DISCOS
Colder
Many Colours
· 30 Nov 2015 · 11:54 ·

Colder
Many Colours
2015
Bataille
Sítios oficiais:
- Colder
- Bataille
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2015
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2015
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Glamour depurado.
Está provado que, nesta era Le Revenantes, os mortos voltam à vida sem memória de terem morrido. Aqui não há margem para os zombies do pachorrento The Walking Dead. Falamos de gente que julgávamos mortos, enterrados, mas que agora voltam a caminhar saudavelmente entre nós como se o tempo não se tivesse passado. Com honestidade, passava pela cabeça de alguém há doze meses que Marc Nguyen Tan ou Ludvic Navare voltassem a caminhar entre nós tão imperturbáveis como Camille ou Victor voltaram a caminhar nas enigmáticas ruas daquela pequena cidade francesa que a série de Fabrice Gobert retrata no Canal Plus?
De Ludvic Navare já aqui fizemos juízo há dias. Indaguemos no que Marc Nguyen Tan agora apresenta volvidos dez anos sobre o seu último trabalho, Heat. E outra vez aquela pergunta inevitável: uma década depois, o que há a acrescentar aos mandamentos desta pop pessoalizada que continua depender espiritualmente dos ensinamentos de Ian Curtis e companhia?
Again e Heat tinham a particularidade – na era electro-clash que a Output liderou – de serem honestas, genuínas consequências da lapidação da linguagem pop perpetrada por um discreto ser mais interessado em dar alma a um passado que lhe era intrínseco em vez de se declarar como mais um reverenciador despudorado da velha escola punk-pop-indie-electro de 80. O projecto Colder tinha uma voz; algo de singular que lhe permitiu sobressair, mesmo que tenha passado boa parte do tempo a invocar os trejeitos anímicos de gigantes como Joy Division, Human League ou Depeche Mode. Era um exercício de estilo? Colder nunca o negou.
Sejamos escrupulosos, mesmo que a música seja apaixonante e suficientemente capaz de baralhar a objectividade. Numa expressão simples: Many Colours é um prolongamento do mesmo exercício de estilo; o depuramento do glamour; é o sentimento do que era; é uma renovada costura de um som com um corte muito preciso. Marc Nguyen não perdeu o jeito para melodiar melancolia – nunca sendo verdadeiramente frio ou deprimente. A sua voz mantém-se serena, ponderada, acolhedora.
Many Colours é, basicamente, um processo elementar de amadurecimento das ideias de Again e Heat. Nada acrescenta de pertinente ao habitual cozinhado do projecto. A música é segura – refinadíssima produção, grande classe. Mas Colder fica-se pela zona de conforto – desapontante ao final deste tempo todo. Tem, contudo, uma sólida vantagem. Entrando em comparações, Ghost Culture tentou ludibriar-nos no inicio do ano com uma amálgama drama-electro-pop com um suspeito pitch techno para impressionar. Entre essa experiência e Many Colours, seguramente estamos em melhor companhia do último. O morto que agora se ergue, e se limita ao seu digno passado, é, no mínimo, honesto no seu parcimonioso desfile pop. Não provoca. Nem irrita. Pacífico.
Rafael SantosDe Ludvic Navare já aqui fizemos juízo há dias. Indaguemos no que Marc Nguyen Tan agora apresenta volvidos dez anos sobre o seu último trabalho, Heat. E outra vez aquela pergunta inevitável: uma década depois, o que há a acrescentar aos mandamentos desta pop pessoalizada que continua depender espiritualmente dos ensinamentos de Ian Curtis e companhia?
Again e Heat tinham a particularidade – na era electro-clash que a Output liderou – de serem honestas, genuínas consequências da lapidação da linguagem pop perpetrada por um discreto ser mais interessado em dar alma a um passado que lhe era intrínseco em vez de se declarar como mais um reverenciador despudorado da velha escola punk-pop-indie-electro de 80. O projecto Colder tinha uma voz; algo de singular que lhe permitiu sobressair, mesmo que tenha passado boa parte do tempo a invocar os trejeitos anímicos de gigantes como Joy Division, Human League ou Depeche Mode. Era um exercício de estilo? Colder nunca o negou.
Sejamos escrupulosos, mesmo que a música seja apaixonante e suficientemente capaz de baralhar a objectividade. Numa expressão simples: Many Colours é um prolongamento do mesmo exercício de estilo; o depuramento do glamour; é o sentimento do que era; é uma renovada costura de um som com um corte muito preciso. Marc Nguyen não perdeu o jeito para melodiar melancolia – nunca sendo verdadeiramente frio ou deprimente. A sua voz mantém-se serena, ponderada, acolhedora.
Many Colours é, basicamente, um processo elementar de amadurecimento das ideias de Again e Heat. Nada acrescenta de pertinente ao habitual cozinhado do projecto. A música é segura – refinadíssima produção, grande classe. Mas Colder fica-se pela zona de conforto – desapontante ao final deste tempo todo. Tem, contudo, uma sólida vantagem. Entrando em comparações, Ghost Culture tentou ludibriar-nos no inicio do ano com uma amálgama drama-electro-pop com um suspeito pitch techno para impressionar. Entre essa experiência e Many Colours, seguramente estamos em melhor companhia do último. O morto que agora se ergue, e se limita ao seu digno passado, é, no mínimo, honesto no seu parcimonioso desfile pop. Não provoca. Nem irrita. Pacífico.
r_b_santos_world@hotmail.com
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