DISCOS
Animal Collective
Painting With
· 22 Fev 2016 · 16:38 ·
Animal Collective
Painting With
2016
Domino Records


Sítios oficiais:
- Animal Collective
- Domino Records
Animal Collective
Painting With
2016
Domino Records


Sítios oficiais:
- Animal Collective
- Domino Records
Um Noddy em ácidos formato álbum.
Se és o Noddy, estás completamente em ácidos, e pretendes captar a atenção de uma criança de três anos, então, este álbum é para ti. Quanto aos restantes, preparem-se, a coisa é estranha, a coisa é mesmo estranha, mesmo para os experimentais Animal Collective.

Painting With, só se for com uma criança de três anos com pouco jeito para a pintura porque, exceptuando pouco mais de dois pares de músicas, o décimo LP da banda norte-americana, lançado na última sexta-feira, peca pelo excesso: excesso de loops, excesso de reverbs, excesso de distorção, excesso de efeitos “bolinhas de sabão” e excesso… Sem tudo isto que referi, algumas músicas seriam muito boas, em particular a “Spilling Guts (nona do alinhamento) que em um minuto e cinquenta e oito segundos chega a enternecer, a “On Delay” (oitava) ou a “The Burglars” (quinta).

Mas puxemos a K7 atrás. Meia hora após a absorção do ácido, os efeitos começam a fazer-se sentir, e de que maneira. A coisa começa com “FloriDada”, primeiro single retirado do longa- duração. Uma música que é uma tripalhice pegada, isto é, uma bad trip para quem não está “em ácidos” que felizmente não dura horas mas que atazana o juízo a qualquer um, a não ser que, como escrevi, sejas o Noddy a fazer rir uma criança de três anos e estejas a curtir a moca de um forte LSD. Caso contrário, esquece.

Com “Hocus Pocus”, segunda da lista, não melhora. O abuso das distorções faz-se sentir de uma forma tremendamente má durante mais de metade da música, apesar de, em abono da minha subjectiva verdade, a coisa melhorar na parte final da canção. Depois surge “Vertical”. O primeiro oásis no meio de um deserto de musicalidade. Aqui, os Animal Collective parecem querer fugir do Noddy alucinado que corria desenfreadamente nas duas primeiras músicas do álbum. Primeira canção audível, mas não excelente.

“Lying In The Grass” é a senhora que se segue e a tripalhice continua…a distorção nas vozes é qualquer coisa…de fraca… tal como “Bagels in Kiev” (sétima), ”Summing The Wrecht” (décima), “Golden Gal” (décima primeira e segundo single) e “Recycling”, última do alinhamento e cujo final nos dá uma sensação de alívio semelhante ao desligar de um martelo pneumático, embora, sem a carga de distorções que a tornam quase inaudível, a canção até teria algum potencial. A parte boa ou menos má como preferirem.

“The Burglars” como já referi tem bons apontamentos, é audível, está bem construída e tem ritmo, um bom ritmo. Aparte a sempre presente distorção, a música segue agradável, fazendo-nos regressar aos bons dias dos Animal Collective. De seguida temos “Natural Selection” que, na sua estranheza, nos leva para uma qualquer discoteca em Praga onde o progressivo é rei. Daqui passamos para “On Delay”, também já aflorado acima, que começa com uma aparente viagem à sonoridade dos Death Cab For A Cutie e acaba ao estilo dos melhores MGMT. Pelo meio, o ritmo forte a juntar-se a um psicadelismo bem temperado, fazem desta “On Delay” uma das melhores composições de todo o álbum.

Em suma, passamos o disco a olhar para o relógio à espera que tempo passe, o que é dizer muito de Painting With, um álbum que fica muito aquém daquilo que os Animal Collective já fizeram. Pronto Noddy, já passou, foi só uma bad trip
Fernando Gonçalves
f.guimaraesgoncalves@gmail.com
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