DISCOS
Melvins
Houdini
· 05 Abr 2004 · 08:00 ·
Melvins
Houdini
1993
Atlantic
Sítios oficiais:
- Melvins
- Atlantic
Houdini
1993
Atlantic
Sítios oficiais:
- Melvins
- Atlantic
Melvins
Houdini
1993
Atlantic
Sítios oficiais:
- Melvins
- Atlantic
Houdini
1993
Atlantic
Sítios oficiais:
- Melvins
- Atlantic
Pasmam os miúdos perante o circo que chega à cidade. “Venham ver, senhoras e senhores! O Faquir mais ousado do Mundo, a Mulher de Barba Rija e o Cachorrinho de Duas Cabeças!” Cachorrinho de Duas Cabeças?! Bem-vindos ao universo dos Melvins e a este Houdini. Para quem ainda não os conhece, estamos perante uma das mais firmes e resistentes instituições do underground norte-americano. Apadrinhados por Kurt Cobain (de quem são conterrâneos), viram-se catapultados para um mainstream, que rapidamente os expeliu devido ao fraco rendimento de vendas, e sem nunca ter tido em conta a criatividade e empenho demonstrado. Houdini é o primeiro de três registos gravados para a Atlantic (subsidiária da gigantesca Warner) e o mais apelativo portal de entrada para aqueles dispostos a serem devorados pela obscuridade dos Melvins. Por aqui também se pode escutar maná para os saudosos de Kurt Cobain (produtor de seis faixas e guitarrista de uma delas) e aficionados (ou revivalistas) de stoner rock dos anos 70. Razões mais que suficientes para dar uma oportunidade a esta represália que a indústria não esperava.
Como que por magia, Houdini evade-se de convenções para, num manobrar ora vagaroso ora veloz, proporcionar aos seus ouvintes um grandioso espectáculo de riffs infalíveis e fuzz arrastado que, quando combinados com a voz macabra de Buzz Osbourne, resultam numa fórmula que seduz da mesma forma que a escuridão de uma cave. Provavelmente já se recordaram do slogan pessoano: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se.” Tal máxima assenta aqui que nem uma luva. Houdini empurra-nos para o charco de lama, onde, pouco tempo depois, já chafurdamos alegremente. A agressividade “sem espinhas” de “Hooch” cumpre como ritual iniciático, e a expressão de horror adensa-se com a paranóia sustentada pela hipnótica linha de baixo de “Night Goat”. “Lizzy” é o acumular de tensão a ser expelida num primitivo riff. Os mais atentos rapidamente darão conta do conteúdo bizarro das letras e um leve sotaque que parece só existir nos discos dos Melvins (exige-se um dicionário Melviniano – Inglês, portanto). “Going Blind” é uma versão dos Kiss e potencial alvo para quem optar por denegrir os Melvins como banda de metal para motoqueiros. Não o façam antes de escutarem “Honey Bucket”, o contagiante single que os apresentou à audiência da MTV (duvido que o transmitissem se fosse hoje...). O espectáculo não termina enquanto continuarmos a ser surpreendidos por faixas como o momento de maior aproximação ao grunge (seja lá o que isso for) que é “Set me straight” (era capaz de jurar que oiço a voz de Cobain no auscultador esquerdo) e “Joan of Arc” – maníaco de machado em punho em noite de matança. O álbum termina num moribundo devaneio de percussão onde toda a tribo (sim, o poltergeist de Cobain também lá está) mergulha num transe que resulta num exercício experimental curioso.
Houdini é certamente um dos mais conseguidos trabalhos da banda liderada por Buzz Osbourne (ou King Buzzo, se preferirem), e uma das mais pontiagudas pontas do icebergue underground de então. Já houve quem os baptizasse como fundadores do indie-metal. Concordo, se atender ao facto de que souberam aliar o peso do heavy-metal a uma sensibilidade indie, que passa por contornar a artificialidade (tão comum na música pesada) e evitar o pretensiosismo. Cá para mim julgo que era desejo secreto de Kurt Cobain poder juntar-se definitivamente aos Melvins. Aqui fica uma bela demonstração do que isso foi e do que poderia ter sido.
Miguel ArsénioComo que por magia, Houdini evade-se de convenções para, num manobrar ora vagaroso ora veloz, proporcionar aos seus ouvintes um grandioso espectáculo de riffs infalíveis e fuzz arrastado que, quando combinados com a voz macabra de Buzz Osbourne, resultam numa fórmula que seduz da mesma forma que a escuridão de uma cave. Provavelmente já se recordaram do slogan pessoano: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se.” Tal máxima assenta aqui que nem uma luva. Houdini empurra-nos para o charco de lama, onde, pouco tempo depois, já chafurdamos alegremente. A agressividade “sem espinhas” de “Hooch” cumpre como ritual iniciático, e a expressão de horror adensa-se com a paranóia sustentada pela hipnótica linha de baixo de “Night Goat”. “Lizzy” é o acumular de tensão a ser expelida num primitivo riff. Os mais atentos rapidamente darão conta do conteúdo bizarro das letras e um leve sotaque que parece só existir nos discos dos Melvins (exige-se um dicionário Melviniano – Inglês, portanto). “Going Blind” é uma versão dos Kiss e potencial alvo para quem optar por denegrir os Melvins como banda de metal para motoqueiros. Não o façam antes de escutarem “Honey Bucket”, o contagiante single que os apresentou à audiência da MTV (duvido que o transmitissem se fosse hoje...). O espectáculo não termina enquanto continuarmos a ser surpreendidos por faixas como o momento de maior aproximação ao grunge (seja lá o que isso for) que é “Set me straight” (era capaz de jurar que oiço a voz de Cobain no auscultador esquerdo) e “Joan of Arc” – maníaco de machado em punho em noite de matança. O álbum termina num moribundo devaneio de percussão onde toda a tribo (sim, o poltergeist de Cobain também lá está) mergulha num transe que resulta num exercício experimental curioso.
Houdini é certamente um dos mais conseguidos trabalhos da banda liderada por Buzz Osbourne (ou King Buzzo, se preferirem), e uma das mais pontiagudas pontas do icebergue underground de então. Já houve quem os baptizasse como fundadores do indie-metal. Concordo, se atender ao facto de que souberam aliar o peso do heavy-metal a uma sensibilidade indie, que passa por contornar a artificialidade (tão comum na música pesada) e evitar o pretensiosismo. Cá para mim julgo que era desejo secreto de Kurt Cobain poder juntar-se definitivamente aos Melvins. Aqui fica uma bela demonstração do que isso foi e do que poderia ter sido.
migarsenio@yahoo.com
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