DISCOS
The Orb
COW: Chill Out, World
· 08 Nov 2016 · 10:13 ·
Do passado para o presente, sem constrangimentos.
The Orb entraram definitivamente na terceira idade – a da ponderação, sabedoria, nostalgia. Há a obra dos anos 90 – os três primeiros trabalhos são obras seminais, onde o projecto determinou coordenadas para o dia seguinte. Há a primeira década dos anos 00 – em que eles pegaram nas suas próprias coordenadas e as imiscuíam com as novas tendências; e daí apenas saíram experiências tão incongruentes como inconsequentes. E há a segunda metade da segunda década do milénio.
Há um ano, Moonbuilding 2703 AD não inventava nada; mas mostrava os The Orb a reequacionarem o modus operandi. Mais de dez anos a vaguearem, a reboque de tendências para se manterem em linha com a modernidade, do disco de 2015 brotava honestidade resultante de um processo de reflexão: Moonbuilding 2703 AD era simplesmente despretensioso, desprendido, descomprometido. The Orb a reencontrar-se consigo mesmo.
COW – Chill Out, World, ao contrário do disco anterior – pensado e trabalhado –, foi parido em semanas, espontaneamente. Alex Paterson e Thomas Fehlmann decidiram contrariar o processo anterior, mas não ignorar o reencontro com o velho espírito; o reencontro com a ideia primordial do projecto na viragem de 80 para 90. Por isso mesmo, este disco volta a ter o que há muito não se fazia: há ecos de Space de Jimmy Cauty, Chill Out dos KLF, e muito de A Huge Ever Growing Pulsating Brain That Rules From The Centre Of The Ultraworld, o EP debutante do projecto em 1989.
COW – Chill Out, World é basicamente ambient music dos anos 90 actualizada para o novo milénio. E resulta, mesmo que o produto final esteja a anos-luz do vigor criativo por detrás de Adventures Beyond The Ultraworld, U.F. Orb ou Orbus Terrarum. Mas nada adianta andar-se a chorar pelo passado que passou. Certo é que ninguém faz música assim, como os The Orb fazem como antes faziam.
O novo disco é o mais simples que produziram até hoje. É despreocupado, espaçoso, meditativo; ele pretende acabar com o stress que oprime o comum, desligar o físico do peso do mundo, da gravidade, ele pretende induzir relaxamento, altear espiritualidade. Ouvimos o vento, o chilrear, o grilar, o mugir por entre tratos e retalhos samplados e baralhados. Depois há mantras melódicos electrónicos que nos fazem levitar; a dado ponto, a falta de gravidade deixa-nos ir porque o groove é tão – propositadamente – residual que não permite que nos agarremos ao quer que seja.
Chill Out, World é um disco sem génio, mas é o mais perto que voltaremos a estar do brilhantismo de A Huge Ever Growing Pulsating Brain That Rules From The Centre Of The Ultraworld. Ou da genialidade de Chill Out dos The KLF. Há poderação. Há sabedoria. E da nostalgia os The Orb resgatam ideias inusuais que, afinal de contas, ainda fazem sentido nestes dias em que tudo se sabe e tudo se faz, por tudo e por nada. Alex Paterson não está a viver uma nova Era dourada, mas de certeza está a viver novamente dias muito interessantes.
Rafael SantosHá um ano, Moonbuilding 2703 AD não inventava nada; mas mostrava os The Orb a reequacionarem o modus operandi. Mais de dez anos a vaguearem, a reboque de tendências para se manterem em linha com a modernidade, do disco de 2015 brotava honestidade resultante de um processo de reflexão: Moonbuilding 2703 AD era simplesmente despretensioso, desprendido, descomprometido. The Orb a reencontrar-se consigo mesmo.
COW – Chill Out, World, ao contrário do disco anterior – pensado e trabalhado –, foi parido em semanas, espontaneamente. Alex Paterson e Thomas Fehlmann decidiram contrariar o processo anterior, mas não ignorar o reencontro com o velho espírito; o reencontro com a ideia primordial do projecto na viragem de 80 para 90. Por isso mesmo, este disco volta a ter o que há muito não se fazia: há ecos de Space de Jimmy Cauty, Chill Out dos KLF, e muito de A Huge Ever Growing Pulsating Brain That Rules From The Centre Of The Ultraworld, o EP debutante do projecto em 1989.
COW – Chill Out, World é basicamente ambient music dos anos 90 actualizada para o novo milénio. E resulta, mesmo que o produto final esteja a anos-luz do vigor criativo por detrás de Adventures Beyond The Ultraworld, U.F. Orb ou Orbus Terrarum. Mas nada adianta andar-se a chorar pelo passado que passou. Certo é que ninguém faz música assim, como os The Orb fazem como antes faziam.
O novo disco é o mais simples que produziram até hoje. É despreocupado, espaçoso, meditativo; ele pretende acabar com o stress que oprime o comum, desligar o físico do peso do mundo, da gravidade, ele pretende induzir relaxamento, altear espiritualidade. Ouvimos o vento, o chilrear, o grilar, o mugir por entre tratos e retalhos samplados e baralhados. Depois há mantras melódicos electrónicos que nos fazem levitar; a dado ponto, a falta de gravidade deixa-nos ir porque o groove é tão – propositadamente – residual que não permite que nos agarremos ao quer que seja.
Chill Out, World é um disco sem génio, mas é o mais perto que voltaremos a estar do brilhantismo de A Huge Ever Growing Pulsating Brain That Rules From The Centre Of The Ultraworld. Ou da genialidade de Chill Out dos The KLF. Há poderação. Há sabedoria. E da nostalgia os The Orb resgatam ideias inusuais que, afinal de contas, ainda fazem sentido nestes dias em que tudo se sabe e tudo se faz, por tudo e por nada. Alex Paterson não está a viver uma nova Era dourada, mas de certeza está a viver novamente dias muito interessantes.
r_b_santos_world@hotmail.com
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