DISCOS
Chance The Rapper
Coloring Book
· 07 Jul 2016 · 15:08 ·
Chance The Rapper
Coloring Book
2016
Apple Music


Sítios oficiais:
- Chance The Rapper
Chance The Rapper
Coloring Book
2016
Apple Music


Sítios oficiais:
- Chance The Rapper
Nada se perde, tudo se pinta.
Chancelor “Chance The Rapper” Bennett não parece estar disposto a facilitar a vida a quem o queira enquadrar musicalmente. Ao mesmo tempo que lança a sua colecção de canções mais devotamente espiritual de sempre, e dedica vários versos a sua família, tem, entre os seus convidados, uma série de conhecidos hedonistas, como 2 Chainz, Lil’ Wayne, Future, Young Thug, ou Ty Dolla Sign. Enquanto se define a si próprio como “The Rapper”, não se coíbe de cantar em diversas ocasiões, nas quais viaja junto ao mundo da neo-soul. Até pela esparsa instrumentação usada nesses momentos. E enquanto vem da mesma Chicago que trouxe ao mundo do hiphop gente tão diversa como Common, Twista, Chief Keef, Lil’ Durk, Lupe Fiasco, ou, mais notoriamente, Kanye West (o qual, segundo o próprio Chance, estará orgulhoso deste), encontrou uma estrada completamente sua. E tem-na ocupado com grande sucesso, com aparições em televisão de horário nobre, e altos números de downloads e streaming. E isto sem um álbum físico, pois ”Coloring Book” é “apenas” a sequela do magnífico ”Acid Rap”, de 2013.

O que faz, então, de Chance um caso musical tão sério? Para começar, por mais convidados que tenha, é ele e a sua forma de estar e de rimar que dominam ”Coloring Book”. A sua rima descontraída e cativante, mesmo que fale de coisas para ele tão sérias como a sua filha, ou a sua relação com Deus, é como um passeio de patins por um parque verdejante no Verão. Possui um ritmo natural na sua entoação, que dança no meio de arranjos predominantemente orgânicos e riquíssimos. Depois, a sua habilidade em fazer músicas recheadas de otovermes, a apelar à congregação e união dos fãs, e ouvintes em geral. Acaba por ser mesmo paradoxal, na forma como conjuga um certo impressionismo com uma série de explosões cromáticas, quer na forma, quer no conteúdo. E ainda, para usar só mais exemplo (questões de espaço), como nos convence a escutar e a apreciar um disco tão pessoal, em que as preocupações passam, por exemplo, por não ter tempo de fumar erva por causa de ter que cuidar da filha.

”Coloring Book” é um disco de uma vida mudada. De alguém que tem conquistado o mundo melómano nos seus próprios termos e condições. E é mais uma prova de que o hiphop continua a expandir-se, sem ainda serem conhecidos os seus limites. É um disco (termo que utilizo mais por força do hábito) vital, e cheio de vitalidade. Podia ser o álbum mais foleiro de sempre. Em vez disso, faz-nos querer dançar, estalar os dedos, bater palmas, e rimar/cantar em coro. Há, claro, muitas formas válidas de pensar na vida, e no mundo, real ou espiritual. Chance conquistou o carimbo de validade para a sua à custa de um trabalho cuidado, apaixonado, e confiante. Que a sua ascensão prossiga, para o bem de todos.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
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