DISCOS
10 000 Russos
Distress Distress
· 09 Mai 2017 · 15:14 ·
10 000 Russos
Distress Distress
2017
Fuzz Club Records


Sítios oficiais:
- 10 000 Russos
- Fuzz Club Records
10 000 Russos
Distress Distress
2017
Fuzz Club Records


Sítios oficiais:
- 10 000 Russos
- Fuzz Club Records
Aflição.
Esta é uma Europa aflitiva. É a Europa que prefere fechar as suas portas à liberdade em nome da protecção; a Europa que fecha os olhos perante a dor e a morte, construindo muros burocráticos ao seu redor; a Europa que, mais de setenta anos após ter vivido o maior horror da sua história, celebra as derrotas dos descendentes morais dos seus monstros em vez de contribuir activamente para a sua destruição. É a Europa que se despe para se arrepiar. E, como consequência, os medos e as tensões voltaram à ordem do dia. Porque preferimos voltar atrás em vez de caminhar para a frente, como ditariam as boas regras da evolução.

Distress Distress é, assim, um espelho do seu tempo, mas também a constatação do óbvio. Certamente não teria existido há vinte anos, ou talvez sim mas num formato inteiramente diferente - mais esperançoso, dançável, talvez. É o relato frontal e sonoro de uma Europa Kaput, como o trio portuense tão bem expressa à terceira faixa. Aflição transmitida através do groove hipnótico do baixo - que cada vez mais desempenha um papel fulcral na música dos Russos -, da rodagem motorika da bateria e do estardalhaço da guitarra eléctrica. Tudo somado em negro.

É também por aí que Distress Distress faz dos 10 000 Russos um excelente exemplo de "rock europeu"; as influências do grupo são vastas, mas parecem deambular sobretudo pelo pós-punk britânico e pela precisão alemã, deitando um breve relance apenas à América de Alan Vega, que substitui Mark E. Smith enquanto a alma na voz da banda. Neste melting pot psicadélico está, ao mesmo tempo, a tensão europeia e uma ínfima parte da sua esperança, parecendo querer dizer-nos que, antes de mais, somos todos família independentemente das nossas idiossincracias.

Um EP e um álbum depois, os 10 000 Russos já não fazem questão de marchar sozinhos; querem que ouçamos Distress Distress e tentemos dar à volta ao retrato que este pinta ou, caso nos sintamos inúteis - como em "Germinal", onde o cântico se ouve como um escarro -, querem que fiquemos assolapados nos nossos próprios medos. Seja qual for a opção que escolhamos, nada voltará a ser o mesmo. Nem os Russos serão os mesmos depois daquele que é, sem sombra de dúvida, o melhor álbum da sua ainda curta carreira.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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