DISCOS
Xela
Tangled Wool
· 08 Abr 2004 · 08:00 ·
Xela
Tangled Wool
2004
City Centre Offices


Sítios oficiais:
- City Centre Offices
Xela
Tangled Wool
2004
City Centre Offices


Sítios oficiais:
- City Centre Offices
Em 2003, For Frosty Mornings And Summer Nights marcava o início da aventura Xela, o projecto de John Twells. O disco, editado pela Neo Ouija, explorava os territórios de bandas como os Boards of Canada, os Bola ou os Gescom. Um ano depois, editado pela City Centre Offices, casa de IDM que "protege" artistas como Ulrich Schnauss, Arovane, Dictaphone ou os Yasume, projecto paralelo de John Twells em dupla com Gabriel Morley (Logreybeam), surge nos escaparates Tangled Wool, um disco onde a fragilidade e a suavidade tomam o lugar das melodias ásperas e rudes do seu antecessor.

Agora as referências estilísticas são outras. Pondo quase sempre de parte os ambientes mais sombrios, Tangled Wool é por excelência um disco de folktronica, que não é mais nem menos do que a justaposição de elementos acústicos com um "corpo" electrónico. A manta electrónica, aqui, é súbtil, elegante e graciosa; são finas camadas ambientais que facilmente provocarão um sentimento pueril de complacência, de comprazimento, como se estivesse aqui retratada uma manhã de Verão há quinze anos atrás. Logo na na primeira canção, “Softness of Senses”, a electrónica aparece em pézinhos de lã, com cuidado para não estragar nada nem acordar ninguém, e misturada com a guitarra acústica que soa aprimorada, vagarosa, criam um espaço de fantasia, sonho, quase utopia. O mesmo acontece em canções como “Smiles and Bridges”, “Through Crimson Clouds” ou mesmo “Quiet Night” que, um pouco à imagem da música do seu (agora) colega de editora, Ulrich Schnauss, deixam entrar um pouco de luz, embora tímida, onde se julgava ser um local dominado pelo esmorecimento.

“Drawing Pictures of Girls”, o único tema do disco que teve direito a voz, traz-nos à imaginação as extensões canoras de uns Metamatics ou DNTEL. Repetem-se as palavras “I see you” quase até ao momento em que se forma realmente a ideia de perfeição que se tenta propagar. Aqui, o limite é o infinito, o incorpóreo. A intenção é atingir um estado pleno e todas as formas são legítimas. Até aqui, todas as canções parecem tentar construir o espaço, o mundo à parte que se encontra em "So No Goodbyes". Um mundo quimérico, perfeito, que tem tanto de ilusório como de efémero. Encerra-se a viagem pelas nuvens com o regresso às sonoridades de For Frosty Mornings And Summer Nights; “Her Eyes Sparkled And She Walked Away” é uma canção arrastada, onde perpassa o frio, a comiseração . É uma cavidade gélida, um "poema" em honra do que é sonegado, invisível. Aqui já não há a guitarra acústica, as melodias esperançosas. Há apenas o vazio ou a noção de falso preenchimento.

Subsiste no fim uma sensação de purificação, uma contínua sensibilidade impoluta. Aquela sensação de arrastamento, quietação e serenidade está presente do início ao fim do disco. Já não adianta fechar os olhos; os dias continuam longos e agora vão parecer ainda mais.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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