DISCOS
Charlotte Gainsbourg
Rest
· 11 Dez 2017 · 21:28 ·
Charlotte Gainsbourg
Rest
2017
Because Music


Sítios oficiais:
- Charlotte Gainsbourg
- Because Music
Charlotte Gainsbourg
Rest
2017
Because Music


Sítios oficiais:
- Charlotte Gainsbourg
- Because Music
A mulher que parou de temer a menina.
Da experiência musical encetada em Charlotte For Ever, em 1986, não guardará a mais genial memória. Encorajada pelo pai, cantou mesmo não se sentindo à vontade com a sua voz, esganiçada, indefinida. Mas, mais intrigante, recue-se dois anos, foi com Lemon Incest que começou aquela cumplicidade pai e filha. O tema é daqueles que, olhando para a capa do single, visionando o vídeo-clip, os olhares gulosos entre ambos, se na altura parecia estranho, ambíguo, tal impressão hoje ainda não se desfez.

Charlotte Gainsbourg, num encontro fora de horas em sua casa com o compatriota, DJ e produtor, SebastiAn, ele já meio embriagado – isto relatado em entrevista que ela concedeu a Gilles Peterson na BBC 6 há poucos Sábados –, a discussão entre ambos terá revolvido essencialmente em torno do motivo pela qual Charlotte evitara a língua-mãe em álbuns anteriores. Anos antes teve semelhante questão da parte de Connan Mockasin, amigo com quem compôs e actuou ao vivo. O desconforto dela com o passado, a pesada herança, desmarcar-se de Serge e Birkin, do pai e da mãe, para encontrar margem para firmar sua identidade terão sido os argumentos apresentados.

A francesa, ao contactar SebastiAn, procurava uma abordagem mais electrónica, mais dançável à sua música. Em retorno, o produtor desafiou-a a reconciliar-se com a sua língua, com o passado, com o legado de seus progenitores, voltar aquele lugar desconfortável da menina de voz tão tímida como sibilante. Rest, título que provavelmente aludirá ao alívio, tranquilidade, harmonia que Charlotte encontrou ao preparar e processar este novo disco, é bem demonstrativo do que se atinge quando se enfrenta de punho cerrado fantasmas interiores.

E a francesa voa, descontraída qual passarinho fora da gaiola, divaga sem temer armadilhas – assim se vê o trabalho impecável de um produtor determinado; certo que Manuel de Homem-Christo também anda por aqui, mas o substancial é SebastiAn. Tirando os refrões em inglês, Charlotte desabafa tudo em francês. Ora em murmúrios charmosos, ora frágil, lânguida e romanesca, ou simplesmente a Charlotte intimista que já conhecíamos, a sua voz, com perfume chanson, desliza irrepreensível sobre texturas electrónicas melosas e cintilantes, alegres ritmos pululantes. É amiúde pop orelhuda, é. Mas é também o momento mais rico da artista até hoje, da escrita à música. Que GRANDE disco!
Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
RELACIONADO / Charlotte Gainsbourg