DISCOS
Kevin Morby
Singing Saw
· 13 Abr 2016 · 11:03 ·
Kevin Morby
Singing Saw
2016
Dead Oceans


Sítios oficiais:
- Kevin Morby
- Dead Oceans
Kevin Morby
Singing Saw
2016
Dead Oceans


Sítios oficiais:
- Kevin Morby
- Dead Oceans
Assim Cantava Kevin Morby.
“Quero ir para o monte que no monte é qu’eu estou bem…”, assim cantava o enorme Zeca Afonso na beirã “Moda do Entrudo”. Kevin Morby, tanto quanto se sabe, não é cantor de revoluções, pelo menos das externas, porque este Singing Saw, terceiro álbum de originais a sair brevemente, é um mergulho nas profundezas do artista do Missouri entretanto transferido para a Califórnia.

Em Assim Falava Zaratustra, Zaratustra, pela pena de Nietzsche, enceta um caminho que o leva ao topo da montanha. Caminho feito de largas e profundas reflexões sobre as convicções do “eu” e do mundo onde se insere, mundo repleto de baixezas de espírito e futilidades várias que culminam com um profeta que o não quer ser no topo da montanha.Lugar onde o vento é corta a golpes de sabre e o oxigénio manifesta-se em não se manifestar mas, também puro e silencioso enquanto se agurada a Aurora da Humanidade...uma Humanidade sapiente. Kevin Morby parece ter lido e percebido a mensagem, porque este Singing Saw parece isso mesmo, um caminho decidido em direcção ao topo da montanha através do seu interior. O resultado: a Aurora de Morby.

Feito de guitarra e voz, com pertinente enfoque sobre as letras, simples como a sua orquestração, este álbum (“singing saw” é um instrumento que produz sons etéreos) nasce no silêncio de um piano que Morby não sabia tocar, de umas partituras deixadas ao abandono e de caminhadas pelas colinas californianas que lhe rodeavam a casa. Desse ponto observou, tal como o Zaratustra original, o contraste entre a força segura da Natureza e a força fraca das conveniências humanas e dele fez registo discográfico.

A força bruta, mas silenciosa é bom de frisar, que o sustém, faz-se ver e sentir em músicas como a absolutamente tremenda “I Have Been To The Mountain”, legenda do que seria o momento em que Zaratustra desceu da montanha, ou a muito portuguesa “Dorothy” e o seu ritual de origem.

Vamos por partes. “I have been to the valley; And I have sung all her songs;Watch me see; Watch me sing along; And I say: I have been to the mountain; And I have walked on his shore; I have seen; But I can't see him no more” e temos o refrão de “I Have been to the Mountain”, single de apresentação de e segunda música do alinhamento de 9 de que é feito Singing Saw. Música-bandeira do álbum, tão profunda é a sua marca no disco, “I Have Been to the Mountain”, segue segura com a certeza que ninguém a sustém, só Morby, pois dela é pai, num percurso denso e profundo a que ninguém fica indiferente. Apenas mais uma nota para o vídeo desta música. Absolutamente sublime. Viramos o disco e temos que tocar quase o mesmo. “Dorothy”, a portuguesa, quase a podíamos chamar assim, nasceu no Porto fruto de um olhar cuidado deitado por Morby da mesa de um bar aos pescadores que, entretanto, se faziam ao mar. E como é belo o ritual e como é bela a “Dorothy”. Aqui, à guitarra e voz de Morby, juntam-se o baixo, bateria e teclas adicionadas por Sam Cohen, produtor e líder das bandas Yellow Bird e Apollo Sunshine.

Tom, profundidade e uma estranha leveza que, para além das duas músicas referidas se transporta a todo o álbum. Se quisermos particularizar, podemos sentir isso em “Cut Me Down” em que temos um Kevin em lágrimas até à simples mas eficaz “Ferris Wheel”, não descurando “Water”, lento e melancólico passeio em jeito de despedida num fogo que tudo purifica…Assim Cantava Kevin Morby.tranha leveza que, para além das duas músicas referidas se transporta a todo o álbum. Se quisermos particularizar, podemos sentir isso em “Cut Me Down” em que temos um Kevin em lágrimas até à simples mas eficaz “Ferris Wheel”, não descurando “Water”, lento e melancólico passeio em jeito de despedida num fogo que tudo purifica…Assim Cantava Kevin Morby.
Fernando Gonçalves
f.guimaraesgoncalves@gmail.com
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