Não é fácil traduzir uma palavra como oblivion. Literalmente, significa esquecimento; mas esta é uma palavra que não tem a mesma força. Podemos aplicá-la a tudo o que implica um simples lapso de memória. Em inglês, oblivion refere-se a uma total ausência de consciência; é ao mesmo tempo a morte do id, do ego e do super-ego; é o nada absoluto e eterno, o não-pensamento, um nó infinito numa corda infinita, balançando no vazio.

Chegar até esse mesmo vazio - uma tarefa impossível, porque estaremos sempre conscientes - parece ser a premissa da nova obra dos Haarvöl, um colectivo audiovisual que compôs The Oblivion's Wordless Knot para o trabalho com o mesmo nome, do Family Film Project, no Porto, em Novembro. Falar deste trabalho sem ter presenciado a peça em questão implicará, certamente, toda uma outra leitura; aquilo que temos é o som, e não aquilo que o som acompanhava. Pelo que escutar este álbum será uma experiência absolutamente distinta daquela que tiveram todos aqueles que a observaram em primeira mão. Não temos imagens que nos acompanhem: temos simplesmente aquilo que a música nos deixar pensar.

E é por isso que pensamos no vazio; pensamos num vasto nada que se ergue nos ombros do drone e da electrónica, sem se situar em tempo algum - porque no vazio o tempo não existe. Escutamos um ou outro ruído, imaginamos uma poeira saindo do nada e criando um universo inteiro, inconsciente da sua identidade como poeira ou da sua evolução como universo. Escutamos a tensão, partes ínfimas chocando entre si, uma espécie de lamento em "Curtain Of Bars", metal versus metal. Saímos do torpor sem saber o que nos aconteceu: entrámos no esquecimento puro, no oblivion premeditado. E questionamos se estamos realmente conscientes depois de ouvirmos o que este nó nos conta.