O fascínio do ucraniano Mikhaylo Vityuk pela ficção-científica é mais que evidente. O disco A Voyage To Arcturus, editado no ano passado, revelava essa flagrante admiração por ser uma espécie de banda-sonora para uma obscura obra literária futurista escrita por David Lindsay: Vakula elaborou/traçou uma psiconavegação que resultou em momentos musicais de singular onirismo cosmológico – cada tema a reflectir o espírito de cada capítulo do livro.

Um ano volvido – e uma rebuscada homenagem há meses a Jim Morrison, ao seu tempo e grupo –, Vakula, obviamente prolífico, regressa com Cyclicality Between Procyon and Gomeisa com uma admirável proficiência e consistência: jamais o poderemos julgar aborrecido consigo mesmo tal a forma como se desafia a criar em tão distintas paisagens sonoras, mantendo o carácter autoral intacto.

Tal como em A Voyage To Arcturus, é de psiconavegação que Cyclicality Between Procyon and Gomeisa se trata: estamos ciclicamente entre um lugar futuro e outro futurista; em abstracto, como num sonho – neste caso, e uma vez mais sendo uma obra conceptual onde o kosmische/elektronische intimida a house, o funk, o dub-techno, o blues ou o disco-sound, um sonho com rota traçada, com sentido e estrutura, sem que tal implique pragmatismo estrangulador. Mais uma extravagância bem equacionada, portanto!