas das árvores tremem mais com o vento. Tudo aqui e nada existe. A solidão esvazia os contornos da mente.

E depois atravessamos a estrada, rumo a um não-desconhecido, rumo à mais pequena das distâncias entre o vazio e essa presença praticamente invisível: uma fábrica abandonada, paredes despedaçadas pela humidade e ennui juvenil; uma estação de tratamento de águas, o cheiro podre na rota de pássaros corajosos; caminhos empoeirados, abertos à força por entre o mato; as luzes da cidade - periférica - lá ao fundo; o céu sustentando a paisagem.

Isto é sobre o grande fantasma suburbano, mas podia ser sobre Peripherad Debris, conceito que nos Haarvöl é mais musical que conjuratório. As suas periferias são todas aquelas relativas ao som e não à geografia, à música que é feita nas margens até das margens. Mas experimente-se escutar este álbum no meio de uma grande trama alienada devido à sua distância do centro e tudo parecerá fazer (mais) sentido. É electrónica, ambient e ruidosa, mas é acima de tudo um retrato. Marcadamente real, ao contrário da calmaria.