DISCOS
Conjunto Corona
Cimo De Vila Velvet Cantina
· 02 Jan 2017 · 14:22 ·
Conjunto Corona
Cimo De Vila Velvet Cantina
2016
Meifumado


Sítios oficiais:
- Conjunto Corona
- Meifumado
Conjunto Corona
Cimo De Vila Velvet Cantina
2016
Meifumado


Sítios oficiais:
- Conjunto Corona
- Meifumado
Chino no olho.
Aí vai Corona, pela ala, deambulando pelo terreno a alta velocidade, esperando o passe, tocando para o lado, rematando com força na ânsia de enfiar as bolas lá para dentro. Mas não é Corona, o Jesús, o que encanta, e sim Corona, a personagem, o self-made man que foi de guna a empresário - como se houvesse alguma diferença entre ambos. Corona, homem de mil histórias à espera de serem contadas, ficção hip-hop enrolada numa mortalha e passada entre os amigos do kraut e do psicadelismo. Música porno que, mais do que providenciar uma banda-sonora para quem se vem, quer-se vir ela própria. Basta que haja putas. E droga.

Putas não faltam: Corona não é Jesus, mas também se soube rodear delas. A sua biografia chega-nos sob a forma de rimas, cuspidelas, beats psicotrópicos e o género de lata que só encontramos no Porto. Será difícil a um betinho lisboeta apreciar, em toda a sua pureza, a obra que é a terceira do Conjunto com o nome da personagem? Não, de todo - muitos marcaram, inclusive, presença no Musicbox aquando da apresentação do disco na capital. Mas a compreensão, neste caso, chega através do riso. O hip-hop, aqui, é mais paródia de si que outra coisa. No entanto, os Corona não são comediantes; entendem, isso sim e perfeitamente, o valor de uma boa gargalhada. E procuram obtê-la da forma mais profissional possível. Chame-se a Cimo De Vila Velvet Cantina uma sátira; o retrato de um mundo ficcionado que, por vezes, se assemelha de forma esplendorosa ao mundo real - e que é, também, uma declaração de amor por este.

Não vale a pena contar a história de Corona de fio a pavio ou, se preferirem, de fio a paiva. É muito mais gratificante escutá-la nós mesmos, balançados no flow irrepreensível e com sotaque, imersos nos instrumentais que, também eles, espelham este mundo javardo e janado, com samples pornográficos e o grandioso Álvaro Costa a ajudar à narrativa, qual Reinaldo Teles do hip-hop. Um hip-hop que pode não ser "verdadeiro", mas que faz mais pela evolução do género, em termos sonoros, que as constantes marteladas soul e funk tão típicas na produção nacional. Os Corona não são Jesus, mas fazem parte da salvação; da ideia que é possível construir um hip-hop melhor na tugalândia, eles que já são expoentes de uma outra nação, a do Porto. Posto isto, venham daí essas putas.
Paulo CecĂ­lio
pauloandrececilio@gmail.com
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