DISCOS
Hype Williams
10/10
· 02 Nov 2016 · 14:52 ·
Hype Williams
10/10
2016
Ed. de Autor
Hype Williams
10/10
2016
Ed. de Autor
1/10.
Os Hype Williams acabaram, mas afinal não acabaram. Confusos? Pois, nós também o ficámos quando este ano, sem que nada o fizesse prever, um álbum assinado pelo grupo nos veio cair nos braços e nos ouvidos juntamente com a seguinte mensagem: Dean Blunt e Inga Copeland, os anti-rostos mais visíveis do projecto, já não faziam parte do mesmo. E este prosseguiria, com outros anti-rostos. É verdade que ao longo da sua existência, os Hype Williams, fossem eles quem fossem, cultivaram sempre uma aura de mistério e de falta de identidade; nem Blunt nem Copeland foram alguma vez apontados como os únicos mentores da coisa.

Agora não são nem os únicos nem sequer existem dentro de 10/10, o tal novo álbum. Ou talvez existam; é possível, e temos consciência de que seriam meninos para isso, que o disco tenha sido feito por ambos e que todas as mensagens que circulem sejam falsas, de forma a que nada nem ninguém os ligue ao projecto. A banda que sempre cultivou o anonimato a levá-lo ao extremo, a permitir até o desaparecimento do fantasma que marcava as jams de baixa fidelidade com as quais se deram a conhecer ao mundo.

Mas se não há fantasmas nem mito, resta a música. E haverá certamente quem argumente que deveria ter sido assim desde o início, que os Hype Williams deveriam ter sido julgados pela sua produção sonora e não pelos fait-divers que a rodeava. O problema é que sem esse lado humano (porque as mentiras e as histórias são, naturalmente, uma invenção humana) a música soará estranhamente, ou arrepiantemente, mecânica. Já não há rede por baixo ou um fiozinho de luz por entre as trevas, apenas um muro gigante de som.

Ainda que 10/10 seja composto por alguns momentos agradáveis, via sintetizadores, beats mais ou menos trap e até alguma influência da vaporwave (vide "Failure" ou "Revelations"), o resultado final é um disco amorfo, desprovido de qualquer sentido ou interesse, que aposta mais em manter um certo status quo - continuar o trilho de uma banda de culto - do que em criar algo que, não sendo verdadeiramente revolucionário, possa ao menos abrir boas portas para o futuro do projecto. Há mais emoção no ruído de um modem antigo a procurar ligar-se à World Wide Web que nos 39 minutos de 10/10. E isso é lastimável.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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