Com apenas dois álbuns - Stained Glass e Filters Light, ambos de 2016 - Mimimic transformou-se num dos produtores mais interessantes da electrónica feita em Portugal actualmente. A fórmula é simples: construir melodias e batidas que evoquem uma memória distante, à semelhança do que fazem os Boards Of Canada, e pintá-las com uma lata muito própria que impede que o seu trabalho seja visto e revisto como uma mera cópia. Nada está mais longe - e basta escutá-lo para o perceber - dessa verdade.

THE RHB HEX, novo EP do músico lisboeta, parte de «uma exploração de padrões e loops acentuados pelas três cores primárias», conceito que, também ele, evoca uma memória particular: a de todos nós, na infância, quando aprendemos o cheiro e o sabor de cada cor. Neste EP, Mimimic, qual Rimbaud, inventa uma canção própria para cada cor, num registo quase sinestésico que resulta, uma vez mais, num trabalho altamente recomendável para quem queira perceber em que estado se encontra o underground tuga.

THE RGB HEX não é, no entanto, mera evocação. Há momentos em que se apresenta até agressivo, ríspido. Notamos isso na primeira faixa, onde uma melodia acid se posiciona sobre o instrumental restante, rasgando as têmporas. Ou no modo dança via Aphex Twin, imediatamente a seguir. Mas o seu conceito, e a sua expressão máxima, foi guardada para o fim - com os vapores ambient de "#0000FF" a assumirem-se como o grande tema do disco (o que tem lógica, considerando que "#0000FF" é sinónimo de "azul"). O melhor de tudo isto é termos cada vez mais vontade de descobrir para onde nos levará Mimimic a seguir.