DISCOS
Underworld
Barbara Barbara, We Face a Shining Shining Future
· 22 Abr 2016 · 11:57 ·
Underworld
Barbara Barbara, We Face a Shining Shining Future
2016
Universal Music Group
Sítios oficiais:
- Underworld
- Universal Music Group
Barbara Barbara, We Face a Shining Shining Future
2016
Universal Music Group
Sítios oficiais:
- Underworld
- Universal Music Group
Underworld
Barbara Barbara, We Face a Shining Shining Future
2016
Universal Music Group
Sítios oficiais:
- Underworld
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Barbara Barbara, We Face a Shining Shining Future
2016
Universal Music Group
Sítios oficiais:
- Underworld
- Universal Music Group
É assim que tudo volta a fazer sentido: simplesmente.
O amadurecer do espírito propicia determinadas revelações. Que o digam Aphex Twin, ou os The Orb, ou os Chemical Brothers, e agora os Underworld. O que os quatro projectos têm em comum nos nossos dias é o entendimento do tempo: como naturalmente perceberam que o que lhes faltava era o velho espírito – e ele, de alguma maneira, ressurgiu, iluminado. O coração voltou a bater na hora de escrever, de compor, de programar as máquinas. É claro exagero dizer que houve intervenção divina. Mas houve algures uma epifania – porque simplesmente há coisas que voltaram a fazer sentido.
Foquemo-nos por momentos na posterioridade do genial Dubnobasswhitmyheadman (fase MK2 – 1994). Tenhamos presente “Born Slippy/NUXX” – uma malha techno-épica, mas não tão magistral quanto “Rez” –, e os efeitos nocivos que o tema teve no percurso criativo dos Underworld: sendo o insípido Second Toughest In The Infants aquele perfeito exemplo do que acontece quando se pretere da verve a favor do músculo; ou como o nervo bruto do techno se sobrepõe à sensibilidade pop. Beaucoup Fish foi, em 1998, em busca do saudável equilíbrio – desequilibrando-se no final do alinhamento por se decidir desferir murros no estômago do melómano sem razões para tal; ou como a brutidade atropelou a poesia só porque sim (uma vez mais a perniciosidade de “Born Slippy/NUXX”!). Em 2002, A Hundred Days Off revelou-se um monstrengo anacrónico; e como tudo aquilo retumbou datado quando se ambicionava novidade. Oblivion With Bells foi, em 2007, uma honesta tentativa de reconciliação com a excêntrica gramática pop e a exímia semântica rock que os Underworld tão bem souberam casar em Dubnobasswhitmyheadman; não foi um exercício brilhante, mas o disco mostrava vontade. Quando em 2010 editaram o desastroso Barking, uma única pergunta veio à mente: o que raio se passou com estes gajos? Hélas!
Repetimos: o amadurecer do espírito propicia determinadas revelações. Seis anos para tal, neste caso específico. Barbara Barbara, We Face a Shining Future é o novo capítulo – e ele (definitivamente) nada deve a "Born Slippy/NUXX", ou inconsequentes derivados. Será relevante neste momento lembrar a incursão a solo de Karl Hyde em 2013 com Edgeland? Ou que os seus passeios ao lado de Brian Eno em 2014 foram mais que mero turismo rural? Barbara Barbara, We Face a Shining Future é um manifesto de redenção, ou uma genuína aspiração a novo estádio depois de vista a figura da morte – a light, a globe over the horizon. E é tão fácil perceber porque os Underworld voltam a fazer elementar sentido nestes dias: não querendo inventar nada, basta-lhes estar – nada mais ambicionar senão fazer música para satisfação pessoal. Serem eles próprios; sem os fantasmas do passado a distorcerem-lhes a silhueta. “This record feels like it wiped the slate clean for a while and if you had no history what record would you make” – palavras de Hyde à Billbord.
Barbara Barbara, We Face a Shining Future é um romântico encontro dos Underworld com o tempo segundo as suas íntimas vontades: é techno desmusculado, pop-rock inspirada e desesperada, delicados corais electrónicos, é poesia, luz, cor, calor, humanismo. É o mais coerente disco desde Beaucoup Fish (especialmente com a primeira metade daquele alinhamento); sente-se a música; sente-se a batida do coração; sem esforço, atenta-se o eloquente equilíbrio entre o desejo de renovação física – e nada soa a recauchutagem no processo – e a urgência de voltar a escrever canções (sentidas/ enviesadas: ironia - amor - o mundo - delírio - meditação; uma escrita própria, entre a festividade e a melancolia, que colocou precisamente os Underworld em 1994 no centro mapa pop). Pelos vistos, ser minimamente relevante no presente tinha um método bem mais simples do que eles julgavam.
Rafael SantosFoquemo-nos por momentos na posterioridade do genial Dubnobasswhitmyheadman (fase MK2 – 1994). Tenhamos presente “Born Slippy/NUXX” – uma malha techno-épica, mas não tão magistral quanto “Rez” –, e os efeitos nocivos que o tema teve no percurso criativo dos Underworld: sendo o insípido Second Toughest In The Infants aquele perfeito exemplo do que acontece quando se pretere da verve a favor do músculo; ou como o nervo bruto do techno se sobrepõe à sensibilidade pop. Beaucoup Fish foi, em 1998, em busca do saudável equilíbrio – desequilibrando-se no final do alinhamento por se decidir desferir murros no estômago do melómano sem razões para tal; ou como a brutidade atropelou a poesia só porque sim (uma vez mais a perniciosidade de “Born Slippy/NUXX”!). Em 2002, A Hundred Days Off revelou-se um monstrengo anacrónico; e como tudo aquilo retumbou datado quando se ambicionava novidade. Oblivion With Bells foi, em 2007, uma honesta tentativa de reconciliação com a excêntrica gramática pop e a exímia semântica rock que os Underworld tão bem souberam casar em Dubnobasswhitmyheadman; não foi um exercício brilhante, mas o disco mostrava vontade. Quando em 2010 editaram o desastroso Barking, uma única pergunta veio à mente: o que raio se passou com estes gajos? Hélas!
Repetimos: o amadurecer do espírito propicia determinadas revelações. Seis anos para tal, neste caso específico. Barbara Barbara, We Face a Shining Future é o novo capítulo – e ele (definitivamente) nada deve a "Born Slippy/NUXX", ou inconsequentes derivados. Será relevante neste momento lembrar a incursão a solo de Karl Hyde em 2013 com Edgeland? Ou que os seus passeios ao lado de Brian Eno em 2014 foram mais que mero turismo rural? Barbara Barbara, We Face a Shining Future é um manifesto de redenção, ou uma genuína aspiração a novo estádio depois de vista a figura da morte – a light, a globe over the horizon. E é tão fácil perceber porque os Underworld voltam a fazer elementar sentido nestes dias: não querendo inventar nada, basta-lhes estar – nada mais ambicionar senão fazer música para satisfação pessoal. Serem eles próprios; sem os fantasmas do passado a distorcerem-lhes a silhueta. “This record feels like it wiped the slate clean for a while and if you had no history what record would you make” – palavras de Hyde à Billbord.
Barbara Barbara, We Face a Shining Future é um romântico encontro dos Underworld com o tempo segundo as suas íntimas vontades: é techno desmusculado, pop-rock inspirada e desesperada, delicados corais electrónicos, é poesia, luz, cor, calor, humanismo. É o mais coerente disco desde Beaucoup Fish (especialmente com a primeira metade daquele alinhamento); sente-se a música; sente-se a batida do coração; sem esforço, atenta-se o eloquente equilíbrio entre o desejo de renovação física – e nada soa a recauchutagem no processo – e a urgência de voltar a escrever canções (sentidas/ enviesadas: ironia - amor - o mundo - delírio - meditação; uma escrita própria, entre a festividade e a melancolia, que colocou precisamente os Underworld em 1994 no centro mapa pop). Pelos vistos, ser minimamente relevante no presente tinha um método bem mais simples do que eles julgavam.
r_b_santos_world@hotmail.com
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