DISCOS
Tindersticks
The Waiting Room
· 19 Jan 2016 · 10:45 ·
Tindersticks
The Waiting Room
2016
City Slang / Popstock
Sítios oficiais:
- Tindersticks
- City Slang
The Waiting Room
2016
City Slang / Popstock
Sítios oficiais:
- Tindersticks
- City Slang
Tindersticks
The Waiting Room
2016
City Slang / Popstock
Sítios oficiais:
- Tindersticks
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The Waiting Room
2016
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Sítios oficiais:
- Tindersticks
- City Slang
Um disco na medida certa.
Não é Stuart A. Staples quem quer. E por vezes é preciso enfiar uma cabeça de burro e esperar sentado, com um braço apoiado numa mesa com padrão florido. Não é certo que seja ele quem aparece sentado na capa do disco. (Curiosamente, em 2001, já Can Our Love... dava à estampa a cabeça de um equídeo.) Staples também não é o paciente inglês do filme de Anthony Minghella mas não restam dúvidas de que é um inglês paciente. A referência cinematográfica é menos tonta do que parece: para cada música de The Waiting Room há uma curta-metragem realizada por um cineasta independente, com Staples a ajudar em quatro delas.
Com um quarto de século de vida, os Tindersticks foram mantendo uma produção regular, guardando quase sempre dois a três anos entre edições. A espera mais longa chegou aos cinco anos mas foi uma vez sem exemplo. Até nisso há uma certa dose de paciência sem que a espera se torne impaciente. É preciso passar algum tempo com aquela voz de barítono, voltar a ela algumas vezes, nunca em doses cavalares e aguardar pelo álbum seguinte. A verdade é que a voz de Staples pode cansar. A boa notícia é que isso está longe de acontecer neste disco feito sala de espera, esse microcosmos onde nem sempre são boas as notícias que chegam.
Há dois factores que retardam o efeito de saturação daquele tom aveludado grave: por um lado, os três instrumentais que polvilham The Waiting Room, por outro, as duas vozes femininas que cantam com Staples em dois momentos do disco. O primeiro instrumental coincide justamente com o arranque, “Follow Me”, uma versão do tema do filme Revolta na Bounty (1962) com Marlon Brando. O outro, “Fear of Emptiness”, serve de respiração quase baladeira e parece partir o disco em duas partes. E, já perto do fim, “Planting Holes” fornece um momento contemplativo com piano e o som de chuva a cair em panelas de paella (palavras de Staples).
Quanto às vozes femininas, a primeira irrompe em “Hey Lucinda” e pertence a Lhasa de Sela. O homem de Nottingham, que agora vive no campo, em França, teve de ganhar coragem para finalizar a música, gravada pouco tempo antes de Lhasa morrer de cancro no primeiro dia de 2010. O resultado é uma das canções mais conseguidas do disco, com a figura masculina a convidar Lucinda a beber uns copos e a mulher a querer ficar em casa, num diálogo com um fundo de xilofones. A outra voz a dialogar com Staples é a de Jehnny Beth, das Savages, no despique progressivamente mais tenso de “We Are Dreamers!”.
The Waiting Room é um disco muito bem doseado, com Stuart A. Staples na medida certa e a atmosfera lounge ou de cabaret fino de sempre. Mas sobretudo é um disco onde a grandiloquência orquestral é enfim substituída por uns arranjos impecavelmente enxutos nos sopros, assinados pelo compositor britânico Julian Siegel. O álbum reincide nos temas da intimidade, da raiva contida, às vezes na forma de canção narrada (“How He Entered”), outras em composições frágeis, despidas, sempre na iminência de quebrarem (como na música que dá nome ao álbum). Não estaremos perante um clássico instantâneo, como o foram Curtains ou Simple Pleasure (este porventura numa análise puramente egoísta) mas são seguramente os melhores Tindersticks desde The Hungry Saw (2008). E isso não é dizer pouco.
Hélder GomesCom um quarto de século de vida, os Tindersticks foram mantendo uma produção regular, guardando quase sempre dois a três anos entre edições. A espera mais longa chegou aos cinco anos mas foi uma vez sem exemplo. Até nisso há uma certa dose de paciência sem que a espera se torne impaciente. É preciso passar algum tempo com aquela voz de barítono, voltar a ela algumas vezes, nunca em doses cavalares e aguardar pelo álbum seguinte. A verdade é que a voz de Staples pode cansar. A boa notícia é que isso está longe de acontecer neste disco feito sala de espera, esse microcosmos onde nem sempre são boas as notícias que chegam.
Há dois factores que retardam o efeito de saturação daquele tom aveludado grave: por um lado, os três instrumentais que polvilham The Waiting Room, por outro, as duas vozes femininas que cantam com Staples em dois momentos do disco. O primeiro instrumental coincide justamente com o arranque, “Follow Me”, uma versão do tema do filme Revolta na Bounty (1962) com Marlon Brando. O outro, “Fear of Emptiness”, serve de respiração quase baladeira e parece partir o disco em duas partes. E, já perto do fim, “Planting Holes” fornece um momento contemplativo com piano e o som de chuva a cair em panelas de paella (palavras de Staples).
Quanto às vozes femininas, a primeira irrompe em “Hey Lucinda” e pertence a Lhasa de Sela. O homem de Nottingham, que agora vive no campo, em França, teve de ganhar coragem para finalizar a música, gravada pouco tempo antes de Lhasa morrer de cancro no primeiro dia de 2010. O resultado é uma das canções mais conseguidas do disco, com a figura masculina a convidar Lucinda a beber uns copos e a mulher a querer ficar em casa, num diálogo com um fundo de xilofones. A outra voz a dialogar com Staples é a de Jehnny Beth, das Savages, no despique progressivamente mais tenso de “We Are Dreamers!”.
The Waiting Room é um disco muito bem doseado, com Stuart A. Staples na medida certa e a atmosfera lounge ou de cabaret fino de sempre. Mas sobretudo é um disco onde a grandiloquência orquestral é enfim substituída por uns arranjos impecavelmente enxutos nos sopros, assinados pelo compositor britânico Julian Siegel. O álbum reincide nos temas da intimidade, da raiva contida, às vezes na forma de canção narrada (“How He Entered”), outras em composições frágeis, despidas, sempre na iminência de quebrarem (como na música que dá nome ao álbum). Não estaremos perante um clássico instantâneo, como o foram Curtains ou Simple Pleasure (este porventura numa análise puramente egoísta) mas são seguramente os melhores Tindersticks desde The Hungry Saw (2008). E isso não é dizer pouco.
hefgomes@gmail.com
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